Pearl Jam: 26 anos de Yield

Há 26 anos, mais precisamente em 3 de fevereiro de 1998, o Pearl Jam lançava “Yield”, o quinto álbum da sua carreira. Foi uma tentativa relativamente bem sucedida de voltar a praticar o Rock que consagrou a banda no início da década. Este álbum é tema do nosso bate-papo por aqui hoje.

Apesar de bom, o álbum esbarrou na falta de técnica sobretudo do baterista Jack Irons, que simplesmente destruía cada oportunidade que ele tinha de fazer bonito e abrilhantar as músicas. O baterista Dave Abbruzzese fazia muita falta. Este foi o último álbum a contar com a participação de Irons, que cedeu lugar para Matt Cameron, titular das baquetas do Pearl Jam até os dias atuais.

Após toda a tentativa de se auto sabotar, com um disco completamente experimental que foi “No Code“, a queda de braço com a gigante Ticketmaster, que monopolizava a venda de ingressos nas arenas, fazendo com que a turnê promocional do álbum anterior fosse bem curta. O Pearl Jam parece ter aprendido que não adianta muito brigar contra o sistema. Eles voltariam a produzir um videoclipe com a música “Do the Evolution”, ainda que a banda não aparecesse, pois trata-se de um desenho animado. Concentraram se apenas na música e o resultado foi muito bom.

A banda também parece ter superado a crise interna que quase causou a separação, quando Eddie Vedder tomou a frente e passou a decidir o futuro da banda, algo que não lhe cabia, uma vez que o guitarrista Stone Gossard e o baixista Jeff Ament são os criadores do Pearl Jam. O álbum contou com a participação de todos os membros no processo de composição. Assim sendo, o quinteto se juntou ao produtor Brendan O’Brien e todos entraram em dois estúdios: “Studio Litho” e no “X”, ambos em Seattle, durante os meses de fevereiro e setembro de 1997. Desta vez O’Brien deixava de assinar sozinho a produção, já que a banda também ajudaria na co-produção. O produtor afirmou que a banda já chegou ao estúdio com todas as músicas já prontas. Jack Irons falou sobre o período em estúdio. Aspas para ele:

“Não impusemos nenhum limite de tempo. Foi como, ‘Quando este álbum estiver pronto, nós o chamamos de álbum.’ Reservamos um tempo para criar sons e sentimentos ideais para cada música, para que cada uma tivesse sua própria identidade. Cortávamos uma faixa, voltávamos, ouvíamos e discutíamos abertamente.”foi um disco superdivertido de fazer. E muito disso foi Ed meio que sentado.”

18 canções foram gravadas durante as sessões do Yield.  As canções “Leatherman” e “U” foram lançadas como B-sides, “Happy When I’m Crying” apareceu no single de Natal da banda em 1997 e “The Whale Song” foi usada para uma compilação de 1999 intitulada Music for Our Mother Ocean 3. Vamos passear pelas faixas do aniversariante do dia.

Brain of J.” abre o disco e é um baita rockão. Não, não vamos ter mais músicas com aquele punch dos tempos de “Ten” e “VS.”, mas não dá para não se empolgar com esse som. Um baterista melhor deixaria a música ainda mais agradável, já que o som que Irons tirava de seu kit era irritante. Porém se a gente se atentar nos bons riffs de Stone Gossard e Mike McCreaddy, além das boas linhas de baixo de Jeff Ament, a experiência auditiva fica melhor.

Faithfull” é outra grande canção, embora completamente diferente da faixa que abre o play, ela tem um clima mais intimista e no meio dela, ganha traços progressivos. “No Way” é mais calma, porém é uma música densa e aqui eu destaco as linhas de baixo de Jeff Ament, de longe o músico mais talentoso da banda.

A polêmica chega com “Given to Fly,” que descaradamente copia os acordes de “Going to California”, do Led Zeppelin. A diferença está no refrão, onde a música ganha peso. Mesmo com esse plágio, a música não é ruim. “Wishlist” é uma balada muito bonita e Mike McCreaddy executa um bom solo.

A sequência de baladas se dá com “Pilate”, a diferença é que essa ganha uma pegada mais forte no refrão. Os efeitos nas guitarras soam interessantes. O Rock and Roll cru retorna com “Do the Evolution”, que se tornou o grande hit do disco, alavancado pelo videoclipe que a banda não lançava desde “Jeremy”, em 1991. A letra inteligente, trata da evolução humana.

Aí temos o experimentalismo que a banda passou a adotar desde o álbum “Vitalogy”. Uma faixa dançante, que nada tem a ver com o estilo do Pearl Jam, cuja composição é de… Jack Irons. É ridícula, mas é tão breve que nem dá tempo de pular. O título da faixa é um desenho de um círculo vermelho, em algumas ocasiões é chamado de “The Color Red”.

O Rock volta com “MFC”, uma das minhas favoritas deste play. Ela é simples e até tem um certo tom melódico. Na sequência, outra balada, “Low Light”. Certinha, bonitinha. Nem fede nem cheira. “In Hiding” é bem legal e tem um clima bem intimista, flertando entre partes progressivas e balada.

Push me Pull me” é outra pertencente ao grupo das experimentais, mas não chega a ser chata. A novidade é que aqui Eddie Vedder recita a letra ao invés de cantar. Musicalmente, ela soa bem pop. “All Those Yesterdays” fecha o play e ainda que seja uma música melancólica, é uma bela canção e Eddie Vedder se destaca pela sua perfeita interpretação. O final ganha contornos épicos e o disco assim se encerra. Se não é um clássico como os três primeiros, é bem honesto.

Deixando a bolacha rolar por mais algum tempo, aparece uma faixa escondida, batizada de “Hummus”, que é um folk tocada apenas com guitarras sem distorção. Em 48 minutos temos um Pearl Jam bem menos apático do que no disco anterior e já moldando seu som para entrar nos anos 2000 se distanciando ainda mais do Rock que praticava, enveredando no Progressivo.

Yield” ganhou esse nome em referência à placa de trânsito que aqui no Brasil conhecemos como “dê a preferência”. Inclusive a imagem desta placa ilustra a capa, com uma foto tirada por Jeff Ament, em uma estrada a caminho de sua casa, em Montana. O álbum vazou na internet em dezembro de 1997, depois que quando a estação de rádio WKRL- FM, de Nova Iorque tocou uma cópia antecipada do disco, levando os fãs que gravaram e replicaram as músicas então inéditas na internet. Era o advento da grande rede mundial de computadores e quem tem mais de 30 anos vai lembrar dos tempos de downloads, que foi o início do fim das vendas de discos.

O aniversariante do dia estreou na posição número 2 na “Billboard 200”, ficando pela primeira vez de fora do topo, que na época ficou com a trilha sonora do filme Titanic. Depois, o álbum foi perdendo posições. Ainda assim, teve desempenho melhor do que o anterior e foi certificado com disco de platina pela RIAA (Estados Unidos) e também na Austrália, Nova Zelândia e na Espanha. Foi certificado com Disco de Ouro na Holanda, Reino Unido e Polônia. Nos charts a redor do mundo, ficou no topo no México, Nova Zelândia, Austrália e Noruega, 2° no Canadá, Portugal e na Itália, 3° na Bélgica e na Suécia, 4° na Áustria, Finlândia, Holanda e Alemanha, 6° na França e na Suíça.

Foi na turnê de “Yield” que o Pearl Jam lançaria seu primeiro disco oficial ao vivo, “Live on Two Legs”, lançado em novembro daquele ano de 1998 e já com Matt Cameron na bateria.

Enfim um bom disco que vale a pena ter na coleção caso o leitor seja admirador de um bom Rock and Roll sem muitas firulas. E é bom ter bandas como o Pearl Jam na cena, que não tem medo de dar a cara para bater, que se preocupa com as causas sociais e principalmente, abomina políticos fascistas. E nós estamos cheios de fascistas ao redor do mundo. Por mais bandas com o mesmo engajamento político e social que o PJ. Eddie Vedder e seus parceiros de banda realmente entenderam o espírito do Rock and Roll e merecem todos os confetes. Enquanto a banda não lança seu novo álbum, a gente celebra mais um aniversário deste “Yield“.

Yield – Pearl Jam
Data de lançamento – 03/02/1998
Gravadora – Epic

Faixas:
01 – Brain of J.
02 – Faithfull
03 – No Way
04 – Given to Fly
05 – Wishlist
06 – Pilate
07 – Do the Evolution
08 – The Color Red
09 – MFC
10 – Low Light
11 – In Hiding
12 – Push me Pull me
13 – All Those Yesterdays
14 – Hummus (faixa escondida)

Formação:
Eddie Vedder – vocal/ guitarra
Stone Gossard – guitarra
Jeff Ament – baixo
Mike McCreaddy – guitarra
Jack Irons – bateria

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