Resenha: Heaven’s Guardian – “Chronos” (2023)

No último dia 3 de novembro, enquanto olhos e ouvidos se voltavam para o lançamento do décimo álbum de estúdio do Angra, a banda goiana de metal sinfônico Heaven’s Guardian também celebrava o lançamento do seu quarto álbum de estúdio intitulado “Chronos”. Este álbum pode ser considerado como uma parte importante da história do Heavy Metal nacional por conta de toda a sua grandiosidade e por ter sido o primeiro a contar com a colaboração da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás e o envolvimento de um total de 150 músicos.

A banda, que já havia gravado em 2018 um DVD ao vivo contando com a mesma Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás, lançamento este que recebeu o título de “O primeiro de uma banda de heavy metal com orquestra sinfônica gravado no Brasil!”, decidiu ousar mais e ser mais audaciosa, gravando “Chronos” em Los Angeles com produção do renomado produtor americano Roy Z (conhecido por seu trabalho com Bruce Dickinson, Rob Halford, Rob Rock e Sebastian Bach), juntamente com o produtor Addasi Addasi (NervoChaos, Black Oil). A capa, assinada pelo Carlos Fides, destaca Cronos, o Deus grego do tempo, narrando os ciclos cronológicos da humanidade, desde a Mitologia Grega até a era da Inteligência Artificial. O lançamento marca também a estreia da talentosa vocalista russa Natalia Tsarikova. Completam o time Carlos Zema nos vocais, Ericsson Marin e Luiz Maurício nas guitarras, Everton Marin nos teclados, Murilo Ramos no baixo e Francis Cassol na bateria. E que trabalho incrível eles fizeram.

O álbum conta com 12 faixas e tudo que conferimos soa grandioso, desde as primeiras notas da bela introdução muito bem orquestrada “Tempus”, até o seu encerramento com a faixa “Drowning Land” que fecha a nossa viagem através do tempo de forma épica. O trabalho musical encontrado em “Chronos” é reflexo do como todo o projeto foi trabalhado ao longo dos últimos anos, em que cada detalhe foi cuidadosamente pensado de forma a extrair o melhor de cada um dos músicos que participou do álbum.

As músicas combinam de uma forma natural e com bastante fluidez o power metal com heavy metal sinfônico nos brindando com passagens mais velozes e intrincadas e melodias cinematográficas, belas variações vocais envolventes e corais que agregam muito na construção de cada uma das faixas, que podem ser tidas como capítulos independentes. Os duetos entre os dois vocalistas são de encher os olhos, a voz da Natalia Tsarikova é angelical e potente ao mesmo tempo, enquanto o Carlos Zema percorre áreas diversas, saindo do mais melódico para o rasgado, passando pelo operístico e indo até o gutural. Este grande vocalista apresenta aqui um de seus melhores registros vocais. Confira o que ele faz, por exemplo, na “The Sirens of the Past”, faixa que vem logo após a introdução e que impressiona pela sua estrutura. A banda não se prende somente nos estilos musicais mencionados anteriormente e a diversidade fica evidente em faixas como “General of Peace”, que soa mais acelerada, e “Valhalla Call”, que se destaca principalmente pela bateria marcante.

Influências de música folk celta também estão presentes e fazem com que “Tristan and Isolde” se torne em um dos grandes destaques. Essa faixa que traz toda uma levada que nos transporta para uma taverna em que todos presentes cantam juntos, foi baseada na lenda medieval contada por Gottfried Bon Strassburg sobre Tristão e Isolda. Na sequência, “Sail Away” mantém a essência folk abordada na faixa anterior, porém adicionando mais peso e remetendo, em partes, ao viking metal. A sétima faixa, “The Color of Injustice”, mergulha em sonoridades mais pesadas e progressivas, enquanto a bela balada “Home of Time” destaca a voz cativante da Natalia, acompanhada por um belo solo de guitarra. “Wall of Shame” retrata o pós-período da Segunda Guerra Mundial, combinando elementos de metal moderno com influências de música pop americana.

“The Fall of The Empire” é um dos pontos altos, sendo uma canção intensa e carregada de emoção. Com algumas partes cadenciadas, ela apresenta riffs de guitarra bem marcantes, enquanto a orquestra cria uma atmosfera que preenche qualquer lacuna e nos deixa ligados prestando atenção em cada um dos detalhes inseridos nesse pequeno épico. “Artificial Times”, lançada como primeiro single, prepara o terreno para o encerramento épico com “Drowning Land”, como dito no início deste texto, uma faixa poderosa que coroa a audição como uma celebração de tudo que foi apresentado.

“Chronos” é forte candidato a um dos melhores lançamentos de 2023 do cenário do Heavy Metal nacional e até mesmo mundial, se destacando pela experiência épica musical. A Heaven’s Guardian nos apresentou uma verdadeira viagem pelo espaço tempo em uma obra que deve ser apreciada na sua essência, levando-se em conta o empenho dos músicos em trazerem uma obra consistente e com a tamanha dimensão do que pode ser conferido neste álbum. Tecnicamente perfeito e que deve ser apreciado como foi concebido: uma obra-prima!

NOTA: 10

 

Renan Castro

Um engenheiro que se divide entre realizar cálculos complexos e a escrever sobre música. Mineiro de Belo Horizonte, berço de grandes nomes do metal como o Sepultura e Overdose, fui apresentado ao som pesado aos 12 anos de idade. Sempre tive o sonho de escrever resenhas de álbuns de Heavy Metal e poder divulgá-las para os apreciadores do estilo, por isso criei a página Nerd Banger no Instagram. Com grande foco no cenário nacional, faço o que posso para apoiar os artistas do nosso Brasil!

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