O Rock And Roll está vivo…aos 81 anos!
Texto por: Tarcísio Chagas
Eu confesso que nunca fui fã dos Beatles ou do Paul McCartney. Apesar de entender que sua banda original foram os criadores de muita coisa no mundo da música, nunca fui aquele fã de carteirinha, mas um dos meus primeiros discos que ganhei ainda moleque da minha saudosa mãe, foi um ao vivo pirata bem mequetrefe dos Beatles com um som pavoroso e então tenho um certo afeto pela banda em si, acho que muito pela lembrança da dona Neide.
Quando Marcio Machado (Redator-Chefe do Confere Rock) disse que iria pedir o credenciamento para o show do Paul McCartney no Maracanã, eu topei de imediato, sem dar muita importância, mas com a confirmação que estaríamos no Maracanã como imprensa e o dia do show se aproximando, comecei a sentir aquele frio na barriga que só os grandes eventos ainda me trazem…
Ao chegar ao maior do mundo, percebi uma mistura pouca vista entre o público. Eram crianças com menos de 10 anos, adolescentes, pessoas na faixa dos 30/40, senhores de meia idade como eu e muitos idosos, o que me deixou muito feliz e ao mesmo tempo preocupado por causa do calor absurdo constante na capital fluminense, mas graças ao bom Deus, o tempo resolver ficar ameno e tudo transcorreu sem maiores incidentes.
Às 21h00 em ponto, Sir Paul entrou ao palco ao lado de uma banda super competente ao som de “Can’t Buy Me Love” com todos presentes enlouquecidos com um dos primeiros hits dos 4 de Liverpool e parecia que iria ser aquele show com hit após de hit, mas não foi o que aconteceu, pelo menos nessa primeira parte do show. Preferi não checar o set-list antes do show para poder ter uma experiência diferente, com surpresas e se eu não sou um fã dos Beatles e da carreira do velho Macca (81 anos!), conheço bastante os seus álbuns e o que tivemos foram muitas músicas do Wings, sua banda nos anos 70 como “Junior’s Farm” e “Let Me Roll It” que são ótimas e que apesar do respeito, deixaram o show um pouco morno, só mudando com a lindíssima “Maybe I’m Amazed” da sua carreira solo e que, a partir daí, colocaram o show nos trilhos.
Uma surpresa foi a SENSACIONAL “My Valentine” dedicada à sua esposa atual, Nancy Shevell, e com direito a “presença” nos telões dos atores Johnny Depp e Natalie Portmann traduzindo em libras, tais como nas duas versões do videoclipe, a letra de um dos melhores momentos dessa noite e mostrando que o Paul não perdeu a mão nas suas “novas” (essa é de 2012) composições.
“Love Me Do” foi tocada com toda banda em um espaço reduzido do palco, bem intimista, funcionando muito bem, para na sequência termos um momento hilário em “Dance Tonight” com o exímio baterista Abe Laboriel Jr fazendo umas dancinhas absolutamente sensacionais e com a plateia se divertindo bastante.
Com Paul sozinho no palco com seu violão, já imaginei o que viria e não errei. “Blackbird” é uma das canções mais singelas e bonitas de toda sua carreira e foi lindo poder vê-lo toca-la no alto de um praticável cheio de efeitos, assim como “Here Today” dedicada a um certo John…
Me surpreendeu ver todo mundo cantando “Jet” do Wings, outra canção com uma dedicatória, dessa vez para o recém falecido e ex-parceiro de banda Denny Laine. Se eu falar que não me lembrava dessa música, acho que não vão acreditar…essa é a verdade, mas “Something” eu já não posso dizer o mesmo. A mais famosa composição de George Harrison na era Beatles foi outro grande momento. Sozinho e com um ukulele, foi algo tão pungente ver sua interpretação desse clássico em homenagem a outro ausente famoso da sua vida e a entrada do restante da banda tornou esse momento épico e grandioso.
Daí para frente, o cara descarregou uma seleção de hits absurda tais como “Ob-La-Di, Ob-La-da“, “Band On The Run” e “Get Back” aumentando a emoção dos 70.000 presentes até descambar em “Let It Be” (minha preferida dos Beatles) e “Live And Let Die” com direito a fogos e explosões e que por segundos pensei em estar no show do Kiss.
Ano que vem completo 40 anos desde a minha primeira vez em um show e tive o privilégio de participar de mais um momento daqueles para guardar na minha memória. “Hey Jude” era a música favorita dos Beatles da dona Neide e foi difícil tentar disfarçar a minha emoção e vontade de chorar lembrando da minha mãe. Fiquei olhando para os lados para ver se meus amigos não reparavam nisso e, burramente, me privei de colocar tudo para fora e ainda não entendi porque não me deixei levar diante de um momento tão bonito, tudo isso junto a pessoas com uma folha de papel na mão com “NA NA” impresso e colocado acima de suas cabeças. INESQUECÍVEL!
O bis veio com “I’ve Got A Feeling” e um dueto virtual com John Lennon em outro momento lindo, assim como a primeira música da história do Heavy Metal. Oi? Como assim? Amigos, se “Helter Skelter” não é o que eu estou afirmando, eu nem sei mais o que é. A música é uma traulitada na moleira!
O final trouxe “Carry That Weight” maravilhosa com direito a um ataque triplo de guitarras e Sir Paul McCartney alternando solos ao lado de seus dois guitarristas Rusty Anderson e Brian Ray emendada a “The End“, assim como no álbum “Abbey Road” (1969) dos Beatles e que de fato trouxe o fim de 2h30 de um show inesquecível.
Muito foi dito que o baterista dos Beatles, Ringo Starr faria uma participação especial e que esse seria anunciado, mas nada disso aconteceu. Foi mais um daqueles factoides que os brasileiros sempre tentam inventar e em tempo de fake news, nada tão atual, mas o mais importante foi um show lindo que juntou diversas gerações em torno do bom e velho rock and roll.
Nossos agradecimentos a FleishmanHillard pelo credenciamento e cortesia.
Parabéns! Através do texto deu para ter uma sensação do show. E música sempre será sobre emoção!