Paul Di’anno em São Paulo: o primeiro vocalista do Iron Maiden retorna para casa

Sábado, 04 de fevereiro de 2023 foi um dia histórico e emocionante para os fãs de Iron Maiden e de seu primeiro vocalista (a gravar com a banda), Paul Di’anno.

O show foi realizado no Carioca Club e a rua começou a se encher de fãs com camisetas da Donzela desde às 18 horas. As portas foram abertas às 19h e o primeiro show começou pontualmente às 20h. Não é qualquer músico que consegue encher o Carioca em São Paulo, o que demonstra a força do legado de Paul Di’Anno

Em uma noite de celebração para os fãs de metal, Di’anno voltou a São Paulo e trouxe duas bandas com músicos profissionais, carismáticos, responsáveis, talentosos e acima de tudo dispostos a dar o seu melhor para esta turnê ousada, extensa e cheia de dificuldades, aconteça com a melhor qualidade possível.

Às 20h a banda de hard rock Electric Gypsy subiu ao palco aquecendo o público com seu rock cheio de atitude e energia inspirado em bandas dos anos 70 e 80 como Mötley Crüe, Van Halen e Whitesnake. E para começar, mandaram “More Than Meets the Eye“, faixa presente no EP “Stars” lançado em 2023 com uma das capa cuja arte merece destaque por sua qualidade e beleza.

O vocalista Guzz Collins muito estiloso e carismático chamou o público: “Faz barulho aí São Paulo!”. Logo em seguida, a banda mandou “Nine Lives (Until I Die)”, canção presente em seu álbum de estreia “Electric Gypsy” lançado em 2021 e bem recebido pelas mídias especializadas. 

A terceira música “Heads Or Tails” foi dedicada ao amigo Bento Melo conhecido por muitos como o baixista da banda Sioux 66 e que aliás estava presente prestigiando os amigos mineiros. Anunciou “Hot For Teacher” do Van Halen que contagiou a todos. Durante esta performance, Guzz apresentou o baterista Robert Zimmerman

Senhoras e senhores, que plateia do ca$%&*#, hein, palmas pra vocês!

Além de elogiar a interação do público, Guzz deu um recadinho para o público lembrando que estavam disponibilizando merchan da banda que incluía CDs e uma camiseta com a belíssima arte do EP “Stars” e que a camiseta foi ilustrada pelo próprio guitarrista da banda, Nolas. Também deixou o convite para conversar e tomar umas depois do show. Logo em seguida, a banda tocou “The Devil Made me do It” outra música de seu álbum de estreia.

E aproveitando a energia boa do momento, apresentou seus companheiros de banda:

Ao meu lado esquerdo do palco, este belo exemplar de mineiro, Pete” (baixo).

“Do meu lado direito, nosso Eddie Van Halen mineiro, Nolas” (guitarra).

Meu nome é Guzz”. E chamou a plateia para cantar junto o clássico “Oh Yeah”.

As duas últimas músicas foram “Bad Boys”(Whitesnake) e “Shoot ‘em Down

Com um setlist empolgante e que levantou o público em São Paulo, os mineiros do Electric Gypsy terminaram o show um pouco antes das 21 horas.

No intervalo entre as bandas, os fãs puderam conferir os materiais das bandas disponibilizados à venda, como CDs, camisetas e copos e também alguns livros lançados pela editora Estética Torta.

Estética Torta é uma editora independente já bem conhecida pelos fãs de metal, pois tem em seu acervo livros incríveis com alta qualidade de impressão e belas capas.

Entre os lançamentos da editora está “Lords of Chaos” escrito por Michael Jenkins Moynihan e Didrik Schjerven Søderlindque e que é um item imprescindível não somente aos que se interessam pela história do black metal, mas por todos que gostam de saber mais sobre influências e gêneros musicais.

Outros itens que não podem faltar na coleção de um fã de metal são os livros escritos pelo autor croata Stephan Juras. “Killers” e “Fear of the Dark” contém histórias do Iron Maiden, curiosidades, influências, trechos de entrevistas e muito mais.

 A parceria entre Stephan Juras e a editora Estética Torta é responsável por realizar a missão de trazer Paul Di’Anno ao Brasil em uma turnê ousada com mais de 30 shows e permitir que os fãs brasileiros possam acompanhar o ex vocalista da maior banda de metal da história em sua jornada de recuperação.

Stephan estava presente no show em São Paulo e falou um pouco aos fãs com a interpretação, quase simultânea, do vocalista da banda Noturnall, Thiago Bianchi:

Quero apresentar esse cara aqui a pedido do Paul. Esse é o cara que pegou o Paul e pagou todo o tratamento dele. Um croata chamado Stephan Juras. Ele reconciliou o Paul com o Iron Maiden. Ele vai falar um pouquinho com vocês”.

Stephan Juras:

“Como vocês estão, povo bonito?  Meu nome é Stephan Juras, talvez vocês me conheçam como o escritor dos livros do Iron Maiden. Talvez  vocês não saibam, mas Paul Di’anno passou um ano e meio na Croácia. Nós tentamos ajudá-lo a se curar. Esta turnê não é uma turnê de retorno aos palcos, esta turnê é uma missão. É a última parte no processo de recuperação do Paul. Ele estava no hospital, seu joelho já está completamente recuperado, a operação foi um sucesso, tudo está bem. Agora, nosso principal esforço é fazê-lo continuar até o final do processo de recuperação e se há alguém no mundo que possa demonstrar amor ao Paul são as pessoas do Brasil. Vocês são os melhores, e esta turnê é a prova disso. 31 shows no Brasil. Além disso, esta turnê será filmada e fará parte de um documentário sobre Paul Di’anno, por isso, demonstrem como são loucos por ele. Estamos aqui também por que nosso querido Paul precisa que vocês o ajudem comprando os materiais das bandas, livros, camisetas e CDs, pois desta forma, vocês o ajudam na última fase de sua recuperação já que uma boa parte do valor adquirido com a venda destes materiais irá diretamente para a recuperação dele. Por favor, nos ajudem e ele poderá tranquilamente estar andando em 2 ou três meses. Não se esqueçam que esta bonita turnê sustenta as bandas e a equipe. Fiquem orgulhosos das bandas brasileiras e comprem suas músicas. Tentarei levá-lo à Europa em agradecimento, pois são realmente bons”.

Stephan Juras foi calorosamente aplaudido e os fãs gritaram seu nome.

Thiago Bianchi completou:

Sacaram?  Isso é uma troca. O Brasil é muito especial e hoje a gente provou. O que a gente vai fazer aqui hoje é história. Nenhum outro lugar do mundo está fazendo o que estamos fazendo aqui hoje e isso é graças à vocês”.

Thiago Bianchi, músico, produtor e vocalista da banda Noturnall fez questão de lembrar as parcerias, os apoio e também foi realista ao dizer que esta turnê está sendo difícil e exigindo muita resiliência, esforço e comprometimento dos músicos.

O show do Noturnall teria sido perfeito não fosse o fato de terem entrado sem o som no microfone do Thiago. A banda subiu ao palco pontualmente às 21h, mas teve de fechar as cortinas novamente para resolver esta questão técnica. Foram apenas 4 minutos, mas para os fãs angustiados parecia mais. Um imprevisto que foi resolvido rapidamente e a banda retornou para reiniciar o show.

A espera valeu a pena e logo de cara já mandaram “Try Harder” música que faz parte de seu último trabalho e quarto álbum da banda chamado “Cosmic Redemption”. Thiago, afinadíssimo, já engatou “No Turn at All”, faixa do álbum de estreia da banda lançado em 2013 e que contava com Aquiles Priester na bateria.

Com o público interagindo bastante empolgado com a alta performance da banda, a música seguinte foi a potente “Fight the System” do álbum “Back to Fuck You Up” lançado em 2015. A música traz trechos das músicas “Capítulo 4”, “Versículo 3″ e “Diário De Um Detento” dos Racionais, rappers que dispensam apresentação.

Antes de mandar a música seguinte, o vocalista disse que o começo do show foi tão difícil como tem sido esta turnê toda. “Difícil pra ca$&¨*#, igual a tudo nesse país, mas parece que quanto mais a gente toma porrada, mais a gente quer ir pra cima. Tipo brasileiro, manja? A gente tem pouco tempo, o homem vem aí daqui a pouco, então vou falar pouco e tocar bastante. Conto com a ajuda de vocês. Essa música se chama “Wake up”. Foram muito aplaudidos.

Na sequência teve “Thunderstruck” cover de AC/DC e o público cantou junto esse clássico do metal. Poucos cantores têm a potência vocal de Thiago Bianchi e ele se doa completamente no palco. Realmente é um privilégio ver um frontman tão dedicado quanto ele. Ao final, aproveitou a oportunidade para promover o mais recente trabalho da banda “Cosmic Redemption” e depois jogou um CD para os fãs. Também lembrou que tudo que fazem é bancado através da venda de seus materiais e pediu aos fãs que se dirigissem à banquinha após o show.

O que estamos fazendo aqui é por vocês. São 32 shows. Só não vamos passar em 3 estados do Brasil. É por vocês. Esta música é do nosso novo disco e se chama “Reset the Game .

Na sequência foi a vez de “Scream For Me”, mas antes Thiago apresentou seus companheiros de banda: o guitarrista Léo Mancini que está participando da turnê como convidado, o baixista Saulo Xakol e o baterista Henrique Pucci.

E pediu a ajuda dos fãs para cantarem a música respectiva, pois sem o público interagindo, ela não faz sentido nenhum. E a plateia correspondeu cantando junto o refrão que foi gravada com a participação especial do grande Mike Portnoy. Noturnall é uma banda de metal progressivo ousada e dedicada que conta com muitas participações especiais. “O Tempo Não Para”, música originalmente gravada por Cazuza e recentemente lançada pela banda com a participação do inigualável Ney Matogrosso, foi cantada em uníssono no Carioca. A banda encerrou o show com bastante energia e vigor às 22 horas com “Nocturnal Human Side”.

Um show quase perfeito, com um vocalista fora da comum, uma banda excepcional com um baterista que merece destaque, pois além de tocar com sua banda, ainda tocou com o Paul Di’Anno e sabemos como é extenuante tocar em um show de metal, imagine em dois na mesma noite? Realmente são músicos extraordinários e muito profissionais que merecem reconhecimento por sua dedicação, suor e energia contagiante.

Entre o final do show do Noturnall e a entrada de Paul no palco se passaram 50 minutos. Neste intervalo, Stephan Juras falou, o DJ foi xingado por estar tocando uma playlist completamente aleatória e que não agrada a nenhum fã de Iron Maiden, acredite, ele mandou Wonderwall do Oasis e outros sons Nu metal e achou que passaria despercebido. Foi também a oportunidade para o grande público presente adquirir os materiais das bandas e comprar os livros, ajudando assim a cumprir a missão de recuperação do Paul. 

Às 22h50, com apoio da equipe técnica, o enfermeiro e outros músicos que vieram oferecer suporte, Paul Di’Anno estava finalmente, após longos 8 anos, de volta à sua casa no Brasil.

Um dos momentos mais emocionantes na vida de vários fãs de metal foi ver a cortina se abrindo e o lendário vocalista do Iron Maiden, o cara que fez uma legião de fãs se apaixonarem pelo metal, diante deles. 

Emocionante por que todos os mais de 1.200 fãs presentes acompanham a carreira de Paul e sabem de sua batalha após anos com graves problemas de saúde, que continua debilitada. Sua condição física exige cuidados e quem já passou por uma cirurgia entende perfeitamente que os cuidados pós-operatórios são muito importantes.

A emoção dos fãs, a recepção calorosa, e o fato de Paul ser ovacionado e recebido com carinho pelo público em São Paulo é um momento histórico para gerações de fãs. O amor do headbanger pelo metal é algo extraordinário. A admiração e o respeito dos fãs paulistas por Paul Di’Anno é marcante.

Pensei que fosse alguma sensibilidade maior minha quando meus olhos se encheram d’água, mas olhei para os dois lados e vi homens adultos, com cabelos grisalhos, tatuagens do Maiden, acompanhados de seus filhos, também emocionados.

Enquanto Paul se desculpava porque sua voz teimava em falhar apesar de seus esforços, eu ouvia atrás de mim: “Se você não puder cantar, a gente canta por você, Paul”.

E foi assim, com os fãs cantando junto com Paul Di’Anno em todas as músicas que o show em São Paulo aconteceu.

A banda que acompanhou Paul no show no Carioca foi absolutamente esplêndida. Além de terem tocados com suas respectivas bandas no início da noite, Henrique Pucci na bateria, Léo Mancini e Nolas nas guitarras e Saulo Xakol no baixo ainda tocaram novamente demonstrando profissionalismo, dedicação e muito vigor. Eles foram acompanhados pelo guitarrista Chico Brown de sobrenome e família famosos. Filho de Carlinhos Brown e Helena Buarque de Holanda, o músico que é bastante eclético participou do show trazendo habilidade com a guitarra e muito carisma.

Logo de início a banda já tocou “Wrathchild” e levantou a energia do público que claro, cantou a letra inteira em uníssono. Paul, empolgado com a receptividade e o calor do momento, também tentou cantar. Assim que a música terminou, ele foi ovacionado e todo mundo gritou “Paul! Paul! Paul”.

E em sua primeira interação com os fãs disse: Estou tão feliz de estar de volta a São Paulo. Senti saudades de vocês, motherfuckers! Não pude vir ao Brasil nos últimos 8 anos. Mas agora que estou aqui, minha voz está fodida. Me esqueço que na europa de onde venho é inverno e na América do Sul é verão, estou cheio de alergia, fucking hell. Vocês vão me ajudar a cantar esta noite, não vão?

E gritou anunciando “Wrathchild”, que haviam acabado de tocar, mas os fãs foram compreensivos e levaram numa boa rindo e dizendo que aquela já tinha ido. 

A banda, de novo, merece todo o destaque, pois além de garantir que o setlist fosse executado, ainda incentivaram o Paul a continuar. Principalmente o Xakol  e Chico Brown que estavam ao lado do cantor no palco.

“Purgatory” e “Drifter” levaram os fãs à loucura. 

Melhor cantar mal do que cancelar o show” disse Paul, enquanto tomava água de coco e tentava resgatar o que podia de sua voz para interagir com o público. 

Ao final destas músicas, Paul pedia desculpas e colocava a mão no rosto. Ouvi um fã dizer: “Tadinho, quero abraçar esse cara.” E o show seguiu nesse clima de carinho, compreensão e a banda e os fãs executando o setlist planejado. O show seguiu com “Remember Tomorrow” em homenagem àqueles que se foram durante a pandemia de Covid, incluindo seu amigo, o guitarrista braslileiro Paulo Turin.

Frustrado com sua falta de voz, Paul como o rebelde que sempre foi, acendeu um cigarro e começou a fumar no meio do show enquanto a banda e o público davam conta da missão e levaram até o fim, o show que teve as músicas “Killer”, “Transylvania”, “Charlotte, the Harlot”,Phantom of the Opera”, “Prowler”, “Running Free” e para encerrar, “Iron Maiden”.

O vocalista brincou com o público sobre futebol e afirmou sua paixão pelo West Ham e pelo Corinthians. Também precisou da ajuda do enfermeiro, pois sua perna estava doendo. Sofreu com o calor brutal. E agradeceu: “Sabe aquele dia em que você quer chorar? Hoje é esse dia. Obrigado Deus!”.

Provavelmente, os fãs teriam continuado cantando em uníssono com a banda até bem depois da meia-noite, mas Paul visivelmente cansado, pediu que o enfermeiro o levasse até o canto do palco e com isso o show se encerrou à meia-noite e a cortina foi fechada enquanto o homem era aplaudido calorosamente por um longo tempo.

O nome desta turnê é “The Beast is Back” e tem em seu setlist os álbuns “Iron Maiden” e “Killers”, músicos profissionais dedicados e talentosos, o esforço de profissionais da equipe técnica que trabalham nos bastidores, o enfermeiro que acompanha o cantor, a parceria entre um escritor croata e uma editora brasileira independente e tudo isso por dedicação e amor ao metal. 

O legado do primeiro vocalista do Iron Maiden atravessa gerações, nos emociona e nos lembra porque somos fãs tão dedicados da música pesada.

A turnê ainda vai percorrer muitas cidades no Brasil e minha recomendação é que você também tenha essa experiência. Já vi muito show nessa vida, mas raríssimas foram as vezes em que fiquei emocionada, principalmente em um show de metal. Não é apenas um show, uma turnê, é a celebração de um legado. 

Viva a experiência única de cantar junto de bandas incríveis, ouvir as músicas de alguns dos melhores álbuns de metal da história e contribuir com a missão da recuperação de Paul Di’anno. 

A seguir, você encontra o setlist das bandas e as datas dos próximos shows da turnê de Paul Di’anno no brasil em 2023.

Electric gypsy:

  • More than meets the eye
  • Nine lives
  • Heads or tails
  • Hot for teacher (Van Halen)
  • The devil made me do it
  • Bad boys (Whitesnake)
  • Shoot ‘me down

Noturnall:

  • Try harder
  • No turn at all
  • Fight the system
  • Wake up
  • Thunderstruck
  • Reset the game
  • Scream for me
  • O tempo não para
  • Nocturnal human side

Paul Di’anno, banda e público:

  • Wrathchild
  • Purgatory
  • Drifter
  • Remember tomorrow
  • Killer
  • Transylvania
  • Charlotte, the harlot
  • Phantom of the opera
  • Prowler
  • Running free
  • Iron Maiden

No site da editora Estética Torta você encontra a agenda de shows e locais onde adquirir os ingressos.

Nosso agradecimento a editora pelo credenciamento! 

FOTO DESTAQUE: Paty Sigiliano

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