Odin’s Krieger Fest e uma grande celebração de cultura folk

Texto por: Daniele Monteiro
Fotos: André Tedim

Mais do que um festival de música, o Odin’s Krieger Fest é realmente uma grande celebração de cultura folk.

Percebe-se isso logo ao entrar: não só nos estandes de exposições e produtos inspirados pelas culturas ali reunidas, mas, fundamentalmente, pela relação das pessoas entre si e com o festival. Muitas delas vestidas à caráter, batendo palmas, brindando com seus chifres e canecas, arriscando passos e fazendo rodas de dança de mãos dadas. É realmente algo muito bonito de ver.

Podem até dizer que é uma cultura “importada”, mas, pelo próprio tempo que está presente em terras brasilis, não é apenas a cultura das tavernas, das florestas e dos mares do norte, mas uma apropriação brasileira dessa cultura. O próprio festival nos mostra isso, já que se encontra na sua 15ª edição, e vem, desde 2011, trazendo bandas relacionadas ao folk, viking e afins, junto de exposições de itens e venda de produtos com a temática medieval.

O evento no Carioca Club estava muito bem organizado, com os estandes na lateral e fundo do ambiente principal da casa, além de toda a área lateral e externa. Itens temáticos de couro, bijuterias, roupas medievais, réplicas de espadas e drinking horns.

Além das opções de comida e bebida da casa (que excepcionalmente esta noite serviu hidromel), havia também hambúrgueres artesanais, pizzas veggie e bolos feitos com hidromel. Tudo com muito bom gosto, e fundamentalmente produzidos por artesãos e artesãs daqui.

Uma boa organização que refletiu também no palco, com as bandas, em sua maioria, subindo pontualmente, e sem grandes problemas de som – é preciso ressaltar uma nota da própria produção do evento que, ao parabenizar os técnicos de som brasileiros (trabalhadores por vezes pouco lembrados), explicou que a dificuldade de equalizar as primeiras músicas do Korpiklaani foi da própria equipe técnica da banda.

Por falar no palco, o Tunas Celtic Band entrou pontualmente às 19:00, mas até por conta do horário a casa ainda não estava muito cheia. Mesmo assim, o quarteto de violino, bandolim, violão e flauta, acompanhado por um percussionista, conseguiu agitar os presentes, tocando diversas canções escocesas e irlandesas, como “Silver Spear”, “Sally Brown” e “Queen of Argyll” (da banda folk Silly Wizard).

Duas canções irlandesas que também fizeram o pessoal que chegava ali entrar no clima foram “Whiskey in the Jar”, que teve versões gravadas pelo Metallica e originalmente pelo Thin Lizzy, e “The Rocky Road to Dublin” – que inclusive faz parte da trilha de Sherlock Holmes.

A banda terminou o show com excelência e levando boa parte do público a dançar.

Na sequência entrou o Eldhrimnir, uma banda de piratas de “alcooholic folk metal”, já conversando e brincando com o público. O vocalista e violonista Marcos, bastante carismático, puxa a primeira música, a conhecida “Caldeirão”, e todos cantam junto e agitam com ele.

A banda, que trazia também banjo, violino e bateria, focou no álbum “Bar do Fim”, lançado ano passado, seguindo com “Nós Nascemos Para Beber” e “Capitão”, que também foram cantadas em alto e bom tom.

A sintonia com o público é notória e um dos pontos altos do show foi quando o vocalista puxou uma “luta de convés” para delírio da plateia. Abriram uma grande roda, com direito a juiz e tudo. Nela, as pessoas entravam em duplas ao meio para se enfrentar e quem derrubasse o oponente com as costas no chão primeiro venceria.

Eles aproveitam para anunciar que o novo trabalho está em gravação, e seguem com “Mapa dos Bebuns” e “Bar do Fim”.

Antes de se despedir, ainda puxaram a saideira emendando “Bella Ciao”, ao que o público respondeu com uma grande roda. Belo encerramento.

Terceira banda da noite, a Taberna Folk entrou com um pequeno atraso, já que o tempo entre as bandas era bem curto. O quinteto de músicos muito versátil e já veterano nas estradas, desde 2008, se propõe a resgatar músicas folclóricas da Europa medieval, alternando belos coros de vozes a instrumentos pouco usuais como mandola, bandolin, gaita de fole, castanhola e harpa, aliados a flauta, violino, percussão.

 

O repertório é muito interessante, tocaram algumas músicas com tema folk e medieval – destaque para a segunda música da noite, cantada em latim, e para os covers da banda Focus (“House of the King” e “Hocus Pocus”) muito bem executados e adaptados aos instrumentos.

Todos ali são ótimos músicos, mas a destreza de Ricardo Amaro merece um destaque, tanto na gaita de fole como na hora em que toca duas flautas ao mesmo tempo.

A banda trouxe também um som próprio novo excelente, chamado “Under the Hammer”, bem aceito pelo público. Aliás, o público – que não queria que fossem embora no final da quase uma hora que tinham para tocar – ficou pedindo bis em coro. A banda acabou não fazendo o bis para não atrasar as demais, mas saíram de lá bem aplaudidos.

A noite seguia, a casa enchia, as pessoas bebiam, o clima era bom, e eis que sobe ao palco o Terra Celta. A banda de folk rock fundada em 2005 era largamente conhecida pelo público que, já na saudação, mostrou sua simpatia aos mestres precursores do estilo.

Com quatro apresentações no Rock in Rio no currículo, a banda domina os palcos como poucos e Elcio Oliveira, vocalista e multi-instrumentista merece um comentário à parte: seu carisma e performance são incríveis e remetem a um misto de Raul Seixas e Ney Matogrosso.

As músicas do quarteto, de influência marcadamente escocesa e irlandesa, com letras em português frequentemente falando sobre bebidas e natureza eram bem conhecidas do público, que cantava junto quase todas. Alguns destaques foram “Um Outro Lugar”, “Gaia” e, já entre as derradeiras, “Canção da Meia-Noite”.

Outras músicas que merecem destaque na apresentação foram “O Quadrado”, que contou com uma jam e um trecho de “Believer” no meio; e “Bruxaria”, em que o público acatou o pedido de Elcio para fazer rodas de dança circular e, de mãos dadas, circularam por todo o ambiente principal da casa enquanto ele tocava sua nyckelharpa.

Grande show com sintonia plena do público do início ao fim. Se você ainda não assistiu a Terra Celta ao vivo, não sabe o que está perdendo!

Passando alguns minutos da meia-noite, sobe no palco a banda mais aguardada da noite, os finlandeses do Korpiklaani.

A formação atual conta com Jonne Järvelä (vocal e guitarra), Kalle Savijärvi (guitarra), Olli Vänskä (violino), Jarkko Aaltonen (baixo), Sami Perttula (acordeon) e Samuli Mikkonen (bateria). O violinista Olli, que está desde 2022 com a banda, também toca em outra banda finlandesa bastante conhecida, o Turisas.

A banda já começa com o “Hey, hey, hey” da clássica “A Man with a Plan”, com todos os presentes animados e cantando. Eles emendam com “Wooden’s Pints”, que é do primeiro álbum da banda como Korpiklaani e, na sequência, o vocalista Jonne Järvelä conversa com o público e diz o quanto está feliz de voltar ao Brasil, já que a última visita da banda havia sido em 2015.

Eles seguem com “Happy Little Boozer” e “Journey Man”, com os integrantes sempre andando pelo palco e trocando de posição, principalmente Jonne e Sami, que interagem mais com as pessoas.

Mesmo com alguns problemas técnicos nas primeiras músicas (o som do vocal e do violino estavam prejudicados), os fãs pareciam não se importar tanto, pulando e cantando cada música.

Um dos auges do show foi quando o sexteto emendou três clássicos da banda: “Ievan Polkka”, “Jagermeister” e “Gotta Go Home”.

“Sanaton Maa” e “Ämmänhauta”, músicas mais melódicas, também foram bem aclamadas, com vários fãs arriscando o finlandês para cantar até o final.

Na segunda metade do show apareceram mais músicas do último disco da banda, intitulado “Jylhä”, como “Leväluhta”, “Pidot”, “Niemi” e “Huolettomat”. O público já parecia um pouco mais cansado pela duração do festival, mas boa parte seguiu cantando todas as músicas e agitando bastante, com destaque para “Tequila”, que animou os fãs e contou com um solo de bateria no final.

A banda encerrou quase às duas horas da manhã com as aclamadas “Beer Beer” e “Vodka”, com boa parte do público ainda muito animada, abrindo rodas e pulando.

E, embora aqui e ali se ouvisse comentários sobre o horário e a dificuldade das pessoas em voltar para suas casas sem metrô e trem, a alegria era generalizada. O que prova que o Odin’s Krieger Fest é um sucesso já bastante consolidado, com um público cativo importante e que entrega o que promete: uma festa da cultura folk, organizada e com elementos riquíssimos.

Vida longa ao festival! Skol! E até o ano que vem!

Setlist Korpiklaani:

  1. A Man With A Plan
  2. Wooden’s Pints
  3. Happy Little Boozer
  4. Journey Man
  5. Pilli On Pajusta Tehty
  6. Sanaton Maa
  7. Ievan Polkka
  8. Jagermeister
  9. Gotta Go Home
  10. Tuli Kokko
  11. Pidot
  12. Viima
  13. Kipumylly
  14. Leväluhta
  15. Niemi
  16. Kotikonnut
  17. Metsämies
  18. Ämmänhauta
  19. Saunaann
  20. Tequila
  21. Huolettomat
  22. Ennen
  23. Beer Beer
  24. Vodka

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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