Textures triunfa na estreia em solo brasileiro com Metalcore Progressivo poderoso e impressões positivas do público

Texto: Tiago Silva

A estreia da banda holandesa de Metalcore Progressivo e djent Textures no Brasil, que ocorreu no último dia 16 de março no Hangar 110, na região central de São Paulo, pode ser definida como um verdadeiro “banquete” de técnica, intensidade, variações rítmicas e principalmente de uma troca de energias frenéticas entre fãs e integrantes da banda. O evento, organizado pela produtora Overload, marcou o show único que a banda fez em solo brasileiro nesta primeira passagem, sendo ele parte de uma turnê latinoamericana que também visitou, em datas anteriores, as capitais Buenos Aires (Argentina) e Santiago (Chile), sendo a última citada no festival CL.Prog – que também contou com o Leprous, banda que também se apresentou no Brasil três dias antes.

Apesar de um Hangar que não teve sua pista totalmente ocupada – com um volume de público que ocupou espaços até mais ou menos a região da pilastra da casa de eventos – ultrapassando-a apenas nos momentos de abertura de roda -, a intensidade do público, inflamada por uma sonoridade técnica e poderosa dentro das nuances que englobam o Metalcore e o Metal Progressivo presentes em todas as fases e álbuns lançados, foi constante do início ao fim. O grupo selecionou 17 faixas, sendo quatro delas em dois medleys que reduziram o setlist a 15, abrangendo assim todos os cinco álbuns de estúdio lançados até 2016 e mostrando que a banda não perdeu, desde o retorno do hiato entre 2018 e o final de 2023, a intensidade sonora no palco.

Além dessa energia performática e de uma miscelânea de variações rítmicas e vocais, riffs, linhas impactantes da bateria e nuances marcantes dos teclados, os membros da banda também se destacaram por mais respostas fidedignas à recepção de um público que, em nenhum momento, ficou parado, seja pelos headbangings, seja pelos intensos moshes que “explodiram” de vez a partir da música “New Horizons”: após o final da apresentação, o sexteto neerlandês fez questão de cumprimentar cada fã que se aproximou do palco, um gesto que, mesmo que não viesse junto a possíveis trocas de ideias por conta do tempo para o pós-show, se tornou algo marcante e uma parte significativa deste “pacote de boas vindas” que a banda deu ao público brasileiro presente.

Pré-show

 

O movimento no horário de abertura dos portões do Hangar 110 ainda era baixo, com poucos fãs na fila. Desses, uma parte considerável usava camisetas do Leprous, banda de Metal Progressivo norueguesa que se apresentou na capital paulista no dia 13. Uma evidência de como há fãs que tendem a abraçar o Metal Progressivo, independentemente das mesclas de outros possíveis subgêneros musicais que essas bandas incrementem em sua sonoridade.

O ritmo tranquilo se estendeu durante todo o período de espera, uma vez que a chegada de mais pessoas foi gradual e o palco ficou totalmente pronto, com pequenos ajustes que só foram realizados por um roadie da banda nos trinta minutos finais.Uri Dijk, tecladista do Textures, foi ao palco faltando dez minutos para o início do show, apenas para ativar seu kit e conectar o fone de ouvido.

Às 20h e com um Hangar relativamente cheio – apesar de um bom espaço na faixa de transição que compõe o bar, o caixa e os banheiros -, o debute do Textures em solo brasileiro deu início.

subtítulo do show

 

O apagar das luzes veio junto com uma batida de música eletrônica que, mesmo não sendo uma introdução oficial do setlist da banda, trouxe uma certa referência aos Países Baixos e seu notável destaque no estilo musical. Ao término dela e sob outra sonoridade Bart Hennephof (guitarra), Joe Tal (guitarra), Remko Tielemans (baixo), Uri Dijk (teclado) e Stef Broks (bateria) desceram as escadas de acesso ao palco do Hangar 110, para delírio inicial do público presente.

“Surreal State of Enlightenment” foi a primeira faixa tocada na noite. Ela, que finaliza o disco “Drawning Circles” (2005), é um longo instrumental encabeçado pela cadência rítmica feita por Remko Tielemans e Stef Broks e as linhas agudas e simples das guitarras de Bart e Joe, fatores que levaram o público a banguear junto com a banda neste começo de show.

Logo na sequência, com a entrada definitiva de Daniël de Jongh (vocal) ao palco e sua saudação ao público, o Textures deu sequência com outra faixa do mesmo álbum, “Regenesis”, que trouxe de cara a sonoridade do Metalcore Progressivo proposto pela banda. A mescla do peso das guitarras com os ritmos progressivos quebrados trouxe mais ânimo ao público, no qual parte dos fãs que estavam mais à frente, quase que em um ato no “modo automático” somado com um sinal feito por De Jongh,, iniciou o primeiro bate-cabeça da noite durante o breakdown da faixa e, depois disso, ainda houve um grito coletivo no verso “We’ve become what we despise”. As ovações ao final da música, claro, foram altas e abrangentes.

“Storm Warning” foi a primeira música a representar o álbum “Silhouettes” (2008), das seis previstas no setlist. As linhas pesadas também deram espaço para um refrão melódico, muito cantado pelo público, assim como trouxe os primeiros guturais e versos em vocal sujo de De Jhong. A finalização da faixa, em alto peso e energia da banda, levou a mais um clamor coletivo dos fãs no Hangar. Já “Reaching Home”, do álbum “Dualism” (2011), trouxe uma cadência rítmica mais tranquila para o show, com destaque para as palmas pedidas por Joe Tal – acompanhadas pelo público – no início e os pulos coletivos nas últimas partes animadas da faixa, somados ao acompanhamento da letra.

A falta de um mosh pit mais insano, ainda mais se tratando de um evento no Hangar 110, era evidente até este momento do show. Porém, tal situação, seja por ainda não ter uma faixa ideal no início do show, seja por uma possível timidez do público, mudou completamente em “New Horizons”, uma das principais faixas do último álbum lançado pela banda, “Phenotype” (2016) e que contou com luzes verdes e amarelas do palco para a pista. A escalada veio com a parte inicial, num tom mais rítmico, e com o melhor do lírico vocal de De Jongh. No entanto, os versos “Rise and go against the entity” e, principalmente, “Rise above the Sky”, mudaram totalmente o clima da casa de shows, com um mosh mais amplo e intenso e com o “banguear” de quem não estava na roda. Em resumo, ninguém ficou parado nesta música. Tudo isso em um esbanjar de técnica da banda por diversos momentos da faixa.

“Old Days Born Anew” trouxe uma sonoridade com momentos mais separados entre o Metalcore e o Metal Progressivo na primeira parte, com a combinação mais presente da metade para o final e a inclusão de linhas de Djent no último minuto. A roda no meio da pista seguiu, apesar de uma intensidade menor nesse momento. Daniël de Jongh mandou muito bem nos vocais mais guturais, somado a uma performance realizada na medida do espaço que tinha no palco, a incluir um trecho em que cantou ajoelhado.

Em seguida, o Medley das faixas “Helmet” e “Polars”, listada como “Helmets / Polars”, trouxe muito do peso Metalcore Progressivo do primeiro álbum da banda, “Polars” (2004), a contar o trecho da segunda faixa e o breakdown que, além do pulo de Tielemans, que partiu do pedestal da bateria, também fez com que o público, momentaneamente intenso nos bangs, parcialmente voltasse para um intenso mosh. Tudo isso sob um show de luzes frenético no palco. A mesma intensidade das faixas anteriores prosseguiu em “Swandive”.

“Messengers” explorou mais o lado lírico da voz de Daniël de Jongh do começo ao fim, apesar do uso pontual de guturais impactantes. O público, mais entretido, também acompanhou em momentos de coro com o vocalista nesta música, mas a intensidade foi maior com a primeira parte de “Awake”, num ritmo mais pautado ao Metal Alternativo após sua longa introdução e que, na sua segunda parte, retomou ao estilo musical mais concreto da banda, com riffs de peso em ritmos quebrados. guturais poderosos de Daniel, uma intensidade instrumental e performática da banda por um todo e, claro, mais moshes por parte de um público novamente incentivado pelo piscar das luzes e que, ao final, gastou mais um pouco de energia para gritar, de forma uníssona, o nome da banda repetidamente.

O grupo partiu para uma espécie de pausa, mas sem deixar que a música parasse. Isso porque Uri Dijk foi o único a ficar no palco para tocar “Zman” que, no álbum “Phenotype”, além de ser a penúltima faixa, é a que antecede “Timeless” e que, neste show, transitou rapidamente, como um medley, quando o restante da banda voltou para a reta final do show. E foi com Timeless que veio a melhor representação das nuances da sonoridade mais recente da banda, ainda dentro do contexto de Metalcore Progressivo. A impressão positiva passada pelos fãs levou Remko Tielemans a mandar corações para todos ao final da faixa.

A receptividade do público brasileiro voltou à tona no momento em que todos os membros da banda se alinharam e sentaram no pedestal da bateria, observando firmemente, por alguns minutos, os aplausos e gritos em nome do grupo neerlandês. Tal tema ainda foi abordado por Daniël em um breve discurso, encerrado com uma pergunta repetida várias vezes: “Vocês querem mais?”.

E foi com a calorosa resposta positiva do público que o Textures entrou na reta final do show, a começar com “One Eye for a Thousand”, em que o vocalista da banda, após um início de ótima repetição de ritmo instrumental nos primeiros dois primeiros minutos, encabeçou ótimos guturais que transitaram a sonoridade do Metal Progressivo para o Metalcore de forma primorosa. O breakdown nesta parte levou o público a reviver o mosh na pista com alta intensidade. Todos os integrantes da banda, com a exceção do baterista, terminaram esta faixa abaixados, com um bom propósito para a reprodução seguinte.

O frontman do Textures e seus companheiros de banda organizaram o público para uma Wall of Death na faixa “Stream of Consciousness”, do disco “Drawning Circles”. O movimento, a partir do agito instrumental da faixa – e após a intro natural e lenta dela -, os dois lados de fãs participantes se choraram, convertendo automaticamente em um bate-cabeça maior e mais intenso, incentivado por uma transição para um ritmo mais intenso dos músicos. Daniël ainda pediu um circle pit que, assim como o Wall feito no começo da música, virou outro mosh. As transições constantes na faixa ainda levaram a um breakdown que levou os fãs da banda a mais um headbanging quase que coletivo, num ambiente intenso que só terminou quando, novamente, os integrantes da banda se abaixaram – neste caso, somente os braços e a cabeça.

“Singularity” veio com a clara mensagem do vocalista do Textures: “Ainda não acabou”. E realmente não, pois o peso sonoro e a intensidade dos músicos incentivou o público a mais uma poderosa roda que ora parava por conta da atenção dada – com muita razão – às transições de ritmo da faixa que, em certo momento eram mais lentas e, em outro, mais rápidas. Todas, claro, com o melhor da variação técnica da banda. Ao fim da música, além de um novo breakdown que levou a um novo balançar de cabeças, houve uma sincronia das luzes com as últimas notas daquela faixa, num piscar e acender marcantes.

O fim do show se deu com “Laments of an Icarus”, música do disco “Silhouettes” que elevou o peso sonoro daquela noite, além de mostrar um outro nível poderoso de guturais cantados por Daniël, linhas de bateria marcantes de Stef, além de um raro e breve – porém, marcante – solo de guitarra por parte de Joe Tal. As “últimas gotas de energia” do público foram soltas no breakdown que iniciou a reta final da faixa, onde até quem não foi constante na roda apareceu e ajudou a mostrar o poder do público brasileiro à banda debutante. O mesmo valeu para todos os integrantes que, mesmo após 1h30 de apresentação, ainda tiveram poderio suficiente para uma finalização marcante da banda. Poderia ser o fim da parte musical do show, entretanto não foi o fim da banda no palco.

A afirmação no final do último parágrafo foi colocada justamente porque a banda ainda passou quase dez minutos no palco, seja para distribuir palhetas, setlists e baquetas da apresentação para o público, seja para cada membro cumprimentar cada fã que foi pra parte frontal do palco para ter algum tipo de contato com eles. Foi algo que me marcou na mesma proporção dos fãs – porque os membros do Textures não saíram até que eles pegassem na mão de cada um que estava ali. Mesmo com uma certa orientação de saída dos roadies. E pareceu um ato não só de humildade, como de marcar ainda mais uma estreia que basicamente não gerou pontos negativos em nenhum aspecto. Do começo ao fim. E eu, como aniversariante do dia, considerei que presenciar todo esse contexto e os acontecimentos como um baita presente.

Confira o setlist da apresentação:

 

  1. Surreal State of Enlightenment
  2. Regenesis
  3. Storm Warning
  4. Reaching Home
  5. New Horizons
  6. Old Days Born Anew
  7. Helmets / Polars
  8. Swandive
  9. Messengers
  10. Awake (com longa introdução)
  11. Zman / Timeless
  12. One Eye for a Thousand
  13. Stream of Consciousness
  14. Singularity
  15. Laments of an Icarus

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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