Público carioca prestigia Mr. Big, Sebastian Bach e Jelusic em shows com problemas no som
Texto: Carlos Monteiro
Foto: Carla Cristina
Em noite de side shows do festival Summer Breeze Brasil, realizado em São Paulo dias antes, o Rio de Janeiro recebeu de braços abertos as apresentações de Jelusic, Sebastian Bach e Mr. Big, marcadas por performances enérgicas, mas também com problemas de som que perduraram ao longo dos sets.
Encaixado poucos dias antes da apresentação, o show do Jelusic atraiu a atenção do ainda pequeno público que estava presente no Vivo Rio neste domingo, quando o vocalista Dino Jelusic e sua banda entraram às 19h45. Com sua famosa voz potente, logo que entrou o croata começou a sinalizar para a mesa de som aumentar seu retorno e volume do vocal, repetindo o gesto ao longo de quase toda a apresentação. Uma pena porque realmente o volume que chegava para a plateia estava baixo, privando o público de atestar ao vivo um dos principais atributos da banda.
Mesmo não sendo exatamente o mesmo estilo musical das outras atrações da noite, o hard/heavy/prog do quarteto foi bem recebido pelos cariocas. Junto do guitarrista Ivan Keller, o baixista Luca Brodaric e o baterista Mario Lepoglavec, Dino Jelusic executou algumas das canções mais marcantes do álbum “Follow the blind man” (2023), como “Acid Rain”, “Fly High Again” e a balada “The Great Divide”, além de “Fade Away” de sua antiga banda Animal Drive, entre outras.
Como o próprio Dino já havia comentado no palco, a plateia estava ansiosa para a entrada do segundo show da noite, liderado pelo carismático ex-vocalista do Skid Row, Sebastian Bach, ausente do Rio há 11 anos, quando fez o penúltimo show do palco Sunset, do dia 19 de setembro de 2013, no Rock in Rio, abrindo para Rob Zombie.
Se, naquela ocasião, o som da apresentação tivesse sido um fiasco, também dessa vez Tião (como é carinhosamente chamado pelo público brasieiro) enfrentou problemas, chegando a interromper o show no início de “Rattlesnake Shake”, reiniciando a canção quatro vezes. Mas a noite estava ganha com a plateia, já em maior número, embora com menos da capacidade do local, e que recebeu bem a abertura do show com a nova “What do I got go lose?”.
Em seguida vieram vários clássicos de sua ex-banda, numa sequência de tirar o fôlego com “Big Guns”, “Sweet Little Sister” e “Here I am”. Logo depois, Sebastian Bach anunciou, com seu famoso jeito engraçado e carinhoso de falar português que a próxima seria a canção que “começou tudo”: “18 and Life”, seguida ainda do petardo “Piece of Me”.
Por falar também em fôlego, aos 56 anos Sebastian já não alcança todas as notas e, quando precisa dar um agudo mais alto, dá uma parada antes, pulando algumas partes das letras para conseguir executar os gritos. Nada que o desabone, pois a presença de palco, a simpatia e as dancinhas continuam todas lá, tornando o show muito divertido.
E, para ninguém sentir falta do segundo e mais pesado álbum do Skid Row, a faixa título “Slave to The Grind” (cuja capa do álbum era o painel do fundo palco) gerou a catarse de sempre no público, com outros bons momentos do disco: a inesperada “The Threat”, o hit “Monkey Business” e um trecho à capela de “Wasted Time”, seguida pela clássica balada “I remember you”, do primeiro álbum dos “skids”. Nesse momento, Sebastian lembrou de artistas já falecidos, como Eddie Van Halen, Lemmy Kilmister e Joey Ramone, para então brincar citando o baterista Marky Ramone e fingir vergonha ao lembrar que “este ainda está vivo”.
Um cover de “Tom Sawyer” do Rush e o famoso encerramento com “Youth Gone Wild” fecharam o segundo show da noite, com a plateia ganha e muitos gritos de “Tião”, na esperança que o louro (com seus cabelos devidamente pintados) não demore tanto para voltar ao Rio.
Às 22h45 daquele domingão, era chegada finalmente a hora da grande atração da noite. Ver os virtuosos Billy Sheehan (baixo), Paul GIlbert (guitarra), Eric Martin (vocal) e o baterista contratado Nick D´Virgilio entrarem no palco e já iniciarem “Addicted to That Rush” é como ver quatro diabos da Tasmânia serem soltos para detonarem tudo.
Mesmo que a voz de Eric já tenha tido dias melhores, e o ajuste de som da casa como já dissemos não estivesse dos melhores, é sempre um prazer ouvir o seu timbre agradável e a leveza com que conduz a apresentação. Falar bem de Billy e Paul é chover no molhado e Nick cumpre bem seu papel também, em substituição ao saudoso Pat Torpey, falecido em 2018 devido a complicações decorrentes da doença de Parkinson.
E tome clássicos executados com a maestria e energia que só o Mr. Big consegue fazer: “Daddy, Brother, Lover, Little Boy”, “Alive and Kickin’ e “Green-Tinted Sixties Mind”, esta com sua linda iluminação verde. Não puderam faltar também as baladas “Just take my heart”, “To be with you” e “Wild world”, lembrando que principalmente as duas últimas foram o principal motivo do sucesso gerado pela banda entre o público, graças à MTV, na década de 90.
O visual de Eric com os cabelos desarrumados e camisa de flanela vermelha e preta, Billy com seus parcos cabelos pintados de roxo e Paul com visual de professor universitário (camisa social, gravata fina e óculos) foram um detalhe engraçado, assim como a execução do cover “Good Lovin´” (The Olympics) em que cada um pegou um instrumento diferente para executá-la: Eric no baixo, Billy no vocal, Paul na bateria e Nick na guitarra.
As enérgicas “Road to ruin”, “Colorado Bulldog” e “30 days in the hole”, esta do Humble Pie, foram pontos altos da apresentação, que fechou com mais um cover, “Baba o´riley”, do The Who. Era o final de um domingo que trouxe a certeza de se ter vivenciado três grandes exemplares de um rock que atrai um público pequeno, porém fiel, no Rio. Uma pena que, ao final, a casa já não estivesse com todos os presentes, talvez por ser domingo ou necessidade de encontrar transporte público ainda disponível.
Mesmo assim, em tempos que o festival mais famoso do Rio traz pouquíssimos exemplares de rock, os side shows do Summer Breeze trouxeram um alívio aos cariocas e a torcida por mais shows desse tipo em terras praianas.