Resenha: The Exploited – “The Massacre”

Por volta de 1990, o The Exploited já era um nome consolidado no punk britânico — ruidoso, contestador e fiel ao espírito de confrontar tudo e todos. Mas também era uma banda em crise: três anos haviam se passado desde o morno Death Before Dishonour, e a saída do guitarrista Willie Buchan deixava claro que algo precisava mudar. Wattie Buchan entendeu o recado: era hora de dar uma guinada sonora, mais pesada, mais rápida, mais extrema. Essa virada culminou em The Massacre, um álbum que marcaria e moldaria a fase moderna da banda e que agora ganha uma edição especial de luxo pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records.

De imediato, fica evidente que o disco mergulha sem pudor na estética do thrash metal. A faixa-título é uma explosão de velocidade e agressividade que coloca o ouvinte diante de uma versão turbinada do The Exploited. Com a chegada de Gogs, o novo guitarrista, a banda encontrou um motor rítmico e melódico de outra categoria. Seus solos — longos, variados e com forte influência do Slayer clássico — tornaram-se peça central do álbum, ocupando um espaço antes inimaginável dentro da discografia dos escoceses.

Ainda que a guitarra domine a mixagem a ponto de, por vezes, engolir as demais camadas, baixo e bateria vivem momentos de brilho. Em faixas como * Religion”** e “Don’t Pay the Poll Tax”, o groove entre as duas linhas rítmicas mostra uma banda afiada e com fome, enquanto Wattie despeja slogans venenosos sobre guerra, poder, violência estatal e decadência humana. A postura politicamente incendiária permanece intacta — apenas mais brutal.

A voz de Wattie está mais áspera, mais segura, mas frequentemente soterrada pelo volume do ataque guitarrístico. Ainda assim, versos como “Join the army, learn new skills / Learn to kill and maim your friends” soam tão corrosivos quanto nos tempos de Troops of Tomorrow. O The Exploited continua punk até o último fio, mesmo pintado com tons pesados de metal.

A estrutura das músicas, por outro lado, mantém a simplicidade típica da banda: faixas diretas, sem rodeios, muitas vezes repetitivas. É apenas na segunda metade do álbum que surgem quebras mais interessantes, como “Boys in Blue”, que segura Wattie por quase um minuto para criar tensão, ou “Blown Out of the Sky”, mais lenta e de andamento marcial — embora esta última seja também o ponto fraco do disco, com pouca evolução ao longo de seus minutos.

No cenário de 1990, disputando espaço com Rust in Peace, Seasons in the Abyss e Persistence of Time, The Massacre não tenta ser mais técnico ou mais inovador — tenta ser mais violento. E, dentro de seu universo, consegue. É agressivo, ríspido, direto ao ponto e, acima de tudo, honesto em sua ambição: transformar o The Exploited em uma máquina de guerra punk-thrash que sobreviveria aos anos seguintes.

Duas décadas depois, o disco segue como ponto alto da discografia da banda e como registro da transição entre dois mundos — o punk cru da primeira fase e o metalizado que viria a dominar sua trajetória. The Massacre não reinventou a roda, mas a fez girar mais rápido, mais suja e mais barulhenta.

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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