Resenha: Foo Fighters – “But Here We Are” (2023)

Ouvir o novo disco do Foo Fighters realmente é algo, no mínimo, emotiva e até difícil tarefa, em meio a todo contexto do registro.

Obviamente, sabíamos que quando o momento de uma nova gravação chegasse, ela seria toda feita em torno de Taylor Hawkins. Sem surpresas, é isso que “But Here We Are” é, e não teria como ser de outra forma. Quantas vezes vimos uma química tão graciosa quanto do baterista e o líder da banda, Dave Grohl e aquele energia que parece palpável no palco?! Infelizmente isso foi interrompido com a partida inesperada de Taylor no ano passado e ficava a dúvida se haveria uma próxima vez.

Nesse tempo, Dave ainda passou por outra perda, a de sua mãe, Virginia, que morreu três meses após o amigo Hawkins.

Assim, não só Grohl, mas o Foo Fighters, tiveram de reaprender a andar, e essa reabilitação se transformou em um dos discos mais fortes e emotivos de 2023, que traz em sua totalidade, tons de frustração, tristeza, solidão, rancores dos caminhos da vida, mas também, o sentimento do dia após o outro e de que em algum momento, as coisas vão se assentar.

Assim, chegamos a “Rescued”, faixa de abertura e contagiante. Lembrando muito a vibe de “Wasting Light” de 2011, é uma bela porta de entrada para o trabalhado. Grohl, que ficou responsável pela bateria do álbum traz seu melhor nas linhas e um refrão marcante e grudento. O mesmo vale para “Under You”, que em meio a triste letra, consegue trazer uma energia incrível em cada acorde. “Hearing Voices” coloca um pé no freio e traz uma música mais melódica, cadenciada e de tom mais branda, com um refrão que é pura viagem sonora. A faixa título vem na sequência e mais uma vez nos remete ao passado, mais aos primórdios da banda, com pitadas do atual e mais uma bela sacada de bateria de Grohl. As melodias soam hipnóticas na ponte e é uma das mais fortes do disco. “The Glass” é mais um momento para respirar, com uma bonita música e solo lindo, curto, mas certeiro e logo temos “Nothing At All”, que não contagia muito até pouco antes de seu final. “Show Me How” é nada menos do que uma das músicas mais bonitas, se não a mais, que o Foo Fighters já fez em toda a sua história. Com participação da filha de Dave, Violet Grohl, a faixa é uma brisa de calmaria e as linhas vocais dos dois soam em um casamento tão perfeito que assombra. A letra é uma das mais emocionadas de todo o registro e é algo para se ouvir de novo, de novo, de novo e de novo. É linda e triste ao mesmo tempo, e isso é uma duplicidade que se choca com uma força tão grande por aqui. Perfeita! “Beyond Me” segue a linha melancólica e mais uma vez, outro grande acerto emocional no registro! Mais um lindo solo e linhas de bateria carregadas de feeling! “The Teacher”, a maior faixa já registrada pelo Foo Fighters, é uma carta de despedida a mãe de Dave, e passeia por diversos momentos da carreira da banda, trazendo até mesmo ares do projeto, Dream Widow. “Rest” é quem fecha e o faz de forma delicada, calma como sono eterno e em tom de despedida, deixando um breve adeus e a sensação de amargo dos caminhos inevitáveis da vida e que ninguém está de fato preparado para enfrentar.

Como dito, o Foo Fighters começa a caminhar em meio ao nevoeiro sombrio de 2022 e transforma toda a dor em música, resultando em um trabalho de emoção, delicadeza e sensação de que é preciso continuar, por mais dolorido que seja o espinho na alma, é preciso arrancá-lo e deixar a ferida fechar.

Taylor Hawkins certamente está feliz e orgulhoso…

NOTA: 9

 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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