“Pastora” Anette Olzon encanta, diverte e mata a saudade de paulistanos com sucessos dos tempos de Nightwish

Texto: Tiago Silva
Fotos: André Tedim

O que ouvi de alguns fãs de Nightwish e de Anette Olzon, a partir de conversas entre eles em diversos momentos da noite do último sábado (27), no VIP Station, Zona Sul de São Paulo, foram falas muito semelhantes a: “Eu nunca achei que a Anette fosse voltar aos palcos e o anúncio da turnê me surpreendeu muito”. E talvez seja por conta deste fator, uma volta ao Brasil após 13 anos, em carreira solo e com músicas que não cantava há quase dez, que o show da cantora sueca, carinhosamente apelidada pelos brasileiros de Pastora, que participou da banda de Metal Sinfônico finlandesa entre 2007 e 2012, se tornou um ponto tão especial naquela noite, que também contou com a abertura dos brasileiros do Magistry e foi organizada pela produtora Estética Torta.

A apresentação de Olzon envolveu as músicas dos discos que participou com o Nightwish:Dark Passion Play” (2007) e “Imaginaerum” (2011). Junto a ela, havia um quarteto brasileiro de músicos que executou muito bem as 13 faixas do setlist da turnê que, pelo Brasil, já tinha passado por Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Curitiba e Porto Alegre e que, por conta de problemas estomacais de Anette após o show de São Paulo, teve a data de Belo Horizonte (28) adiada devido a um mal estar estomacal da vocalista. 

Em geral, Anette não somente esteve em sintonia com a banda e cantou maravilhosamente as faixas na noite, como esbanjou carisma, felicidade e muita energia para cantar, dançar em momentos instrumentais de algumas músicas, se dedicar aos vocais mais delicados e interagir com os fãs a cada momento possível, seja pelo contato com a galera da pista premium, seja pelos discursos de agradecimento e contextualização de faixas. Anette também chamou Lya Seffrin, vocalista do Magistry, para cantar “Sahara” junto a ela, além de também dar espaço para o filho e aniversariante, Seth, discursar e puxar um grito em nome do apelido da mãe. 

O público, que lotou a pista premium e ocupou muito bem os setores de pista comum e mezanino, fez questão de cantar todas as faixas possíveis, incluindo até mesmo coros no tom da instrumental “Last of the Wilds” e, claro, sendo mais enfáticos em sucessos como “7 Days to the Wolves”, “Bye Bye Beautiful”, “Amaranth” e “Last Ride of the Day”. Tal sinergia e carinho mútuo entre a cantora e seus fãs foi essencial para tornar a noite ainda mais especial para ambos os lados.

Magistry

A banda curitibana de Metal Sinfônico, formada em 2022, esbanjou carisma e entrega durante a abertura do evento no VIP Station. Eles iniciaram o show às 19h41, após o atraso da abertura dos portões, com o apagar das luzes em um local cuja pista premium já se encontrava bem ocupada, enquanto o público da pista comum e mezanino chegava aos poucos.

Johan Wodzynski (bateria), Leonardo Rivabem (baixo), Thiago Parpineli (teclados), João Borth (guitarra) e Leonardo Arentz (guitarra, backing vocal) subiram ao palco em meio à cortina de fumaça presente no palco, iniciando o show com “Swing to the Circles of Time”. Lya Seffrin (vocal) foi a última a entrar, com destaque total com sua voz no palco. Apesar de todo o ânimo e entrega como ponto positivo inicial, a faixa foi prejudicada por problemas no volume das guitarras, que ficaram um pouco mais baixas e foram corrigidas ao longo da apresentação.

Alchemy of Inner World” deu sequência à apresentação, com boa parte do público acompanhando os pedidos por palmas rítmicas da banda e com uma sonoridade mais agitada e potente da bateria. Leonardo Arentz, inclusive, teve grande destaque pela voz, com guturais estridentes cantados na primeira parte da faixa. Em seguida, “Black Abyss”, trouxe um início instrumental mais longo, com ótima condução de todos os integrantes, uma boa alternância entre as vozes de Lya e Arentz (a incluir um grito ambiental e estridente do guitarrista, em alguns momentos) e, na reta final, um solo agudo de João Borth.

Em “Divine”, música mais lenta e com muito lirismo por parte de Lya, os membros da banda trouxeram até mesmo situações mais performáticas, junto a um instrumental impecável. Isso ficou mais evidente a partir dos movimentos da vocalista do Magistry e, claro, de um momento em que os dois guitarristas da banda se agacharam na metade da faixa. Houve, ainda, um trecho próximo ao fim da faixa em que a sonoridade puxou uma rápida pegada Black Metal a partir dos blast beats de Johan, das palhetadas dos guitarristas e o vocal ainda mais estridente de Leonardo Arentz. 

Para a reta final da apresentação, o Magistry trouxe “Me, The Moon and Venus”, música que foi acompanhada pelo público a partir dos flashes ligados em todos os setores. Além de linhas de baixo mais destacadas, o dueto Lya-Arentz funcionou muito bem com vozes limpas de ambas as partes (primeira parte) e com a alternância entre o lírico e gutural, na parte final da música. A última música foi “Lost Paradise”, indicada por Arentz como uma “música para pular e dançar” e tocada após um momento inusitado em que um fã da pista premium subiu ao palco para mostrar a camiseta do merchandising do Magistry. Nela, Thiago Parpineli foi muito bem em suas linhas gerais e principalmente no solo que executou, assim como a banda trouxe boa sonoridade e os últimos momentos de performance enérgica no palco, finalizados com um falsete incrível de Lya e viradas de bateria que trouxeram aplausos e ovações mais intensos do público presente e de quem chegou durante o show. 

Para o Magistry, a oportunidade foi muito bem aproveitada na capital e a apresentação trouxe impacto positivo ao público. E Lya ainda teria um momento muito especial mais à frente.

Anette Olzon

Pouco foi preciso ajustar no palco antes do começo do show principal. O maior foco da equipe foi no kit de bateria. Isso abriu margem para um ar de ansiedade maior na VIP Station, com momentos em que o coro de “pastora” ecoou a cada novidade possível, ou conforme chegava o possível horário do show.

Eis que, quase que em uma surpresa, as luzes do local se apagaram às 20h49 e uma introdução tocou. As entradas do baterista Kiko Lopes, do guitarrista Sanzio Rocha (Sepultura Legacy – Tributo ao Sepultura -, Harvest – banda cover de Nightwish – e The Vour), do tecladista Vithor Moraes e do baixista Filipe Duarte (Overdose) foram comemoradas, mas a explosão veio na entrada de Anette Olzon, emendada com o início de “Seven Days to The Wolves”. Já na primeira das 13 faixas da noite, Olzon mostrou todas as características que tornaram aquele show inesquecível para os fãs: voz impecável, altas doses de carisma, energia para cantar e dançar no palco e um contato constante com o público presente, que retribuiu cantando fervorosamente na faixa e durante o show. A banda, desde o começo, mostrou também a sinergia com a cantora e a qualidade sonora ótima, destacando os solos de Sanzio e os momentos de pedal duplo de Kiko.

O ritmo contagiante seguiu nas músicas “Story Time” e “Ghost River”. Em ambas as faixas, Anette seguiu dançante quando não precisou cantar, além de Filipe ter feito, pela primeira vez na noite, os backing vocals que originalmente são de Marko Hietala. Da mesma forma, os fãs da pastora cantaram juntos do início ao fim, situação que aumentou ainda mais com o clássico “Bye Bye Beautiful”, tanto nas partes de Anette, quanto nas cantadas por Filipe. “Amaranth” foi outro grande sucesso de sua passagem pelo Nightwish que foi amplamente cantado pelo público no VIP Station. Gritos de Hey ecoaram no local em certos momentos da faixa, assim como os coros de “Anette, eu te amo!” ao final da faixa.

A sexta faixa, “Rest Calm”, teve boas entradas de cantos de Anette e de backing vocal, da mesma forma que a constância sonora da banda se manteve em boa qualidade. Houve, ainda, um momento em que a cantora saiu do palco e deu mais destaque à banda, que executou o instrumental “Last of the Wilds” muito bem, com linhas de destaque dos teclados de Vithor e até um coro do público no tom da faixa, nos últimos minutos.

O momento mais calmo da noite veio com “Eva”, acompanhado não só pela voz dos fãs, como pelos flashes pedidos na faixa e que seguiram, com o apoio do filho de Anette, Seth, presente no backstage e que fez uma primeira (e pequena) entrada no palco, durante “Turn Loose the Mermaids”. Para ambas as faixas, a dedicação de Olzon foi ainda mais evidente, com muita dedicação e precisão nos cantos mais exigentes.

E como já havia citado no texto sobre o Magistry, Lya ainda teria um momento especial na noite. E ele aconteceu na música “Sahara”, quando Anette repetiu o feito de Curitiba e chamou a vocalista brasileira para cantar junto. A retribuição veio em um dueto muito bem executado, misturando a voz doce e fidedigna da sueca com o tom dedicado e forte de Lya, somados com uma performance dançante e divertida no palco que contagiou a banda e a plateia a ponto de acompanharem amplamente os gritos de “Hey, yah, way, yeah, yeah, yah, yah” que puxaram o final da faixa.

Kiko Lopes teve seu momento de maior destaque com um pequeno solo de bateria executado enquanto os demais membros da banda e Anette fizeram uma pequena pausa. O solo, muito aplaudido, foi rapidamente convertido em uma dinâmica introdutória para a próxima música, “The Poet and the Pendulum”, encerrando sua linha e esperando os fortes gritos de “hey” dos fãs, além de jogar baquetas para quem estava na pista premium. Com isso, os quase 14 minutos da faixa que abre o álbum “Dark Passion Play” foram muito bem executados, misturando uma performance energética e acompanhamento amplo do público nas primeiras duas partes, um momento mais calmo na terceira e sinfônica parte e mais energia nas duas últimas partes da música, incluindo bons solos de teclado e guitarra, uma condução bem cadenciada da bateria e muita entrega de Filipe tanto no baixo, quanto ao executar os backing vocals. Uma combinação perfeita para uma retribuição ampla e positiva ao final da faixa, com ovações e aplausos calorosos.

Nessa altura do show, os gritos de “Pastora” voltaram a ecoar no VIP Station, o que combinou perfeitamente com a chegada de “Meadows of Heaven”, faixa com teor mais nostálgico e na infância, porém com elementos que dão muita liga com uma música gospel, a incluir os cantos mais entoados e dedicados de Anette na reta final da faixa em questão, somados com o feeling absurdo do solo de guitarra, executado por Sanzio.

Anette ainda trouxe uma última surpresa antes da última música da noite. E ela veio a partir de seu filho e aniversariante do dia, Seth, que entrou de vez ao palco após uma contextualização em que Anette disse ter se sentido uma mãe muito ruim por perder muitos aniversários do filho por conta das turnês, mas que não aconteceria nesta vez. Ele, que mostrou como puxou o carisma da mãe, discursou e agradeceu a todos pela presença, agradeceu a mãe, deu para ela a bandeira do Brasil na qual estava envolto e pediu para que todos gritassem “Pastora” após a contagem, algo que fez duas vezes para garantir que os gritos fossem ainda mais altos na segunda vez e reforçasse a fidelidade da base de fãs paulistana com a sua mãe.

Assim, o clima ficou perfeito para um encerramento animado. E ele veio com “Last Ride of The Day”, outra grande faixa que, por curiosidade, foi o grande hino da Copa do Mundo de Hóquei no Gelo de 2012, realizado na Finlândia e na Suécia. A faixa, no VIP Station, virou uma verdadeira homenagem ao Brasil com o uso das luzes verdes e amarelas, a performance de Anette envolvida com a bandeira do Brasil e uma energia e ânimo tão intensos quanto no início da apresentação. O público, claro, também acompanhou do início ao fim da música, retribuindo muito bem essa volta de Olzon para São Paulo após tanto tempo.

O final do show veio como uma grande celebração geral, tanto dos agradecimentos de Anette para a base de fãs presente em São Paulo, quanto do público para ela. A celebração também passaria pela lembrança de Filipe Duarte a Pit Passarel, cujo falecimento fez um ano justamente no dia do show. 

Anette teve em São Paulo uma demonstração do amplo carinho que os fãs de Nightwish e da própria cantora têm com ela e, com certeza, a apresentação matou a saudade deles após 13 anos sem vir para o Brasil e, claro, numa primeira vez como artista solo. A noite com certeza foi inesquecível para todos, de Olzon à banda que a acompanhou, passando pelo Magistry e também por uma comemoração inesquecível por parte de Seth Olzon.

Uma pena, porém, que a passagem pelo Brasil não tenha sido completa – ao menos por enquanto -, uma vez que a vocalista passou por problemas intestinais no dia seguinte ao show de São Paulo e não pôde se apresentar em Belo Horizonte no dia 28, justamente o local onde também teve um problema anos atrás quando ainda vocalista do Nightwish e que levou ao desfecho que sabemos. Ainda assim, fica a esperança de que o show ocorra em breve, que encerre o que pode ser um ciclo muito bonito deste retorno de Anette aos palcos. E que bom que os brasileiros foram os primeiros a presenciar esse marco.

 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *