Roberto Carlos é reverenciado por súditas no Rio de Janeiro
Texto: Carlos Monteiro
Fotos: Patrícia Sigiliano
Na mesma noite em que o Black Sabbath se despedia dos palcos na Inglaterra, outro veterano da música se apresentava no Rio de Janeiro para um Qualistage lotado, na Barra da Tijuca. Diante de uma plateia bastante diferente dos pais do heavy metal, aqui formada em sua maioria por senhoras, Roberto Carlos adentrou o palco por volta de 20h30, para mais uma etapa de sua turnê “Eu ofereço flores”.
Assim como Ozzy Osbourne, esbanjando sua realeza cantando em um trono, o nosso “rei” também tinha os fãs em suas mãos durante todo o show, que passeia por vários clássicos de sua carreira. E como apresenta o vídeo de abertura, a carreira do cantor capixaba iniciou “como o melhor artista de rock dos anos 60”, época da Jovem Guarda.
Dessa fase, a principal representante no show é a música “O Calhambeque”, do álbum “É Proibido Fumar”, de 1964. Mas a abertura é mesmo com a clássica “Emoções”, aquela que diz que “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.
Emoção realmente não falta ao show, que é bem menos engessado do que sugerem os enfadonhos especiais de fim de ano na TV Globo. O “rei” logo emenda em outros dois clássicos. Um deles é “Como Vai Você”, de autoria de Antônio Marcos e Mário Marcos e gravada originalmente por Roberto em seu álbum homônimo, de 1972. O outro é “Além do Horizonte”, que o Jota Quest também regravou.
A banda, regida pelo companheiro de muitos anos (desde 1977) Renato Lages, reúne músicos bastante talentosos, com metais, percussão, cordas e vocais. O próprio Roberto, já com 84 anos, confessa em determinado momento que “nasci faz tempo, pra… caramba” (fingindo que vai falar um palavrão).
Em outro clássico da música romântica, “Desabafo”, Roberto mostra que está antenado com os novos tempos, de valorização da mulher, e explica que a letra agora não é “na hora que você quer”, mas “na hora que ela quer”.
Começa então um momento “banquinho” com a grande “Detalhes” e o belo acompanhamento em piano de Eduardo Lages. Logo em seguida, a belíssima “Outra Vez”. Além desta um esperado momento é o medley de músicas como “Seu Corpo / Café da Manhã / Seus Botões / Falando Sério / Côncavo e Convexo”. Esses trechos são entremeados por um texto, que Roberto finaliza reconhecendo que “a noite foi boa”, já que a maioria das letras referem-se a sexo.
Mais na frente, chega a canção com o auge da luxúria de Roberto, “Cavalgada” (1977), em que ele diz que vai “se agarrar aos seus cabelos, pra não cair do seu galope”. Nesse momento há também um lindo jogo de luzes, ora simulando as estrelas citadas na letra, ora em tom laranja, também fazendo referência ao sol citado na canção.
Em alguns momentos o ritmo cai, como em “Lady Laura” (homenagem à mãe) e “Mulher de 40” (dispensável). A plateia também ama a menos inspirada “Esse Cara Sou Eu”, da trilha sonora da novela “Salve Jorge”, de 2012, uma das canções mais recentes do repertório.
É que a mais recente mesmo é “Eu Ofereço Flores” (single de 2023), que encerra o show e justamente serve de trilha sonora para o clássico momento de entregar as rosas à plateia, que nas últimas canções se espreme no gargarejo disputando a atenção do “rei”. Ele faz o que pode, além de pedir “calma” às espevitadas senhoras, e várias são agraciadas com o carinho de Roberto, reverenciado mais uma vez por suas súditas ao fim da apresentação.