Resenha: Greta Van Fleet – “Starcatcher” (2023)

A cada novo anúncio de lançamento do Greta Van Fleet, uma grande expectativa e um certo burburinho tomam conta da cena do Rock, isso motivado principalmente por conta daquele estigma criado de que eles são simplesmente uma cópia do Led Zeppelin. Seu álbum de estreia de 2018, o “Anthem of the Peaceful Army”, atingiu grande repercussão justamente por conta disso. Mas esse disco não teria feito sucesso (negativo ou positivo) se os músicos não fossem competentes. E assim tivemos uma inundação de resenhas e vídeos analisando o som da banda, boa parte deles questionando a originalidade do seu som e tudo aquilo que quem acompanha as notícias nos veículos de imprensa sabe que aconteceu. Daí veio o segundo disco em 2021, o “The Battle at Garden’s Gate”. O que será que eles iam apresentar de novo, será que iriam se desvincular do título de mera cópia do Zeppelin? Bom, conseguiram em partes e trouxeram diferentes influências para o seu som. Mas ainda assim era possível encontrar vários “narizes torcidos” e as intermináveis críticas negativas. O fato sempre foi que Josh Kiszka (vocal), Jake Kiszka (guitarra), Sam Kiszka (baixo) e Daniel Wagner (bateria), são músicos muito bons. E por que todo esse discurso? Porque chegou a hora de descobrir se eles irão se afastar de todo o (pré)conceito formado em torno da banda e se irão chamar a atenção pelas novas composições do seu mais novo lançamento, o “Starcatcher”.

O novo álbum conta com 10 novas músicas distribuídas em pouco mais de 42 minutos e chama atenção logo de cara pela capa, não por ser algo extremamente elaborada, mas sim pela sua simplicidade, mostrando basicamente uma duna nas cores preto e branco. Na parte lírica é explorada uma das grandes questões feitas por muitos e que os músicos decidiram ir um pouco mais a fundo: “O que é essa consciência que temos e de onde ela veio?”

A energia do Greta Van Fleet é indiscutível, e isso fica claro logo na primeira faixa de cada um dos seus lançamentos, como por exemplo do seu EP de estreia, “From the Fires” (2017), com a arrebatadora “Safari Song”. No seu primeiro full length, “Anthem of the Peaceful Army”, a saga começa com a empolgante “Age of Man”, reafirmando o poder de sua música. Contudo, foi com “The Battle at Garden’s Gate”, seu segundo, que a banda estabeleceu um novo patamar e abriu o disco com uma das suas músicas mais marcantes, a “Heat Above”. Assim se formou uma grande expectativa para a faixa de abertura de “Starcatcher”. “Fate Of The Faithful” acaba sendo a faixa mais discreta quando comparada às outras que abrem os discos, porém funciona como uma introdução sólida, mas sem muito brilho.

A segunda “Waited All Your Life” já traz uma boa dose de novidade por se distanciar um pouco do som característico apresentado até agora, mas é na terceira que uma constelação brilha com intensidade: “Meeting the Master”, o primeiro single lançado para o álbum, é uma faixa que irradia um inebriante riff de guitarra que canaliza a essência de Jimmy Page. Contudo, diferentemente de lançamentos anteriores, a música agora se desenrola em um crescendo gradual, demonstrando uma evolução notável e trazendo um pouco mais de identidade para a banda.

Felizmente, neste novo lançamento os músicos trazem um pouco mais de consciência sobre seu próprio estilo, evitando faixas excessivamente longas. Com duas músicas a menos que o “The Battle at Garden’s Gate” e uma duração reduzida em 20 minutos, o resultado é uma manifestação do princípio “menos é mais”. A maturidade artística é evidente, evitando a exposição excessiva que marcou seu segundo álbum. Entretanto, é importante reconhecer que a diversidade de arranjos musicais ainda é uma das limitações que o Greta Van Fleet enfrenta.

Outros destaques ficam por conta da curta “Runway Blues” e “The Falling Sky“. Estas duas faixas trazem algo de novo quando comparadas a tudo que já lançaram até o momento, sendo esta última com uma boa pitada de blues. No entanto, é importante mencionar que poderiam ter explorado um pouco mais essas vertentes musicais, como já vimos em faixas como “You’re the One” e “Mountain of the Sun”, que encantaram os ouvintes no passado.

As músicas de “Starcatcher” conseguem o feito de se distanciar um pouco das comparações com o Led Zeppelin, porém ainda deixam a desejar um pouco no quesito personalidade, embora podemos dizer que essa é a personalidade da banda (sim, um pouco confuso). Quando conseguem se afastar das comparações com o quarteto britânico, se aproximam em alguns momentos do Rush, adicionando um pouco do trio canadense em faixas como “Frozen Light”.

A voz poderosa de Josh Kiszka tem evoluído de álbum para álbum, mas é notável a ausência de variedade em seu estilo de canto, soando repetitivo e até previsível em alguns momentos. Enquanto suas habilidades vocais surpreendem, a falta de uma balada como “Anthem”, que permite que ele explore novas nuances em sua interpretação e o afaste um pouco das comparações com o estilo marcante de Robert Plant, fez falta aqui. Em “Starcatcher”, no entanto, somos “agraciados” com gritos constantes que parecem se esconder timidamente atrás dos excelentes licks de guitarra.

No quesito lírico, Josh Kiszka tenta transmitir ideias ambiciosas. No entanto, suas palavras muitas vezes não alcançam o poder desejado, onde em certos momentos as letras parecem perdidas em meio a uma tentativa de transmitir uma mensagem importante, mas que se desvanece na abstração.

“Starcatcher” revela um Greta Van Fleet em busca de diversidade musical e amadurecimento artístico. Suas melodias ainda brilham intensamente, mas é no encontro com novas nuances e abordagens líricas que a banda pode decolar para novos horizontes. O caminho da autodescoberta e da identidade musical genuína pode ser sinuoso, mas o Greta Van Fleet continua a trilhar esse percurso com determinação e talento inegável. Enquanto sua jornada continua, podemos aguardar ansiosamente as próximas composições que poderão consolidar a banda como uma força única e impactante no cenário do rock contemporâneo.

“Starcatcher” não é um álbum ruim, mas respondendo o questionamento do início desta resenha, não irá chamar atenção. A produção é impecável e cada uma das dez faixas são muito bem executadas, contando com músicos que são inegavelmente habilidosos nos seus instrumentos, mas que não trouxeram nada de novo dessa vez.

NOTA:7

 

Renan Castro

Um engenheiro que se divide entre realizar cálculos complexos e a escrever sobre música. Mineiro de Belo Horizonte, berço de grandes nomes do metal como o Sepultura e Overdose, fui apresentado ao som pesado aos 12 anos de idade. Sempre tive o sonho de escrever resenhas de álbuns de Heavy Metal e poder divulgá-las para os apreciadores do estilo, por isso criei a página Nerd Banger no Instagram. Com grande foco no cenário nacional, faço o que posso para apoiar os artistas do nosso Brasil!

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