Pearl Jam: 31 anos de “Vitalogy”

Há 31 anos, em 22 de novembro de 1994, o Pearl Jam, a mais sucedida das bandas de Seattle e que conseguiu fazer sucesso mesmo com todas as tentativas fracassadas de auto sabotagem, lançava “Vitalogy“, o terceiro álbum de sua vasta discografia e que é tema do nosso bate-papo por aqui neste sábado. 

Importante ressaltar que o registro tem duas datas de lançamento: em 22 de novembro, fora lançada a versão em vinil; E em 06 de dezembro, as versões em CD e fita cassete. Então nos atentaremos à primeira versão lançada. E aqui, as músicas do lado A são de excelente qualidade, enquanto que o lado B tem uma pegada mais experimental. No primeiro momento o álbum se chamaria “Life“, sendo depois trocado para o título pelo qual é conhecido. 

Podemos dizer que os três primeiros discos do Pearl Jam são a “Santíssima Trindade” da banda, pela qualidade sonora destas obras. Os dois primeiros álbuns representaram um estrondoso sucesso comercial e o terceiro disco, tem algo do que foi apresentado nos dois álbuns anteriores, acrescentado de muito experimentalismo. Talvez reflexo da fase que a banda vivia naquele momento. 

Apesar do sucesso e da ascensão, as coisas não andavam muito bem para a banda: eles deixaram de produzir videoclipes para a MTV, também não concediam mais entrevistas, entrou em uma quebra de braços com a Ticketmaster, empresa que domina as vendas de ingressos em boa parte das casas de shows nos Estados Unidos. A situação entre a banda não era boa, tanto que o baterista Dave Abbruzzese fora demitido durante as sessões por “não lidar bem com o sucesso”.

A saída não foi nada amigável, pois Dave Abbruzzese não foi sequer chamado quando a banda foi nomeada no Rock N’ Roll Hall of Fame. E esse ano ele foi bem enfático quando os fãs encheram suas redes sociais sugerindo que ele voltasse à banda, e disse que essa possibilidade não existe. 

Talvez os integrantes do Pearl Jam não estivessem preparados para o “boom” que a sua música provocaria e no sucesso absoluto que eles alcançariam, tanto de vendas, como de apresentações e os clipes veiculados à exaustão. E isso, influiu no resultado final de “Vitalogy”. O sucesso incomodava absurdamente a banda, mas de nada adiantou. O Pearl Jam só crescia ainda mais, mesmo com a reclusão. 

Eddie Vedder, que era o letrista principal, resolveu tirar da dupla Stone Gossard e Jeff Ament a exclusividade das composições. Ele trouxe boas ideias, mas também tem coisa que poderia não ter entrado. Vedder assumiu o controle de quase tudo, o encarte do disco ele reproduziu de um livro de medicina que fora comprado por ele em um sebo, além também de ter passado a tocar guitarra a partir deste momento. Anos mais tarde foi revelado que esse controle que Eddie Vedder decidiu tomar sobre a banda quase acabou com a mesma. Stone Gossard pensou em sair e Mike McCreaddy aproveitou para entrar em uma clínica de reabilitação. Seu vício em drogas e álcool estava no ápice. Jack Irons entrou na banda já na parte final da gravação, e na prática ele gravou somente a faixa derradeira, “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)”. A faixa “Satan’s Bed” foi gravada pelo técnico de bateria de Dave Abbruzzese, Jimmy Shoaf. A razão era que o então titular da bateria estava em um procedimento cirúrgico para remoção de suas amígdalas. Ou seja, era uma bagunça pura e tinha tudo para dar errado. 


Apenas um mês depois do lançamento de “VS”, a banda começou a intercalar shows e sessões de gravações. Isso perdurou entre novembro de 1993 e outubro de 1994. Eles se reuniram em 4 estúdios: Bad Animals, em Seattle, Southern Tracks e Doppler Studios, ambos em Atlanta, além do Kingsway, em New Jersey. O produtor Brendan O’ Brien teve muito trabalho para que “Vitalogy” fosse concluído. Algumas fontes dizem que o álbum ficou pronto ainda no início de 1994, porém, a Epic atrasou o lançamento propositalmente. 

As letras são bem pessoais e Eddie Vedder tenta de alguma forma expressar sua pressão com a fama e o quanto a privacidade lhe é/ era importante, que ele fala explicitamente nas músicas “Not for You“, “Pry, To“, “Immortallity” e “Bugs“. Quando fez as pazes com a imprensa, o frontman do Pearl Jam deu uma declaração. Aspas para ele:


“Sou totalmente vulnerável. Sou mole demais para todo esse negócio, toda essa viagem. Não tenho nenhuma casca. Há uma contradição aí, porque provavelmente é por isso que posso escrever músicas que significam algo para alguém e expressar algumas dessas coisas que outras pessoas não podem necessariamente expressar.”

Vedder também prestou uma homenagem aos discos de vinil, o que fica bem explícito na faixa “Spin the Black Circle“, onde alguns podem erroneamente interpretar como uma ode ao uso de drogas injetáveis, já que ele inicia cantando “see this needle/ see my hand (N. do R: veja essa agulha, veja minha mão, em tradução literal), ele se refere à agulha do toca-discos. Há espaço também para uma mensagem pró-aborto, que a banda sempre apoiou. Em “Whipping“, Vedder se inspirou em uma carta que médicos abortistas enviaram ao então presidente Bill Clinton. Para desespero do fã brasileiro conservador. 

Em “Corduroy“, Eddie fala de como é sua relação com um milhão de pessoas. “Better Man” fala sobre um relacionamento abusivo, mostrando que o Pearl Jam sempre esteve à frente de seu tempo, preocupado com o bem-estar comum, com as mulheres e as minorias de maneira geral. Ele trouxe essa música de sua antiga banda, a Bad Radio e ela se chamava “Stand By“. 

Dando play no álbum, foi aqui que o Pearl Jam deu início aos experimentalismos em suas composições. Há uma variedade de estilos, que torna o disco muito diferente dos dois primeiros. A influência Punk sobressaí, mas há espaço para outros subgêneros musicais, como o Jazz, em “Pry, To“, e outras esquisitices como em “Aye Devanita” e “Hey Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)“, esta última, inclui loop reais de pacientes de hospital psiquiátrico. Em “Bugs“, Eddie toca um acordeon, que ele comprou em um brechó. 

Vitalogy” tem quatorze canções e duração de 55 minutos. Músicas como “Better Man” (que quase entrou no álbum “VS.”, mas foi retirada na última hora) e “Corduroy” são os hits do álbum, que ainda tem músicas boas como “Last Exit“, “Spin the Black Circle“, “Not for You“, “Tremor Christ“, “Nothingman“, “Whipping” e “Immortallity“, que muitos acreditavam ter sido escrita por Eddie Vedder em homenagem à Kurt Cobain, fato que o vocalista já desmentiu. 


Enfim, um bom álbum, que encerrou a fase áurea e colocou a banda em um período obscuro e que gerou uma crise de criatividade, ainda que eles tenham lançado um bom disco como banda de apoio de Neil Young. Mas depois disso, a banda até lançou álbuns razoáveis, mas nunca mais soou como aquele Pearl Jam que todos conheceram, cuja sonoridade a própria banda fez questão de se afastar com o passar dos anos. 

A banda fez poucos shows nos Estados Unidos, então a turnê foi concentrada em shows pela Ásia e Oceania. Dos poucos shows nos Estados Unidos, um acontecimento inesperado. Em junho de 1995, o Pearl Jam iria tocar em San Francisco, porém, Eddie Vedder sofreu uma intoxicação alimentar e por conta disso, acabou sendo substituído por Neil Young, nascendo aí a parceria que rendeu o álbum “Mirrorball“.


O álbum vendeu mais de 5 milhões de cópias, mesmo com a banda se isolando com o boicote à Ticketmaster. Foi certificado com Disco de Ouro na Holanda, Polônia, Espanha e Reino Unido; Platina na Nova Zelândia, três vezes Platina na Austrália, cinco vezes Platina no Canadá e seis vezes nos Estados Unidos. Só perde em número de vendas na primeira semana para seu antecessor, “VS.”. Nos charts mundo afora, alcançou o topo na “Billboard 200“, também na Austrália, Irlanda, Nova Zelândia e Suécia; 2° no Canadá, 3° na Finlândia, 4° na Dinamarca, Portugal e Reino Unido, 5° na Escócia, 7° na Áustria, Holanda e Noruega; 8° na Alemanha, 11° na Espanha, 17° na Suíça, 22° na França e 28° no Japão. Vitalogy foi ainda indicado ao Grammy Awards de 1996 nas categorias “Álbum do ano” e “Melhor Álbum de Rock“. Não venceu, mas mereceu muito. 

O Pearl Jam segue em plena atividade, porém, a banda sofreu com a saída de Matt Cameron, que ficou por 27 anos como baterista. Até o momento, não há pistas de quem será o seu substituto. No ano passado, Eddie Vedder passou por um grave problema de saúde, o que fez com que ele próprio temesse por sua vida. Mas ele já se encontra recuperado e felizmente a banda ainda toca hoje em dia, muitas músicas do nosso aniversariante. Hoje é dia de celebrar esse belo álbum. 


Vitalogy – Pearl Jam

Data de lançamento – 22/11/1994

Gravadora – Epic

 

Faixas:

01 – Last Exit

02 – Spin The Black Circle

03 – Not For You

04 – Tremor Christ

05 – Nothingman

06 – Whipping

07 – Pry, to

08 – Corduroy

09 – Bugs

10 – Satan’s Bed

11 – Better Man

12 – Aye Devanita

13 – Immortallity

14 – Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)

 

Formação:

Eddie Vedder – vocal/guitarra/acordeon

Stone Gossrad – guitarra

Jeff Ament – baixo

Mike McCreaddy – guitarra/ violão

Dave Abbruzzesse – bateria (exceto em “Satan’s Bed” e “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)”/ baixo e tremolo em “Aye Devanita

Jack Irons – bateria em “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)”

 

Participações especiais:

Brendan O’Brien – piano/ órgão 

Jimmy Shoaf – bateria em “Satan’s Bed”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

2 thoughts on “Pearl Jam: 31 anos de “Vitalogy”

  • novembro 22, 2025 em 9:22 pm
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    ¨Podemos dizer que os três primeiros discos do Pearl Jam são a “Santíssima Trindade” da banda, pela qualidade sonora destas obras.¨!!!! Também concordo, hoje em dia o som do Pearl Jam não consegue superar os clássicos…esse é o mal das maiorias das bandas de rock/metal!!!! Vitalogy cheio de fatos e histórias marcantes, gosto de algumas músicas desse album!!!! Bons tempos de Dave Abbruzzese no Pearl Jam, um dos meus bateras preferidos!!!!! Valeu!!!!

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