Mike Portnoy diz que sabe que “magoou seus amigos quando deixou o Dream Theater”

Mike Portnoy conversou com o “Q” na CBC Radio One, onde ele falou sobre a sua partida do Dream Theater anos atrás e como ele machucou seus amigos a tomar essa decisão. Ele diz:

“O engraçado é o seguinte. Quando saí do Dream Theater em 2010, saí porque estava esgotado de compor-gravar-turnê, compor-gravar-turnê, compor-gravar-turnê. Era um ciclo sem fim que já durava 25 anos para mim. E eu, sendo o controlador que eu era, supervisionava todos os elementos, não apenas a música, as letras, as melodias e a produção, mas também os produtos, os fã-clubes e tudo mais, o repertório. Então, era tudo abrangente, e eu estava esgotado. A maior ironia é que eu queria dar um tempo e chegamos a um ponto em que acabei saindo da banda porque precisava de um tempo. Mas a maior ironia de todas é que eu saí de lá e formei umas 87 bandas.”

Nos 13 anos em que estive fora do Dream Theater, fiz — sei lá — 50 ou 60 álbuns com dezenas de bandas e artistas diferentes. Então, a maior ironia é que, de repente, passei de compor-gravar-turnê, compor-gravar-turnê com uma banda, para agora fazer isso com uma dúzia de bandas e nunca ter uma pausa. E todo mundo, no começo, pensava: “Ah, achamos que você precisava de uma pausa”. E eu pensava: “Bem, talvez eu só precisasse de uma pausa do mundo do Dream Theater.

Fiquei muito inspirado fazendo todos esses álbuns com todos esses outros músicos que eu admirava e amava. E qualquer coisa que minha imaginação pudesse conceber, eu estava em ótima posição para realizar. Eu queria formar uma banda com o então guitarrista do Deep Purple, Steve Morse. Certo, formei uma banda com Steve Morse. Queria formar uma banda com Billy Sheehan e Richie Kotzen, do Mr. Big. “Certo, vamos fazer isso.” Queria fazer algo com a lenda da guitarra Tony McAlpine e com o ex-tecladista do Dream Theater, Derek Sherinian, ou fazer um álbum de thrash metal com os caras do Anthrax, Metallica e Megadeth. Qualquer coisa que minha imaginação pudesse pensar, eu era capaz de fazer com outras pessoas.

Então, sim, foi a década mais ocupada e frutífera de toda a minha carreira. E eu fui capaz de explorar tantos estilos musicais diferentes. Todo mundo meio que me conhecia como o cara da bateria de cem peças do Dream Theater, mas, de repente, eu estava fazendo rock clássico no estilo do Cream ou de [Jimi] Hendrix com o The Winery Dogs, ou thrash metal com o Metal Allegiance, ou até mesmo fazendo shows como músico contratado. Fiz uma turnê inteira com o Avenged Sevenfold. Juntei-me ao Twisted Sister para sua turnê de despedida… Eu sou a pessoa mais improvável que você poderia imaginar que conseguiria o show com o Twisted Sister. Mas acho que, na verdade, isso demonstra ainda mais meu gosto eclético.

Mesmo tendo feito meu nome com o Dream Theater, fazendo música progressiva no estilo da banda, ainda sou o maior fã dos Beatles que você já conheceu. Sou o maior fã do U2, o maior fã de Jellyfish. Então, sim, eu precisava expandir minhas asas musicais durante aqueles anos.

Portnoy ainda falou sobre o que teve de fazer para poder voltar ao Dream Theater. Ele diz:

Bem, o primeiro passo foi consertar os relacionamentos pessoais com os outros quatro caras da banda, porque sei que os magoei quando os deixei, e sempre me senti muito mal por isso. Tomei uma decisão que foi, essencialmente, muito egoísta: deixar a banda em… Tínhamos acabado de tocar no Madison Square Garden com o Iron Maiden, e então, tipo, um mês depois, eu saí da banda. Era como se tudo estivesse a todo vapor naquele momento, mas tomei uma decisão egoísta de que precisava coçar uma coceira, ou então teria me arrependido de não ter saído.

Adoro essa expressão: ‘É melhor se arrepender de algo que você fez do que de algo que você não fez’, e era mais ou menos onde eu estava. Foi tipo: ‘Cara, se eu não seguir meu coração e tentar outras coisas, vou ficar me perguntando para sempre o que teria acontecido se eu tivesse tentado’.” Então eu precisava fazer isso.

Mas, respondendo à sua pergunta: voltando, eu precisava consertar os relacionamentos pessoais com todos os caras e me redimir por possivelmente tê-los magoado. E isso aconteceu lentamente. Quer dizer, primeiro, eu e o guitarrista do Dream Theater, John Petrucci, começamos a sair socialmente. Nossas famílias são amigas. Nossas esposas costumavam tocar em uma banda juntas. Nossos filhos são amigos. Então começamos a nos reunir nos feriados e a fazer coisas com nossas famílias. E então, o mesmo aconteceu com o tecladista Jordan Rudess. Jordan e eu começamos a nos encontrar. E o baixista John Myung mora literalmente no fim do quarteirão onde eu moro, na Pensilvânia. Então, os relacionamentos pessoais precisavam ser consertados.

A peça final desse quebra-cabeça foi o vocalista James LaBrie, porque eu não falava com o James havia mais de uma década. Ele guardava rancor de mim, e eu tentei me redimir muitas vezes com ele, mas ele simplesmente não estava pronto. E então, no final de 2022, acho que foi, fui assistir ao Dream Theater em Nova York e pude ver James pessoalmente pela primeira vez, e, em um minuto, tudo se dissipou. Em um minuto, foram grandes abraços, beijos: “Eu te amo. Senti sua falta.” E toda aquela besteira que aconteceu por anos, todo o drama, imediatamente se dissipou. E foi isso.

Para ser honesto, mesmo naquela época, quando James e eu tínhamos feito as pazes, se alguém me perguntasse: ‘Você acha que voltaria ao Dream Theater?’, eu diria: ‘É… não sei se apostaria nisso. Não sei.’ E então começaram a surgir esses passos musicais que me fizeram sentir: ‘Ok, talvez isso seja inevitável’. Toquei no álbum solo de John Petrucci e fiz uma turnê com ele. Jordan, John e eu fizemos um terceiro álbum do Liquid Tension Experiment, junto com Tony Levin. Então começamos a dar esses passos musicais que me fizeram sentir: ‘Bem, talvez este seja o momento e o lugar’.

E estamos todos envelhecendo. Estamos todos na casa dos sessenta, e alguns caras já estão nos sessenta e poucos. E olhamos para o que aconteceu com o Rush. Eles fizeram sua turnê de 40º aniversário e depois se aposentaram, e cinco anos depois, o baterista Neil Peart se foi. Então, coisas assim nos fazem pensar: ‘Quem sabe quanto tempo nos resta aqui — pessoalmente ou coletivamente como banda?’

E com tudo meio que se encaixando entre nós, nos níveis pessoal e musical, fora do Dream Theater, começamos a sentir: ‘Talvez esta seja a hora’. E fico feliz que tenha acontecido, porque vejo histórias como a de Roger Waters, que nunca voltou ao Pink Floyd, ou a de Peter Gabriel, que nunca voltou ao Genesis, e eu sempre temi: ‘Espero que não seja o caso entre mim e o Dream Theater. Espero que um dia nos reencontremos e cavalgarmos juntos rumo ao pôr do sol, como deve ser.’ E é aí que estamos. Aqui estamos.”

O Dream Theater lançou no começo deste ano o seu primeiro disco desde o retorno de Mike Portnoy a banda, e a resenha você pode ler aqui.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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