Resenha: Avenged Sevenfold – “Life Is But a Dream…” (2023)
Em recente entrevista, Johnny Christ disse que o novo disco do Avenged Sevenfold, “Life is But A Dream…” causaria uma relação de amor e ódio nos fãs. Ele não mentiu!
Após esperar por sete anos, os seguidores da banda ansiavam pelo que viria na sequência de “The Stage“, que dividiu opiniões, principalmente pela sua (não) promoção. No meio disso, o grupo enfrentou uma briga judicial com a sua então gravadora, Warner Music e não só eles, mas nós todos, passamos pela pandemia do covid-19 que parou o mundo e diversos planos pelo mundo a fora, incluindo o registro novo do grupo.
Mas 2023 era o ano e finalmente chegamos ao oitavo disco e ao dar o play, muitas coisas irão lhe passar pela mente, principalmente se você é um fã de longa data.
Quem abre o trabalho é a faixa “Game Over“, apresentada ao vivo mas não lançada oficialmente. Um breve dedilhado de violão (muito bonito por sinal) é a porta de entrada e logo a música ganha seu corpo, nos remetendo aos tempos antigos, mais especificamente de “City of Evil“, dando um gostinho de nostalgia ao público, mas logo vemos que há ali o ar do atual e que a banda não ficará presa no passado, o que aliás é exatamente a intenção deles. De refrão ágil, é uma abertura bastante certeira, com uma virada na metade que nos joga no frescor de um musical e um final brando. A sequência traz se não a melhor a música do disco, uma das. “Mattel” é pesada, carregada por riffs densos e hipnóticos e com parte da letra escrita pelo falecido The Rev, o baterista original da banda. Quando você acha que a música vai ser algo simples, há uma quebra em sua metade com Brooks Wackerman puxando o grupo com uma bateria insana e um sintetizador cortando os solos da guitarra de Zacky Vengeance e Synyster Gates, tornando a faixa um verdadeiro monstro, além de trazer um Matt Shadows ensandecido com sua voz. “Nobody” já é conhecida do público, escolhida para ser o primeiro single revelado. Seu riff denso e obscuro é uma marca registrada de como a música se torna quase um mantra hipnótico e mais uma vez, Brooks traz linhas de bateria desenhadas formidavelmente, mostrando que dos três bateristas pós Jimmy, ele foi a escolha mais certeira a sentar na cadeira. “We Love You” é outro single já conhecido das pessoas e confesso que quando a ouvi no lançamento nada ali me cativou. A música me soou um amontoado de blocos unidos a esmo pelos integrantes. Mas quando você a reencontra em um contexto do disco e com sua letra visceral, ela se torna um belo experimento e mostra como a banda é simplesmente genial ao trabalhar seu atual momento. Há mudanças de tempo na metade e uma parada comandada por um som infernal com a letra martelando em seu ouvido a frase “mais poder/mais dinheiro/mais sexo/mais remédios“, mostrando a corrida e a vida caótica que estamos tendo nos últimos tempos e refletindo a inspiração na obra de Albert Camus e o seu vazio. “Cosmic” é até aqui a mais fraca, mesmo tendo seu final marcante, a faixa não apresenta muito. “Beautiful Morning” traz mais uma vez uma letra de The Rev e começa a te jogar em um espiral obscura que seguirá até o final do álbum. A música é dona de um grande riff nos versos e traz um refrão que mistura melodia/melancolia de uma forma sombria que ao mesmo tempo que mistura beleza, mistura uma tristeza que acomete ao ouvinte, me arremetendo muito a “No One’s There” do Korn, presente no disco “Untouchables”. A faixa é dona de uma das letras mais fortes do registro, falando de um alguém que caminha entre a vida e a morte, com uma passagem mais psicodélica em sua metade que parece algo entre o mundo vivo e o limbo. “Easier” é pesada e tem algumas linhas de seus versos que soam como o Alice in Chains em seu disco homônimo. Na sequência, já rumando ao final, o Avenged Sevenfold se colocou a prova e sem medo de arriscar, experimentar e dizer que realmente eles não se põem nenhum limite. A suíte “G” “(O)rdinary” e “(D)eath“, é algo pautado no progressivo, ficando entre o som do Haken e o Leprous, fora a tirada com a primeira letra de cada uma das faixas. Somadas formam quase dez minutos, com algo que soa como passagens de momentos alegres e outros densos, como se você estivesse no seu sonho mais lindo e caísse em um pesadelo daqueles que você não consegue acordar! É simplesmente incrível o que é feito aqui, mas lembre-se, as faixas só funcionam se ouvidas na sequência! A última parte da trilogia é a apoteose do gótico/musical e emenda com a faixa título que nada mais é do que um piano sendo dedilhado, como trilha sonora do pós mortem encerrando a audição que se dá em pouco menos de uma hora de duração.
Voltando ao começo desse longo texto e recapitulando a afirmação de Johnny sobre o amor e ódio, é exatamente isso que você terá ao ouvir esse disco. Sim, você sentira ódio do Avenged Sevenfold não ser mais a banda de “Waking the Fallen” ou do disco homônimo, e não apelar para refrão chiclete ou uma balada de violão e voz. Se “The Stage” foi um disco difícil para alguns, se prepare, as coisas por aqui são bem mais densas e profundas. Mas ao mesmo tempo, sentirá amor por se entregar na experiência que esse registro proporciona e não deixa por menos do que ser um dos melhores álbuns do ano em sua totalidade, tanto musical como no pensamento filosófico por trás de nossas rotinas, relatando em cada letra o caminho para o dia do sono eterno e até lá, sendo ninguém!
NOTA: 9
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