Rodolfo Abrantes fala sobre sua atual relação com Digão
Rodolfo Abrantes falou sobre a sua atual relação com Digão, ex companheiro de Raimundos.
Em participação no podcast Inteligência Ltda, ele falou como atualmente se relaciona como guitarrista:
“Eu percebi que o meu problema não era com Raimundos, era com Digão. Então, quando eu fiz as pazes com o Digão, tirou esse peso. Foi quem mais pegou pesado comigo quando eu saí.
Então, assim, tinha aquele negócio de estar ofendido, mas quando a gente fez as pazes, eu percebi que, cara, é como se não tivesse passado tempo nenhum. Talvez, inconscientemente, eu tenha rejeitado tanto Raimundos nesse período. Inconscientemente, eu digo, para atingir, porque eu sei que ele ama tanto, sabe? Então, não era uma coisa proposital, mas é uma explicação que eu consigo encontrar hoje. Porque foi eu fazer as pazes com ele, cara. Antes, eu ouvia Raimundos tocando em algum canto, dava uma sensação estranha. Hoje eu dou risada, eu até paro para ver“
E continua:
“Hoje eu tô bem com o meu passado, eu entendo o lugar dele. Muita gente confunde isso: ‘Ah, então quer dizer que você vai voltar?’ Não, não tem nada a ver com voltar. Eu não tenho máquina do tempo, cara. Naquele momento não existe mais, né? Não, eu tô apontado pro futuro. Meu negócio é futuro, entendeu? Não tem a ver com isso, tem a ver com estar em paz, tem a ver com você não estar mais fugindo de um lugar, tem a ver com você ser enviado de um lugar. Tanto que após eu e o Digão termos feito as pazes, o Raimundos hoje tá vivendo a melhor fase desde que eu saí. Ou seja, fluiu até para eles, isso refletiu, porque tinha rancor dos dois lados. Isso não é bom para ninguém.”
Sobre a relação com os fãs da época do Raimundos, ele diz:
“Tem carinho, tem respeito. Exatamente. Não tem funkeiro, não tem nada. É tipo, é de boa. Tira uma foto e conta uma história. E eu vejo isso como um privilégio de poder tocar gerações. Porque hoje tem uma galera que curte minha música hoje e curtiu a anterior. Tem gente que só curte minha música antiga e por causa disso vai curtir minha música hoje. Eu vejo pais e filhos chegando para mim e ambos me curtiram em épocas diferentes. Cara, isso para mim é muito gratificante, velho, e saber que, apesar de não fazer mais parte da tua vida, aquilo que você viveu e cantou marcou uma geração. E tá pra história aí e pronto, e hoje tá vivendo outra coisa que vai marcar outra geração. E, cara, ainda tô vivo, tô só com 51 ainda. Vamos que vamos, tenho um monte de projeto pra frente.“
Rodolfo ainda falou sobre a sua banda pós, Raimundos, o Rodox:
“Rodox, a gente lançou dois álbuns só. E aí eu me dediquei completamente à vida de igreja e minha música ficou mais de igreja mesmo, ainda que fosse bastante rock.
Rodox, cara, eu não planejei o Rodox de forma alguma. Música sempre foi uma terapia para mim, eu desabafo na música. Eu me curo na música, eu entro em contato com coisa do meu coração que eu não acesso de outra forma. Então, assim, meu dia mal vai sair algum som dali, sabe? Uma época difícil na minha vida vai sair música dali. E foi. E o Rodox, quando eu saí do Raimundos, cara, tô em casa tomando porrada de tudo que é canto, catei meu violão e comecei a cantar uma música. Botei o nome de ‘Cego de Jericó’, que era a única passagem da Bíblia que eu conhecia. Eu contei meu testemunho fazendo um paralelo com o cego de Jericó, né? E foi a primeira. Quando eu fiz a primeira, um baita HC forte para caramba, rapidão, falei: ‘Cara, isso aqui tá animal.’ Aí eu fiz uma outra que chamava ‘Olhos Abertos’ e uma outra que chamava ‘Deente’, que eu fiz pra minha esposa. E de uma só vez. Entrei em contato com o Bob, que era um DJ amigo nosso. Fui gravar na casa dele, que ele tinha um mini estúdio em casa. A gente fez as prévias lá. Falei com o Miranda, ou com o Miranda não, com o Tom Capone, que ele tinha produzido um monte de trabalho nosso na época do Raimundos e era diretor da Warner. Ele tinha me aberto as portas da Warner e falou: ‘A hora que você quiser gravar alguma coisa, a gente tá aqui de portas abertas.’ Entrei em contato com ele, compus umas outras e aí nasceu Rodox dessa espontaneidade. Saíram músicas que eu falei: ‘Cara, não vou ficar aqui sem fazer nada.'”
E você pensou em quem seria esse público?
“Não, eu só sabia que tinha um grito dentro de mim, né? Eu entendo que a música é um veículo para uma mensagem. E às vezes eu já errei com muitas músicas minhas, às vezes querendo colocar a mensagem com o veículo. Às vezes tem uma mensagem que é super calma e eu quis botar numa pancadaria, não funciona. Tive que fazer outra versão depois. Então tinha um berro saindo de dentro de mim e tinha que sair no hardcore. Isso daí tinha que sair naquele metalzão. Rodox saiu extremamente pesado porque tinha um berro saindo ali, ainda que fossem músicas querendo falar de Deus e daquilo que eu tava vivendo, era um grito. Então esse veículo foi fantástico até que minha vida acalma, até que o coração acalma e você não quer mais gritar.
Sabe, muita gente não entende. ‘Pô, que você abandonou o rock?’ Não é que eu abandonei o rock, cara, é que tem um novo som dentro de mim, tem um outro time, tem um outro ritmo dentro de mim. A minha mensagem hoje… Se algum dia vier uma mensagem berrada, eu berro ela. Não veio, eu não vou provocar isso só para agradar outros por uma questão de mercado. Seria… pô, se for para ficar rico com música, eu sei como fazer isso. Só fazer o que eu fazia, tem a fórmula já. Mas não é esse o alvo, o alvo é deixar um legado, é deixar porque música não passa. Essas coisas vão ficar. Então, assim, entender que a música funciona demais como ensino. Sabe, hoje em dia, por conta de ter passado tanto tempo pregando evangelho, estudando a Bíblia, hoje o que eu canto, eu tenho mais preocupação com aquilo que tô cantando porque eu sei que música ensina. Quantas músicas me ensinaram a respeito do Senhor e a respeito de tantas outras coisas, sabe? Então, hoje eu tenho mais preocupação com ter uma teologia sadia dentro da poesia e da arte.”
O trecho pode ser visto aqui.