Rotting Christ executa show austero em noite de casa lotada
Texto por: Metalphysicist
Fotos: André Tedim
Para nossa sorte, o Rotting Christ anunciou um giro pela América Latina no início de 2024, incluindo o Brasil em sua rota, sendo que acompanhei o show deles em 29/02, em SP – Carioca Club.
Os gregos tocaram numa quinta-feira – dia da semana não muito usual para show de grandes bandas – mas funcionou perfeitamente bem: show com banda única, iniciando às 20:30 e encerrando-se 21:30, com o público lotando a casa.
O Rotting Christ é uma banda com identidade forte, flertando com o NWOBH de primeira hora e, principalmente bandas mais velozes e agressivas, como Venom e Celtic Frost, em período próximo ao início das atividades. Então, posso falar, sem medo de errar, que o som do Rotting Christ, tem muita influência de … Rotting Christ! Isto porque a banda lançou seu primeiro álbum em 1993 (“The Mighty Contract”) e jamais deixou de lançar um álbum a cada 3 anos, até hoje. Então são mais de 30 anos moldando a identidade própria.
A noite começa com “666”, uma das preferidas dos fãs, que respondem, erguendo os punhos e balançando as cabeças e aplaudindo Sakis, quando ele se comunica com os presentes, tornando a noite uma comemoração introspectiva e um convite para os fãs embarcarem na Missa Negra e tomarem contato com a parte mais obscura de nossas mentes.
Destaque para “Demoan Vrosis”, música que representa muito o Black Metal com identidade própria, diluindo as convenções do gênero em sonoridades pagãs da Grécia, apostando em Cantos Gregorianos na ambiência das músicas e abrindo espaço para o líder e idealizador da banda, Sakis Tolis vociferar, com seu vocal característico, modalizado por uma angústia e agressividade permanentes. (caso você não saiba, O Canto Gregoriano é um tipo de canto litúrgico monofônico, realizado em uníssono por um coro, geralmente praticado por monges, acompanhando sua melodia as palavras bíblicas.)
Destaque também para o som da casa, que equalizou na medida a presença de cada instrumento e colocou o volume lá no talo, para os integrantes da banda deitarem e rolarem no palco do Carioca Club, sendo que do baixista Kostas “Spades” Heliotis agita pra caralho no palco girando a 1000 por hora os cabelos freneticamente, praticamente durante todo o show. Mas, com o calor insuportável que estava naquela noite em São Paulo, o baixista – e também os outros integrantes – estavam pedindo arrego, na parte final do show. Kostis Foukarakis (guitarra) cumpre bem seu papel e ajuda muito na performance de palco perfeita da banda, enquanto Themis Tolis tem uma disciplina impressionante nas conduções de bateria, o que colabora muito para cravar em pedra a sonoridade pesada e austera da banda.
O Rotting Christ tocou 17 músicas nesta noite, com Serkis no final do show, já se sentindo à vontade e próximo do público, aproveitou para, logo após a execução de “The Raven” (com o público participando de ponta a ponta), perguntar se a audiência queria que a banda tocasse mais uma ou duas músicas, em língua portuguesa.
Claro que a rapaziada respondeu que sim e os mano da Grécia, já quebrados pelo calor desta quarta-feira, executaram “Noctis Era”, “The Sign of the Evil Existence” e “Fgmenth, Thy Gift”, quando me dei conta de como os solos de Sarkis são muito foda e que também saem do padrão Black Metal usual, com uma pegada mais NWOBH, abusando de whas-whas em alguns momentos dando um toque mais melódico em algumas músicas.
O show do Rotting Christ foi cravado, apresentando-se com garra e entrega total em cima do palco. Só o melhor. Nem mais, nem menos.
Agradecimentos a Estética Torta pelo credenciamento.
