Resenha: Steven Wilson – “The Harmony Codex” (2023)

Que Steven Wilson é um dos maiores gênios musicais da atualidade, seja em sua carreira solo ou no Porcupine Tree, isso já é algo indiscutível e sem questionamentos, gostem ou não do que ele apresenta.

O fato é que Steven se tornou uma mente abarrotada de ideias que não se limitam a rótulos ou formatos. O cara passeia do rock progressivo ao eletrônico com a facilidade de uma nuvem flutuando no céu.

Com um ano após ter entregue o que ele próprio chamou de “canto do cisne” de sua banda, ele tem arsenal para um disco solo, e assim nasce “The Harmony Codex“.

Falar de um disco assinado por Wilson se torna até uma tarefa difícil, pois tentar desenhar seu trabalho com palavras é algo muito complexo, assim como suas próprias composições, mas, não há forma de se deixar passar o brilhantismo visto em poucos gênios atuais como o ele e de alguém como Mikael Arkefeldt do Opeth.

A obra abre com “Inclination”, com um funkeado eletrônico e dando ar de que as coisas não serão tão complexas como antes. Mero engano. Ao decorrer da obra nos deparamos com “Actual Brutal Facts“, que mostra uma fluidez gigante em seu andamento e assim foi que caímos nessas notas, uma sensação de relaxamento nos invade, e chegamos em “Beautiful Scarecrow“, que é um gótico eletrônico suave e que descamba na magnífica “Economies Of Scale“, carregada de camadas e de uma beleza ímpar e magnificamente bem executada. Wilson traz a magnitude plena em mais de dez minutos com “Impossible Tightrope“, que vai ganhando camadas e mais camadas a cada segundo e nos atraindo mais para descobrirmos o que virá na sequência e é simplesmente soberbo o que é nos dado aqui pela epopeia musicada. “Rock Bottom” é algo que poderia ser promovido como encontro de David Gilmour com Trent Reznor, e a beleza é acentuada pela bela e poderosa voz de Ninet Tayeb, que dá o ar dramático e certeiro na música, a tornando uma das melhores do disco. Em “Starcaise”, o Steven Wilson de outras época irá tirar sorrisos dos rostos de seus devotos, emendando uma mescla de instrumentos e nuamces e abrindo espaço para a faixa título. Certa vez, Steven descreveu sua música como sendo, “cinema para os ouvidos”. Pois bem, “The Harmony Codex” é exatamente isso, cinema futuristico e instigante que nos causa ansiedade de saber qual é o próximo movimento que irá acontecer uma viagem fabulosa, uma obra bonita e complexa, que voamos em cada verso narrado pela esposa do nosso capitão, Rotem Wilson. Tenho um bom par de fones, apague as luzes, feche seus olhos e simplesmente experimente isso. Ainda há tempo a para “Timming is Running Out“, simples, se comparada a outros momentos do álbum, mas em nada perdendo para outras e a tradicionalista “What Life Brings“.

Ao ouvir tudo que está aqui, não posso deixar de pensar como muitos outros artistas devem invejar Steven Wilson. O cara não se prende a nenhum padrão, nenhum modelo, nenhuma pressão de gravadora, de fazer a música do momento ou agradar o fã. Ele faz o que gosta e o que quer, sendo nada progressivo ao amantes do prog e muito progressivo aos amantes do eletrônico e aí vemos a genialidade grandiosa dentro dessas dicotomias. Difícil definir em palavras o que é esse disco, perfeito dentro de suas imperfeições assim como seu criador. Experimente, deguste e engula sem moderação.

NOTA: 9

 

 

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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