Resenha: Cabal – “Evertything Rots” (2025)
Poucas bandas conseguem traduzir o caos contemporâneo com tanta brutalidade e precisão quanto a Cabal. Vindos de Copenhague, os dinamarqueses têm construído ao longo dos anos uma reputação sólida dentro do metal extremo, misturando death metal, hardcore, metalcore e elementos eletrônicos de maneira tão destrutiva quanto viciante. Agora, com seu quarto álbum de estúdio, “Everything Rots”, a banda alcança um novo patamar de peso e densidade emocional.
O disco é um verdadeiro mergulho em um abismo existencial, onde cada faixa parece rasgar a alma com riffs que mais soam como lâminas enferrujadas e batidas que tremem o chão. Desde os primeiros segundos, fica claro que essa é a versão mais focada e feroz da Cabal até hoje — e ainda assim, a mais acessível em sua proposta sonora. A mistura de texturas eletrônicas cortantes e paisagens sonoras perturbadoras não apenas intensifica a pancadaria instrumental, como também aprofunda a atmosfera opressiva que envolve o álbum.
O disco é lançado pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records, e conta com participações de peso que elevam ainda mais sua carga emocional: Matt Heafy (Trivium), Jamie Hails (Polaris) e Joe Bad (Fit For An Autopsy) deixam suas marcas em colaborações que soam como gritos de guerra em meio a ruínas.
Tematicamente, “Everything Rots” é um testemunho cru e brutal sobre depressão, trauma e vício. Canções como “Still Cursed” mergulham fundo na sensação de maldição eterna que a depressão pode trazer, enquanto a faixa-título “Everything Rots” serve como um hino desesperado de uma geração que nasceu e cresceu em meio à incerteza e ao colapso iminente. Já “No Peace” é um soco no estômago: inspirada em uma experiência real, narra o impacto de testemunhar uma tentativa de suicídio nas ruas de Copenhague. A angústia é palpável, assim como o sentimento de impotência diante da tragédia.
“Unveiled” e “Forever Marked” formam um díptico devastador sobre abuso e cumplicidade involuntária. A primeira canaliza a fúria e a traição ao descobrir que alguém próximo foi capaz de atos impensáveis. A segunda carrega o peso da culpa por não ter percebido antes o que acontecia tão perto.
Cabal não está aqui para agradar ou entreter de forma superficial. Está aqui para provocar, para chocar, para purgar dores profundas por meio da distorção e do colapso sonoro. “Everything Rots” é mais do que um disco pesado — é uma experiência. Uma descida sem freios por um mundo em decomposição, onde os escombros são transformados em arte bruta. E nessa podridão, paradoxalmente, reside a beleza da honestidade extrema.
NOTA: 8