Resenha: Edu Falaschi – “Eldorado” (2023)
O álbum “Eldorado” do Edu Falaschi gerou muita surpresa ao ser anunciado logo no início de fevereiro deste ano e com data de lançamento para agosto. Muita expectativa se formou em torno do álbum, ainda mais quando o Edu e Roberto Barros, através de várias entrevistas para a mídia especializada, contaram como foi o processo de composição, que começou antes mesmo do início da turnê do “Vera Cruz”. Com direito a uma imersão dessa dupla no México, viagem dedicada a estudar e entender um pouco mais sobre a cultura local e sobre elementos de música latina, a ansiedade dos fãs do vocalista para este segundo álbum que faz parte de uma trilogia, foi parar nas alturas.
Pois bem, após sete esses meses de muita expectativa, todos os anúncios de participações especiais e alguns “studio reports” das gravações, finalmente podemos conferir o que Edu Falaschi (vocal), Roberto Barros (guitarra), Diogo Mafra (guitarra), Raphael Dafras (baixo), Fabio Laguna (teclado) e Aquiles Priester (bateria) trouxeram para este novo lançamento.
Logo no início do álbum já temos uma bela amostra da produção impecável, da grandiosidade sonora que está por vir e da temática que irá explorar elementos da música latina, o que foi bem acertado diga-se de passagem, já que o “Vera Cruz” explorou muito bem elementos da música brasileira e, este novo álbum, dá continuidade a história que tem como principal objetivo fazer com que o ouvinte viaje para terras um pouco mais distantes. “Quetzalcóatl” faz bem o seu papel de introdução, soando épica e que certamente vai gerar boa expectativa para entrada da banda no palco nas apresentações ao vivo.
A primeira participação especial dá as caras logo no início da segunda faixa “Señores Del Mar (Wield the Sword)”, com o vocalista José Andrëa (Mägo de Oz) cantando em espanhol. Com um ritmo um pouco diferente do esperado para a faixa que abre do disco, a música não traz a levada Power Metal habitual nos seus primeiros minutos. Mas logo ela acelera e recebemos um turbilhão de notas, bumbos duplos e com o Edu mostrando mais uma vez que está em plena forma vocal.
A terceira faixa “Sacrifice” cumpre muito bem o seu papel e se torna um dos grandes destaques do álbum. Cadenciada em alguns momentos, pesada na medida certa e com o baixo bem destacado, o que considero um mérito. Raphael Dafras tem muito a nos mostrar e acaba sendo um dos grandes destaques deste lançamento. As batidas latinas ajudam a engrandecer todo o compilado sonoro que traz diversas camadas para este álbum. Com uma levada que remete ao Almah, Edu canta linhas vocais mais retas, porém precisas. Música com técnica elevada, incluindo seu solo, mas que ao mesmo tempo traz muito feeling. Os corais a engrandecem e contribuem para uma pitada mais progressiva.
Assim como no “Vera Cruz”, a quarta faixa de “Eldorado” é uma balada, coisa que Edu sabe muito bem como compor. Porém, como comparações são inevitáveis, “Empty Shell” fica muito abaixo de “Skyes in Your Eyes”, que até o momento pode ser considerada como a balada definitiva da carreira solo do vocalista. Não é uma balada ruim, é grandiosa e com o refrão lá em cima, belos corais e tem um crescendo que pode até emocionar alguns. Mas fica só nisso, uma bela balada…
“Tenochtitlán” é a faixa Power Metal Extremo do disco. Ideal para abrir os shows com guitarras fritando, bateria a mil por hora e refrão pra cantar junto. Uma verdadeira corrida de cavalos com cada um dos instrumentos disputando quem chega na frente. Definitivamente, os músicos sabem como fazer esse estilo de música. Os fãs vão a loucura com músicas como esta e já prevejo um turbilhão de vídeos e comentários sobre a performance do Roberto Barros ao vivo. Não tenho dúvidas que ele irá executar de forma precisa suas linhas de guitarra. Mais uma vez o baixo fica como um bom destaque, ajudando a dar uma “encorpada” no som.
Vale mencionar o quanto os corais deste álbum estão excelentes e superam muito o trabalho que foi feito no álbum anterior (e que já havia ficado num nível surpreendente). Composto por Edu, Raissa Ramos, Fábio Caldeira (Maestrick) e Mi Alveli, o trabalho de vozes ajudou a engrandecer muito as músicas.
A faixa título “Eldorado”, pode ser considerada o segundo ponto alto do álbum. Ela começa com uma levada diferente do que o Edu já nos mostrou até agora, trazendo uma boa dose de diversidade. A produção impecável e os efeitos sonoros tornam essa música grandiosa, um épico de pouco mais de 10 minutos. Roberto Barros se destaca bem nessa faixa que em alguns momentos acelera e em outros pisa o pé no freio, mesclando bem o Power com o Prog.
A grande decepção do disco fica por conta de “Q’que’m” que conta com a bela participação da cantora nascida na Guatemala, Sara Curruchich. Decepção não por ser ruim, mas por ser apenas uma curta passagem de apenas um minuto, deixando um gostinho de quero mais. Faltou explorar um pouco mais essa participação que tinha muito potencial para enriquecer muito a obra como um todo.
“Reign of Bones” explode nos alto falantes e por incrível que pareça, é somente a segunda mais power do disco. Apesar de conter muita informação sonora, a faixa soa muito bem e tem todos instrumentos bem destacados. Mais uma faixa bastante técnica, porém com melodias bem elaboradas em meio a tanta velocidade.
Na sequência somos brindados com mais uma balada. O famoso padrão Edu Falaschi de composição e que agrada e emociona. Muito bonita, se tocarem ao vivo, todos irão cantar seu refrão juntos enquanto acendem as luzes dos seus celulares. Mas não deixa de ser uma balada somente ok.
Caminhando para o final temos “Wings of Light”, que inicia com o belo coral seguido daquela levada mais acelerada e o teclado em destaque. Em determinados momentos a música pisa no freio e se torna mais épica. Em determinados momentos algumas influências de Angra dos tempos do “Rebirth” ficam evidentes. Mas isso não é uma surpresa, uma vez que este álbum tem grande importância para os dois principais compositores das músicas do “Eldorado”. Edu por motivos óbvios e Roberto Barros por ser grande apreciador desse clássico do metal nacional. Como o próprio Roberto já declarou várias vezes, “Rebirth” foi um dos primeiros álbuns de Heavy Metal que escutou e o carrega como um de seus favoritos até hoje (e que na última turnê teve que executar na íntegra…).
Para fechar, a escolha foi mais uma balada, “In Sorrow”. Mais uma vez, grandiosa, bem escrita e executada com maestria, mas que não faz com que o disco seja encerrado por cima. Talvez a melhor das três baladas do álbum, mas ainda a considero um pouco abaixo daquilo que o Edu é capaz. Tendo ciência de que esta é a parte dois de uma trilogia, gostaria de pensar que essa faixa faz apenas um gancho para o final da saga de Jorge e que vem coisa muito melhor na parte.
A carreira solo do Edu Falaschi está de vento em popa e a expectativa criada para “Eldorado” se concretizou em um álbum bem redondo e que ficou dentro do esperado, mas que não surpreendeu o mesmo tanto que o “Vera Cruz”. Enquanto o primeiro disco trouxe boas referências do passado da carreira do vocalista, este novo ficou com a missão de abrir caminho para novos ares e a inclusão de novos elementos, mas que talvez tenham se perdido em alguns momentos e não se destacaram como esperado. Um bom álbum, não espetacular.
Nota: 8.0