Sirenia encanta fãs de São Paulo com repertório preciso em retorno à capital após mais de 13 anos

Texto: Tiago Pereira

Treze anos e quatro meses separaram a última vinda da banda Sirenia à cidade de São Paulo e, porque não, um pouco menos de tempo ao Brasil. Nesse meio tempo, a banda liderada pelo norueguês Morten Veland passou por mudanças na formação e lançou mais seis álbuns de estúdio, mas sem perder e, na volta para São Paulo, em 23 de março de 2025, apresentou uma miscelânea dos materiais novos e dos clássicos para um público parte com saudades, parte ansiosos para ver a banda pela primeira vez. O evento ocorreu na Jai Club, na Zona Sul de São Paulo, com abertura da banda brasileira Brightstorm e sob organização da Venus Concerts e da Caveira Velha Produções.

A passagem pela capital paulista marcou o segundo dos cinco shows que marcaram a terceira passagem do Sirenia pelo Brasil. Antes, o grupo se apresentou em Limeira, no dia 22 de março, além de ter passado por Santo André (26), Fortaleza (29) e Rio de Janeiro (30). E antes da vinda ao Brasil, a turnê latinoamericana também passou por países como México, Costa Rica, Colômbia, Peru, Argentina e Chile.

Tanto Brightstorm quanto Sirenia superaram os atrasos que envolveram as chuvas no final da tarde daquele domingo, além de enfrentar pontuais problemas de som que atrapalharam algumas das músicas. Ainda assim, entregaram shows incríveis para o público presente, que veio cada vez mais a partir da melhora do tempo na parte da noite.

Enquanto a banda de abertura focou em faixas de sua fase mais recente, com singles lançados principalmente nesta primeira metade da década, o Sirenia apostou na mescla de repertórios, focando nos primeiros álbuns da banda e nos últimos lançados, apesar de algumas representações de lançamentos entre o final e começo dos anos 2010. De todo modo, o impacto ao público foi pertinente.

Impactos da chuva pré-evento 

São Paulo viveu mais uma tarde de pancadas de chuva, o que impactou a minha ida no Jai Club. A sorte foi que ao chegar, em torno das 18h45, a abertura não havia começado por conta de mudanças nos horários do evento – algo publicado nos stories das redes sociais da organização – e, até mesmo, dos impactos que a chuva teria causado na logística da produção. Pessoas que chegaram mais cedo, segundo Pedro Delgado (Rato de Show) tiveram que aguardar a movimentação dos equipamentos da Sirenia antes de poderem entrar na Jai, em definitivo.

Com isso,no horário mencionado no parágrafo anterior, pouco menos da metade da pista da Jai já estava ocupada e os membros instrumentistas da banda de abertura, Bright Storm, concluíam sua passagem de som. Às 19h, o show de fato começou.

Brightstorm 

O quarteto de Metal Sinfônico de São José dos Campos, formado em 2012, montou um setlist de 12 faixas para a abertura da noite, sendo a maioria de singles lançados na década vigente. Fábio Matos (guitarra), Batera Mineiro (bateria) e Leandro Kbz (baixo) iniciaram a faixa “To Follow My Heart”, single de abril de 2022, após uma breve introdução, dando pretexto para a entrada  de Naimi Stephanie (vocal), que logo iniciou a parte cantada da faixa e encantou boa parte do público com seu timbre de voz. Um ponto notável do palco era o tripé de apoio do microfone de Naimi, com um LED RGB que iluminava a parte central. No entanto, na faixa em questão e em alguns momentos das seguintes, o som da guitarra de Fábio pareceu muito baixo, sendo sobreposto pelos instrumentos dos demais parceiros de banda, muito provavelmente por causa de alguma falha no sistema instalado na Jai.

“My Mind” deu sequência à boa cadência da banda, a destacar a voz de Naimi e as linhas fortes do baixo de Leandro. Ao final da faixa, um membro da produção foi ao palco para organizar algum equipamento e pedir para a equipe de som um ganho no retorno da vocalista. Em seguida veio “Deep Higher”, com ótimas linhas de bateria de Mineiro e ótima performance dos instrumentistas de corda, com linhas poderosas e bangings simultâneos no palco.

A faixa, “The Change of Season”, de dezembro de 2023, teve mais destaques do constante carisma de Leandro no palco. O baixista, além da boa condução, se mantinha atento ao público com o sorriso no rosto, assim como chamou Fábio para interações, tocando frente a frente no palco. Ao final desta faixa, quando se posicionou para a seguinte, Leandro ainda perguntou ao público: “Tá da hora?”. E a resposta foi enérgica por parte de quem estava na Jai Club, apreciando o show do Brightstorm.

Já “Never Alone” foi uma das faixas de destaque da apresentação, com um trecho inicial mais pesado, ótima condução da banda por um todo e o primeiro – e muito bom – solo de guitarra de Fábio. Naimi, inclusive, cantou mais próxima do público, por ter ficado boa parte do tempo na parte mais frontal. Em seguida, “The Awakening”, single mais recente do Brightstorm (julho de 2024), veio com um pedido tímido – porém, proativo – de Leandro, ao pegar o celular durante a introdução gravada, ligar o flash de seu celular e balançar até que o público o acompanhasse. Naimi segue a constância da boa voz, sendo ovacionada ao final da faixa.

Na reta final da abertura, o Brightstorm tocou “Powerfull”, single de 2023 com ritmo mais acelerado em comparação às faixas anteriores. O ânimo dos membros levou a mais uma faixa muito bem cadenciada, a destacar os pedais duplos do Batera Mineiro, na reta final da faixa, somados a ótimas viradas. Já a última faixa foi “Lost”, dedicada por Naimi às mulheres presentes na Jai Club, que emendou elogios à presença feminina na cena. Mais uma faixa que apresentou o melhor de cada membro do Brightstorm, sendo assim mais uma evidência do potencial que a banda, com esta nova formação, tem e demonstra ao vivo.

Sirenia 

Com a transição dos equipamentos e ajustes para o show principal, rapidamente me direcionei pro lado de fora da Jai Club, num momento em que já não havia mais chuva na região e o movimento de chegada dos fãs cresceu.

Tudo ficou pronto em torno das 20h, com o início do show, de fato, às 20h11. A introdução “Seti”, que inicia o álbum “The Seventh Life Path” (2015), tocou enquanto Michael Brush (bateria), Nils Coubaron (guitarra), Emmanuelle Zoldan (vocal) e Morten Veland (guitarra, backing vocal e vocal principal em algumas das músicas) subiram ao palco da Jai Club. “Addiction No. 1”, do disco “Riddles, Ruins & Revelations” (2021), abriu oficialmente o setlist como uma boa pancada de Metal Gótico e Metal Sinfônico, a destacar a voz incrível de Emmanuelle e o primeiro técnico e ótimo solo de guitarra de Nils Coubaron, dentre os muitos que soltaria na noite. Os fãs na banda, claro, estiveram eufóricos durante e após a faixa em questão, ovacionando e muito os músicos.

“Dim Days of Dolor”, do álbum de mesmo nome lançado em 2016, deu sequência ao show com a continuação da alegria do público, que chegou a pular no começo da faixa. Tudo pareceu ok até o primeiro refrão, porém o microfone de Emmanuelle demonstrou algumas faixas a partir da segunda parte da faixa, com chiados que afetaram até mesmo a percepção das guitarras na condução e no solo. A vocalista do Sirenia, aparentemente incomodada, chegou a retirar o fone de retorno até que a equipe fizesse os ajustes depois da música.

O escape da banda, durante os ajustes de som, foi deixar seu guitarrista solo brilhar mais um pouco. Assim Nils improvisou alguns solos e o riff de “Wasted Years”, do Iron Maiden, para delírio de alguns fãs da lendária banda britânica. Tudo correu bem, as correções foram realizadas e as energias do público e da banda não caíram no decorrer do show.

O quarteto seguiu com “Into the Night”, do penúltimo álbum de estúdio lançado, “Arcane Astral Aeons” (2018), num ritmo que aumentou a energia da casa após a entrada gravada da faixa, de piano. Palmas coordenadas foram destaque na segunda faixa, assim como Nil Coubaron solou muito bem novamente.

Emmanuelle, então, anunciou o momento de tocar a primeira música do mais recente disco lançado pelo Sirenia, “1977” (2023). A faixa da vez foi “Deadlight”, com boa condução da banda e a voz da vocalista em evidência. Depois, há uma “volta no tempo” com “The Last Call”, do terceiro álbum da banda, “Nine Destinnies and a Downfall” (2007), que levou parte do público a balançar a cabeça fortemente no começo, além de fazer com que Nils, além de bons solos, também saudasse alguém que estava na lateral do palco, seja com o levantar de sua lata de cerveja, seja mandando um coração com as mãos.Michael Brush também se destacou com poderosas linhas na reta final da música em questão.

Fãs mais antigos do Sirenia comemoraram muito quando o início de “Lost in Life” foi tocado no PA e, depois, conduzido pela banda. Era possível vê-los pular momentaneamente no começo e cantar a altos pulmões nos momentos de refrão. A banda, na mesma sintonia, soube conduzir muito bem a faixa.

Depois, em “In Styx Embrace”, foi a vez de Morten Veland assumir o vocal principal e atuar tanto no microfone, quanto na guitarra, na maior parte da faixa, com momentos de contraltos de Emmanuelle bem entoados. De outros momentos em destaque desta faixa, vale citar a introdução de ópera, as palmas do público em determinados momentos e outro solo destacado de Nils, no meio da faixa.

Já “This Curse of Mine” veio emendada ao final da música anterior, mantendo o peso e a sonoridade do Metal Sinfônico e com a retomada de Emmanuelle como vocal principal. A música, segunda a representar a fase do disco Riddles, contou com graves notas de guitarras, além de momentos de pedal duplo da bateria bem combinados com o solo – e até após esse momento -.

Sob muitos aplausos com o fim da faixa anterior e em semblante animado – com algumas brincadeiras no discurso -, Emmanuelle anunciou mais músicas do último álbum de estúdio da banda, “1977”. Sua animação seguiu durante “A Thousand Scars”, pois dançou em momentos instrumentais da faixa e foi enfática nos momentos de voz mais erudita, aplaudidos pelos fãs, em meio a mais uma ótima mescla do Metal Gótico com o Metal Sinfônico. Depois, em “Nomadic”, o som se tornou mais pesado, inclusive com outra ótima combinação do solo de guitarra de Nils com o pedal duplo Brush.

Morten Veland levou o público ao delírio com seus agradecimentos na língua portuguesa, ao dizer: “Muito obrigado, amigos brasileiros! Vocês são fodas demais!”, seguido de outro discurso de agradecimento, já em inglês. Foi o momento de descanso rápido da banda – mais extenso para Emmanuelle antes de “Meridian”, primeiro clássico do disco “At Sixes and Sevens” a ser tocado na noite. Morten voltou a ser o vocalista principal, com um timbre estridente, ao nível de um verdadeiro viking. Brush têm momentos variados e técnicos na bateria, a contar pedais duplos e até blast beats; já Emmanuelle voltou ao palco para cantar na segunda parte da faixa em questão. Morten, inclusive, foi ovacionado ao fim da música.

Outro ponto áureo do show veio com o cover de “Voyage Voyage”, cover da compatriota de Emmanuelle Zoldan, a cantora francesa Desireless. Ao todo, uma ótima execução da vocalista e da banda, mostrando seu francês pela primeira vez na noite e encantando um público que cantou junto por toda a faixa. Ao final da faixa, Morten e Nils interagem mais, com direito ao solista receber cerveja de seu companheiro de banda na boca. O mesmo Nils discursou rapidamente, citando inclusive as influências do Brasil como Sepultura e Kiko Loureiro (ex-Angra e Megadeth).

A continuidade se deu com mais duas faixas poderosas. A primeira foi “Sister Nightfall”, outro clássico do primeiro álbum do Sirenia que foi muito comemorada pelos fãs a partir do riff tocado – destaque para um pequeno grupo à esquerda do palco, na visão do público, que fez o clássico headbanging por quase toda a linha inicial da música. Nils, inclusive, assume o vocal nessa faixa, dividindo com Emmanuelle e com momentos também com Morten. Já a segunda foi uma volta a “1977”, com a música “Wintry Heart”, iniciada após uma brincadeira da banda com esta ser ou não a última música da noite. Nela, um ritmo mais agitado e um ótimo refrão, além de momentos de destaque do guitarrista solo e do baterista.

Não houve uma pausa mais extensa, como era previsto. Assim, o quarteto prosseguiu a reta final com mais duas faixas do disco “Nine Destinies of a Downfall”, sendo elas as comemoradas e bem conduzidas “My Mind’s Eye” e “The Other Side”.

Por fim, “The Path to Decay”, que abre o disco “The 13th Floor”, fechou a apresentação da melhor forma.             Esta, que é uma das músicas mais conhecidas do Sirenia, foi muito comemorada pelo público, tendo uma primeira parte muito bem executada por todos os músicos e a vocalista da banda. Já na segunda parte, o balanço de braços do público trouxe uma ótima interação final e uma continuidade ao ótimo solo de Nils, feito antes deste ato; e um interlúdio para a reta final da faixa, numa finalização impressionante encabeçada pelo pedal duplo da bateria de Michael Brush.

Ao fim do show e sob a Outro gravada de “Seven Sirens and a Silver Tear”, Emmanuelle se despediu, mas deixou a mensagem de que a banda voltaria numa próxima, em breve. Tal mensagem plantou a expectativa perfeita para os fãs do Sirenia, que desde aquele momento, muito provavelmente começaram a esperar pelo próximo show da banda.

Confira os setlists abaixo:

Brightstorm

  1. To Follow My Heart
  2. My Mind
  3. Deep Higher
  4. The Change of Seasons
  5. Never Alone
  6. The Awakening
  7. Powerfull
  8. Lost

Sirenia

 

Intro: Seti

  1. Addiction No. 1
  2. Dim Days of Dolor
  3. Into the Night
  4. Deadlight
  5. The Last Call
  6. Lost in Life
  7. In Styx Embrace
  8. The Curse of Mine
  9. A Thousand Scars
  10. Nomadic
  11. Meridian
  12. Voyage Voyage (cover de Desireless)
  13. Sister Nightfall
  14. Wintry Heart
  15. My Mind’s Eye
  16. The Other Side
  17. The Path to Decay

Outro: Seven Sirens and a Silver Tear

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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