Sting “faz chover” hits de carreira solo e The Police em noite quente no Parque Ibirapuera, em São Paulo

Texto: Tiago Pereira

Sting “faz chover” hits de carreira solo e The Police em noite quente no Parque Ibirapuera, em São Paulo

Apresentação contou com 23 músicas, duas delas em um medley, e marcou o retorno do cantor, baixista e ator ao Brasil após oito anos

Fãs de The Police e do vocalista e baixista Sting estiveram presentes na área externa do Auditório Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo, no dia 16 de fevereiro, e receberam uma verdadeira “chuva” de hits em meio a uma tarde e noite de calor no local. O evento, organizado pela Live Nation, marcou a segunda das três datas da turnê “Sting 3.0” em solo brasileiro e, além disso, contou também com a presença do baterista Chris Maas e do guitarrista Dominic Miller na composição da banda que tocou com Sting.

As quase duas horas de apresentação contaram com um setlist de 23 faixas – duas delas em uma só: os clássicos “Can’t Stand Losing You” e “Reggatta de Blanc” – que enfileirou sucessos de Sting tanto nos tempos de The Police, com faixas dos cinco álbuns de estúdio lançados pela banda, quanto de sua carreira solo. E o cantor não decepcionou em momento algum, executando muito bem as linhas de baixo e, mesmo com algumas faixas em tons menores, cantando muito bem ao longo da noite.

O público, mesmo com as altas temperaturas da tarde e do início da noite daquele domingo, compareceu em peso nas duas pistas e cantou boa parte das faixas junto a Sting. Apesar de uma distância longa da pista comum para o palco, era possível ouvir os coros vindos também de lá, assim como o público da pista premium animou na voz, nas palmas organizadas pelo frontman e nos pulos, em músicas com teor mais animado ou que fossem sucessos maiores.

Pré-show

O ambiente do Auditório Ibirapuera, ao menos da entrada para dentro das pistas, era absolutamente calmo. Os impactos da onda de calor eram visíveis, a destacar muitas pessoas sentadas, bebendo algo de óculos escuros ou até mesmo usando leques – o último, no caso, mais por parte das mulheres – para gerar um vento frio. Há uma hora e meia do show, a pista premium já estava bem ocupada, mas não cheia. Lotou mais ao longo da noite e a proximidade do palco foi menor conforme as pessoas se levantavam após um tempo sentadas, sendo esse outro artifício para não se cansarem rapidamente. Já a pista comum foi um fator no qual eu não consegui observar de onde estive, uma vez que a área ficava relativamente longe e separada pela área técnica (luz e som, muito provavelmente).

Já os pontos de distribuição de água, ao menos a uma hora e quinze minutos do show, tiveram um fluxo relativamente baixo. Porém, houve um momento em que os bombeiros tiveram que levar os copinhos gratuitos ao público, que educadamente passavam para trás conforme havia pedidos de fãs com braços levantados.

Ao longo do tempo de espera, as caixas de som do palco reproduziram músicas que transitavam entre o Soft Rock, New Wave, Rock Psicodélico, Grunge, Punk Rock, Pop Punk, entre outros, a destacar músicas como “Come as You Are”, do Nirvana, “Purple Haze”, de Jimi Hendrix, “Longview”, do Green Day, “Mercy Me”, do Alkaline Trio, e “What’s My Age Again”, do Blink-182, que foram alvo de danças e cânticos tímidos de parte do público.

O clima pré-show do palco era de uma configuração praticamente impecável, uma vez que os únicos testes, de guitarra e baixo, não duraram muito tempo e também não foram transmitidos no PA do show. Logo, a ansiedade do público foi sanada rapidamente e, às 19h34, pouco mais de dez minutos após os merchans e alertas da organização, o show finalmente deu início.

A “chuva de hits” de Sting

O apagar da iluminação geral trouxe, em seguida, o destaque para os canhões e refletores de luz instalados na parte superior do palco, inicialmente com a luz azul. Chris Maas, baterista luxemburguês, foi o primeiro a entrar no palco, seguido do guitarrista argentino e naturalizado britânico, Dominic Miller. Ambos foram bem saudados pelo público, mas não mais que ao alto nível das aclamações direcionadas a Sting, a partir do momento em que entrou no palco e saudou o público.

“Message in a Bottle”, um dos maiores hits do The Police e que abre o disco “Reggatta de Blanc” (1979), deu início ao setlist de 22 faixas – uma delas sendo um “meio a meio” de duas músicas – da apresentação. As linhas do baixo de Sting seguiam impecáveis e em sincronia com a voz do artista, que preferiu uma performance corporal mais contida desde o início. Já nas pistas, um coro fervoroso do público somado ao pular de parte dos fãs, no primeiro refrão, e o acompanhamento ao longo da faixa.

Em seguida, sob a contagem do vocalista – e que aconteceu antes do início de outras músicas do setlist – outra faixa que abre um álbum, desta vez da carreira solo: Sting cantou “If I Ever Lose My Faith in You”, do aclamado LP “Ten Summoner’s Tales” (1993). Ela veio num tom um pouco diferente da versão de estúdio, porém de modo a manter o impacto lírico da faixa, principalmente nos refrões mais altos por Sting e sua mensagem sobre a esperança em manter a fé em algo ou alguém, mesmo em meio a desilusões sobre religião e ideologias. O público, atento ao refrão impactante, também ajudou nas palmas e nos gritos de “hey” após o segundo refrão. E foi nessa faixa, inclusive, que Gordon apresentou seus companheiros de turnê e deu espaço para Dominic Miller concluir a faixa com um simples e belo solo de guitarra.

Sting trouxe uma pegada dançante aos fãs com a mistura de Reggae, Rock e Pop de “Englishman in New York”, faixa do segundo disco solo do baixista e cantor, “…Nothing Like The Sun” (1987). Não somente as danças tímidas do público eram visíveis, como o coro voltou nos refrões e as palmas se fizeram presentes no rápido momento de batidas fortes que havia no meio da faixa. É neste momento do show, inclusive, que o telão central – ao fundo do palco – ficou mais destacado, com a aparição de arranha-céus que representavam a cidade estadunidense citada na música. Sting, por fim, trouxe a primeira de suas interações com os fãs, ao instigar a repetição do verso “Be yourself, no matter what They say” no final da faixa, demonstrando uma impressão positiva com o amplo retorno que recebeu e, além disso, a ausência dos elementos de Jazz na versão ao vivo da música foi convertida em mais um belo solo de guitarra de Miller.

Os ânimos do público se mantiveram no alto com mais um clássico do Police. “Every Little Thing She Does Is Magic”, do disco “Ghost in the Machine” (1981). O bom misto de Reggae Rock com New Wave seguiu a encantar fãs que, em partes, cantavam, dançavam, pulavam ou faziam os três ao mesmo tempo, de alguma forma. O telão central, com uma arte abstrata em movimento, foi ofuscado pela forte iluminação amarela no palco, durante a faixa.

Depois da quarta faixa, Sting fez um dos poucos discursos ao longo do show, destacando uma saudação em língua portuguesa: “Obrigado! Eu estou muito feliz de estar aqui com vocês!”.

O frontman trouxe um momento mais calmo ao show com “Fields of Gold”. Os fãs mais fiéis ao músico seguiram a cantar, enquanto o ambiente reflexivo da faixa foi ilustrado com o que pareciam janelas de uma igreja, devido ao design de abóbada na parte de cima. Dominic Miller teve outro destaque com um solo que contou com mais feeling do que uma linha mais desenvolvida, algo que combinou completamente com a música em questão. Em seguida, houve a única representação do álbum “Sacred Love” (2003), com a faixa “Never Coming Home”, em que a sonoridade ao vivo tentou ser a mais próxima possível de um Pop a partir das linhas de bateria de Chris Maas e da técnica de Tapping de Miller ao longo da faixa, além de um Sting que sentou em um banco e também se concentrou no baixo. Este, inclusive, foi o primeiro momento em que as imagens dos telões laterais e do telão central foram as mesmas, ou seja, dos músicos tocando, em meio a pequenos efeitos de contorno.

A maior surpresa do show foi “Synchronicity II”, a primeira do disco final do The Police, “Synchronicity” (1983), a ser tocada na noite e, curiosamente, a primeira vez que Sting e seus parceiros de turnê a reproduziram em 2025. O misto de New Wave e Post-Punk, somado a um telão central com referências visuais ao álbum que marcou o auge e o fim repentino da banda, levaram o público a um novo nível de nostalgia. Tanto Sting quanto Dominic fizeram linhas instrumentais de destaque, além de o vocalista ser impecável nos gritos de “IOOOOoo” que compõem determinados momentos da música, assim como na repetição do verso “Many miles away”, já no final dela.

“Mad About You”, do disco “The Soul Cages” (1991), retomou o show a um ritmo mais lento e, por ambas as partes – banda e público -, um clima mais tímido, porém momentâneo. Já em “Seven Days”, o frontman faz questão de agitar os presentes novamente com um pedido de palmas rítmicas, no meio das palmas pós-faixa anterior, que se emendam para o início desta faixa. destacada por um refrão que citou os sete dias da semana em meio a uma metáfora da corrida contra o tempo.

As palmas rítmicas também encerraram a faixa anterior e, assim como na dinâmica inicial, também emendaram para a faixa seguinte, “Why Should I Cry For You?”. O ritmo ainda calmo fez a combinação com a letra, cujo tema envolve usar de uma viagem marítima para assimilar com uma viagem aos sentimentos depois de uma perda ou término. Houve, então, a dobradinha do álbum “The Soul Cages” com a chegada de “All This Time”, um Pop Rock também introspectivo e cujo primeiro verso do refrão, “And All This Time, the river flowed”, foi o pico vocal de Sting e do público ao longo da faixa.

Sting puxou uma sequência com três músicas do The Police – sendo uma delas, um medley de duas faixas -,, a começar com “Wrapped Around Your Finger”, num ritmo mais pautado para o New Wave e com elementos do Reggae. As ótimas linhas de baixo do frontman do trio foram o destaque da faixa, somado às velas acesas que apareceram no telão central. “Driven to Tears”, única representante do terceiro disco da banda, “Zenyatta Mondatta” (1980), manteve a mesma pegada musical, desta vez com o destaque para Dominic Miller e suas linhas de guitarra, além das mãos que apareceram e mudaram de pose ao longo da faixa.

Já o medley trouxe mais da mistura de Reggae, Post-punk e New Wave. A primeira música foi “Can’t Stand Losing You”, primeira da noite a representar o disco de estreia do Police, “Outlandos d’Amour” (1978), que contou com mais da ótima sonoridade dos músicos de Sting – e suas poderosas linhas de baixo – e a predominância das luzes amarelas. Porém, quando a faixa virou para “Reggatta de Blanc”, que leva o nome do disco de 1979, Sting novamente chamou o público para os gritos de “Eeyo-eeyay, eyyayo” presentes em grande parte da faixa e que, após a última vez, transformou o palco do Auditório Ibirapuera em um verdadeiro – e frenético – show de luzes brancas, trazendo o que foi o momento de maior intensidade instrumental e visual da apresentação.

Chegou, então, o momento de “Shape of My Heart”, outro grande sucesso de Sting nos anos 1990, do álbum “Ten Summoner’s Tales” e que, para os mais jovens que não a conhecem por nome, é a música usada como base para o sample de “Lucid Dreams”, do rapper Juice WRLD (1998-2019). Luzes vermelhas e brancas foram predominantes no palco, somadas ao movimento de cartas de baralho no telão central. Das pistas, o maior coro da noite surgiu e tornou aquele momento ainda mais bonito. O trio também tocou “I Wrote Your Name (Upon My Heart)”, single avulso de Sting lançado em 2024 e cuja foto de divulgação é a mesma da base de divulgação da atual turnê do cantor. O cantor e baixista chegou a cantar num tom menos rouco e mais limpo, comparado com a sua voz na versão de estúdio.

Em seguida, vieram mais dois sucessos dos primórdios de The Police: “Walking the Moon”, mais um ótimo som com influências Reggae Rock e Dub sob um belo refrão e imagens do Espaço com estrelas verdes, somadas com a volta das dinâmicas de “Ee-yo” com o público ao final da faixa; e o misto perfeito de Reggae Rock e New Wave de “So Lonely”, que levou os fãs a mais um momento de catarse, com coro da maioria e pulos de uma parte nos refrões, além de palmas na reta final da faixa.

Sting e seus companheiros também tocaram “Desert Rose”, faixa que tem a participação do músico argelino Cheb Mami e que é conhecida por compor a trilha sonora internacional da novela “O Clone”, transmitida entre outubro de 2001 e junho de 2002 pela TV Globo. Apesar de um tom diferente na versão ao vivo, toda a sonoridade pautada nos elementos da música árabe seguiu de forma intacta, em meio a uma “psicodelia” de figuras no telão central. A música em questão foi a única do disco “Brand New Day” (1999) a ser tocada no setlist.

O trio trouxe outra dupla de faixas do The Police, especificamente do disco “Synchronicity”, antes da pausa. A primeira foi “King of Pain”, em que a bateria de Chris Maas e o solo de guitarra de Dominic Miller, já no final, foram bons destaques. Somado a isso, a doce voz de Sting foi um “carro-chefe” durante sua execução. Tudo isso em meio a imagens mais “obscuras” no telão, que compunham paisagens diversas em filtros azuis e preto e branco. Já a segunda foi justamente “Every Breathe You Take”, que começou praticamente emendada na anterior e que levou o público a mais uma viagem no tempo. Sting a cantou de forma impecável em um palco totalmente iluminado, apesar da temática obsessiva e observatória da letra.

O frontman aproveitou para apresentar Chris Maas e Dominic Miller novamente, antes de repetir o final de “Every Breathe You Take” num ritmo mais agitado. Foi como uma “despedida antecipada”, já que os músicos agradeceram e fizeram a famosa reverência de fim de show. Talvez dê para entender o termo entre aspas mais à frente, no texto.

A pausa dos músicos é rápida só deu para alguém puxar o clássico “mais um” como coro daquele momento. Sting, Maas e Miller voltaram ao palco já preparados para as duas últimas faixas do setlist. A primeira delas foi outro hit histórico do The Police, “Roxanne”, que levou o público a mais um agito com coros e pulos – o segundo caso ocorreu principalmente nos refrões -. Um dos roadies do grupo chegou a entrar no palco, no meio da faixa, para ajustar um problema na bandoleira de Sting, mas nada que tenha atrapalhado toda a condução da faixa.

Por fim, Sting cantou “Fragile”, segunda faixa da noite que representou o disco “…Nothing Like the Sun” e que finalizou o show com ele no violão. A música, num acústico calmo e “frágil” como o nome e o tema da letra – a fragilidade humana -, trouxe um tom calmo ao fim do show, com linhas leves do violão e guitarra, além de linhas muito suaves da bateria. Um prato cheio para as últimas expressões do público, que acompanhou o refrão em coro e tornou aquele encerramento ainda mais bonito.

Ao final, Sting e seus companheiros agradeceram timidamente, diferentemente do que ocorreu antes do bis. E dessa forma, o público, que esqueceu parcialmente do calor e se “refrescou” com os hits do vocalista e baixista, saiu aos montes das pistas, o que levou à saída a ter picos de aglomeração, mas sem incidentes preocupantes. Noite mágica para os fãs tanto somente de The Police, que sentem saudades da formação da banda, quanto da carreira solo do frontman e, claro, de quem gosta de ambas as trajetórias do britânico.

Veja o setlist:

Message in a Bottle (The Police)
If I Ever Lose My Faith With You
Englishman in New York
Every Little Thing She Does Is Magic (The Police)
Fields of Gold
Never Coming Home
Synchronicity II (The Police)
Mad About You
Seven Days
All This Time
Wrapped Around Your Finger (The Police)
Driven to Tears (The Police)
Medley: Can’t Stand Losing You / Reggatta de Blanc (The Police)
Shape of My Heart
I Wrote Your Name (Upon My Heart)
Walking the Moon (The Police)
So Lonely (The Police)
Desert Rose
King of Pain (The Police)
Every Breathe You Take (The Police)

Encore:
Roxanne (The Police)
Fragile

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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