Simple Minds mostra mais vigor do que público morno em passagem por São Paulo

Texto: Daniel Reigas
Foto: Gabriel Gonçalves

Mesmo após 12 anos sem vir ao país e tendo uma das duas apresentações canceladas (a do RJ – possivelmente devido à coincidência da data com o mega show gratuito de Lady Gaga na praia de Copacabana), os escoceses donos de alguns dos maiores hits dos anos 80 tiveram recepção morna em SP no último domingo, 04 de maio, no Espaço Unimed.

A formação atual traz, além dos fundadores Jim Kerr (vocal) e Charlie Burchill (guitarra), uma seleção de colaboradores excepcionalmente talentosos: Ged Grimes (baixo) e Sarah Brown (backing vocal), que já os acompanham há mais de 10 anos; o multi-instrumentista Gordy Goudie (violão e outros), e as mais recentes adições Erik Ljunggren (teclado) e Cherisse Osei (bateria).


Com o público bem distribuído entre os diferentes setores da casa, pontualmente às 20h, inicia-se o jogo de holofotes, o telão que até então exibia o banner da turnê com os símbolos da mãozinha, da coroa e do globo começa a transicionar e os músicos vão chegando e tomando seus postos. Jim já chega animado cumprimentando a plateia, em português mesmo, com um sonoro “Boa noite São Paulo!”. Na primeira metade do set, a banda faz um mix das canções mais antigas às da década de 90 e, claro, não deixa de divulgar o trabalho mais recente, Walk Between Worlds (2018), pra quem acha que eles não produziram nada nos últimos anos. A canção escolhida para abrir a noite é “Waterfront”. Jim a todo momento puxa a interação da plateia batendo palmas e perguntando, entre as músicas, se está tudo bem (“Everything ok?”); a banda é muito entrosada e se movimenta no palco conforme a música. Em ”The Signal and the Noise”, Charlie vem à frente do palco durante o solo e ganha até uma massagem nas costas feita por Jim; já em “Big Sleep” destaca-se a performance de Gordy com sua escaleta. É impressionante a voz de Jim ao vivo, com seu timbre peculiar, e que mostra estar em excelente forma no auge de seus 65 anos, alcançando os tons altos quando necessário, como em “Speed Your Love to Me”. O cantor diz ainda que é um prazer retornar ao país depois de tanto tempo.


Em “Hypnotised”, o telão faz jus ao tema e reproduz imagens de padrões hipnóticos, que refletem no slide de vidro usado por Charlie no riff característico da canção; Gordy encorpa o som com um violão ao fundo. “Estamos apenas aquecendo” (“we’re just warming up”), diz Jim, botando uns óculos escuros, e assim, esbanja performance em “This Fear of Gods”, deitando no palco enquanto rolam os backing vocals de Sarah e Gordy; o multi-instrumentista, aliás, mostra que também sabe cantar e na faixa seguinte, “She’s a River” vem ao centro do palco para performar junto a Jim e Sarah, que também é um espetáculo à parte com seu vozeirão. Na sequência, é hora dos holofotes se virarem para quem, desde a entrada, chamou a atenção pela energia e beleza: Cherisse manda aquele solo, e tenta coordenar as pedaladas do bumbo com palmas da plateia, embora essa pareça cansada demais para acompanhá-la. Ao final, atira suas baquetas pro alto e é enaltecida por Jim: “isso é o que eu chamo de girl power!”. E então, encerrando o primeiro bloco, temos “See the Lights”, com Jim pedindo a todos para levantarem as mãos.


A segunda metade do show é praticamente a execução da obra-prima “Once Upon a Time” (1985) na íntegra, só mudando a ordem e eliminando duas faixas. A faixa-título abre o set, assim como no disco, e quem sabe canta junto, seja os pa-pa-pa-pa que imitam o riff do teclado, seja acompanhando Sarah no u-o-o-o. Jim aproveita o momento para apresentar a banda, e depois seguem com “I Wish You Were Here” e “All the Things She Said”, com suas flores no telão. Sem mais delongas, chega a música mais esperada da noite: “Don’t you Forget About Me”, uma das únicas que o público sabia cantar junto, ao que Jim reconheceu e elogiou: “Vocês cantam lindamente!” (“you sing beautifully!”); Erik, Cherisse e Ged prolongam bastante o meio da música e Jim vai cantando baixinho, baixinho, até chegar num suspiro, antes do crescendo final para a parte do la-la-la-la, na qual ainda brinca: “não é uma música fácil de se cantar… vamos tentar em francês… alemão… japonês… e português!” e o público entra na brincadeira de “cantar” o lalala nos diferentes idiomas. Para encerrar o bloco, ainda temos a enérgica “Ghost Dancing”. Com um “Obrigado, desde Glasgow. Boa noite!”, Jim e sua tropa vão saindo do palco, acenando para todos e jogando palhetas/baquetas para alguns fãs mais próximos.

As luzes do palco se apagam, e uma movimentação na pista indica que parte do público já estava satisfeita com o que tinha visto até então. Porém, os músicos ainda tinham mais cartas na manga para o bis, como indicava o fato das luzes gerais da casa ainda não terem acendido. Aproveitando o ambiente de luz baixa, os escoceses vão retornando ao palco e executam a introspectiva e lenta “Dolphin”. “Nós não queremos ir embora!”, confessa Jim, e assim emendam “Someone Somewhere in Summertime”. Mas, certamente, quem havia ficado até ali era porque estava esperando a próxima faixa, outro estrondoso sucesso da carreira – “Alive and Kicking”. A voz de Jim ecoa pelo salão na intro icônica, e mais pro final, Sarah domina o palco. Os corais ficam a cargo de Gordy, Ged e do público. “Obrigado São Paulo! Por favor, nos deixem fazer mais uma!” pede Jim, e assim, com uma pomba branca no telão, a excelente “Sanctify Yourself” é a derradeira canção de despedida. Os músicos se despedem sorridentes e parecem ter se divertido, afinal a entrega deles foi impecável e a estrutura da casa colaborou para que tudo ficasse tecnicamente perfeito. Talvez tenha faltado apenas “Mandela Day”.


É uma pena que boa parte do público estava mais interessada em gravar o show ou postar fotos de si mesmos no local ao invés de aproveitar o momento – parece até que aqueles homens e mulheres na faixa média de 50 anos esqueceram como se divertiam antes da invenção do celular…

Setlist:

Waterfront
The Signal and the Noise
Speed Your Love to Me
Big Sleep
Hypnotised
This Fear of Gods
She’s a River
(Drum solo)
See the Lights
Once Upon a Time
I Wish You Were Here
All the Things She Said
Don’t You (Forget About Me)
Ghost Dancing
Dolphins
Someone Somewhere in Summertime
Alive and Kicking
Sanctify Yourself

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

2 thoughts on “Simple Minds mostra mais vigor do que público morno em passagem por São Paulo

  • maio 11, 2025 em 1:48 am
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    Quando criança lembro que a música “Don’t you Forget About Me” era tocada muito nas rádios da época!!!! Com o tempo vi o filme ¨Clube dos Cinco¨ de 85, que também tinha a trilha sonora e a música principal da banda como destaque!!!! “Don’t you Forget About Me” também foi usada e tocada no filme ¨A mentira¨com Emma Stone de 2010, recomendo esse filme!!!! E recentemente também foi usada no filme do Transformers ¨Bumblebee¨, que também recomendo…já que sou grande fã de tudo que é relacionado a coisa dos anos 80/90!!!! Tive uma história com Simple Minds, tenho boas lembranças da época e curtia muito o som dos caras…ainda curto!!!!! Valeu!!!!

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    • maio 11, 2025 em 12:59 pm
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      Adoro o filme Bumblebee, Abraços! Feliz dia das mães para todos.

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