Resenha: Therion – “Leviathan III” (2023)
Em 2021, o Therion iniciou a série “Leviathan”, com seu líder Christofer Johnsson prevendo que a terceira e última parte, “Leviathan III“, seria a menos popular. Johnsson descreveu este álbum como ousado em sua diversidade estilística, reconhecendo que as canções escolhidas são remanescentes das prolíficas sessões de gravação que geraram três álbuns em três anos consecutivos.
A habilidade de Johnsson e da banda em integrar uma vasta gama de influências resulta em uma tapeçaria, explorando diversas culturas mundiais enquanto demonstram seu virtuosismo musical que agrada tanto a uns, como cria a repulsa de outros. “Leviathan III“, lançado pela Napalm Records e trazido ao Brasil pela Shinigami Records, apresenta uma complexidade notável, especialmente nas harmonias e contrapontos de “What Was Lost Shall Be Lost No More“, que parece uma canção sobreposta a outra. As influências progressivas são utilizadas para elevar e diferenciar Therion dos seus contemporâneos. Como pilares do metal sinfônico, a banda mostra uma maestria segura, aproveitando uma explosão criativa que já tem uma estrada com mais de 35 anos.
“Ayahuasca”, lançada antes do álbum e origem da série Leviathan, é uma faixa em duas partes: inicia com uma base de metal ancorada em riffs e uma preparação cerimonial, antes de transitar para uma neblina transcendental com uma linha de baixo onírica, refletindo os efeitos de uma bebida psicoativa.
Essa sensação de transformação mental e espiritual permeia Leviathan III, como exemplificado em “Baccanale”, uma ode à euforia provocada por Dionísio. A voz etérea de Lori Lewis, evocando ABBA, dança sobre guitarras com influência punk, a música livre de restrições de gênero. O refrão coral, apoiado por uma caixa sincopada de thrash, evoca uma sensação de adoração em meio a batidas cardíacas aceleradas. “Midsommarblot” continua essa temática de entrega ao transcendente, com uma reviravolta sinistra envolvendo sacrifício.
Leviathan III surpreende em ainda conseguir alguma diversificação, como demonstrado em “Duende”, que apresenta uma introdução de flamenco e uma valsa oom-pah-pah. A performance vocal impressionante de Rosalía Sairem é um encaixe perfeito. A música trata de encontrar o sobrenatural na arte e da resposta física canalizada através da performance. Se o Therion decidisse criar um álbum de flamenco metal, esta faixa prova que seria algo especial.
Apesar do ecletismo individual de cada faixa que pode levar Leviathan III a ser o menos popular da trilogia, como previu Johnsson, isso não é merecido. Desde a pura influência folk no majestoso “Ruler Of Tamag” com seu crescendo emocional, passando pela narrativa grega dos anos 70 em “An Unsung Lament”, até a culminante e apocalíptica “Twilight Of The Gods”, Therion atinge um novo patamar criativo. Ainda que o disco peque em algumas questões de sua construção, com andamento que se arrastam dentro da música, deixando um gosto de que talvez se determinada parte tivesse sido cortada e em outros, fossem enxugados, a experiência poderia atingir com maior força, até mesmo os não fãs da banda. Com mais de quatro décadas de carreira, a banda continua a jorrar criatividade, consolidando repetidamente seu lugar no topo do metal sinfônico.
NOTA: 7