Slayer: há 28 anos, banda fazia sua homenagem às bandas punks, lançando “Undisputed Attitude”

Há 28 anos, em 28 de maio de 1996, o Slayer lançava “Undisputed Attitude“, primeiro e único disco de covers que os reis do Thrash Metal lançaram em toda a sua carreira e que é tema do nosso bate-papo desta quinta-feira.

O Slayer havia gravado o excelente “Divine Intervention” (1994), que rendeu ao grupo turnês em todos os cantos do mundo, inclusive no Brasil, onde a banda tocou na primeira edição do Monsters of Rock tupiniquim, ao lado de gente como Black Sabbath, Kiss, Suicidal Tendencies, além das bandas nacionais que emergiam naquela época, como Raimundos, Angra, Dr. Sin e os veteranos do Viper. Mas o Heavy Metal já não era o estilo que vendia e dava visibilidade, embora tivesse (e ainda tenha) uma base muito solidificada de fãs.

Era a época em que a mídia tentava “matar” o Metal ao mesmo tempo que apresentava bandas como Green Day e o The Offspring como expoentes do Punk. Nada contra estas duas bandas, que eu até admiro alguns dos trabalhos realizados ainda naquela época, porém, nem de longe aquilo era verdadeiramente Punk. Pensando nisso, Tom Araya, Jeff Hanneman, Kerry King e Paul Bostaph se juntaram e na companhia do produtor Dave Sardy, a banda entrou no “Capitol Studio“, em Los Angeles, para gravar esta verdadeira pérola. Uma banda de Thrash Metal tendo que ensinar o que era Punk Rock. E o tiro foi certeiro, pois a banda optou por deixar de fora os nomes mais conhecidos como Ramones, Sex Pistols, Dead Kennedys ou Agnostic Front, por exemplo, apostando em nomes como Verbal Abuse, D.I., Dr. Know, mas também abrindo espaço para bandas conhecidas no cenário como Minor Threat, TSOL, D.R.I. e The Stooges. Dave Sardy assinou a produção, com a própria banda também colaborando neste sentido.

Em pouco mais de 32 minutos, o disco mostra toda a raiva que a banda procurou (e conseguiu, com êxito) passar. Na do lançamento, Tom Araya concedeu uma entrevista para a revista “Rock Brigade” onde ele dizia que estava furioso em ver bandas que não tinham nenhuma atitude sendo chamadas de Punk e que por isso, resolveram lançar este tributo, e a explicação justifica o título escolhido para o play.

Daí a gente coloca a bolacha para rolar e de cara, temos 4 músicas do Verbal Abuse, então desconhecida por este que vos escreve… Lembremos que em 1996, não tínhamos as facilidades de ter plataformas de streaming. A internet somente era acessível após a meia-noite e dependia da linha telefônica, e adquirir discos, embora fosse muito mais fácil do que na década anterior, ainda ficava complicado. Mas ao escutar estas 4 músicas, divididas em dois “medleys“, eu pensei comigo: “Uau! Isso é realmente sensacional”. E foi o sentimento que a banda conseguiu passar com “Desintegration/ Free Money” e “Verbal Abuse/ Leeches“. Todas pesadas, rápidas, cruas e grosseiras.

A faixa três é uma homenagem ao T.S.O.L, com “Abolish Government/ Superficial Love“, que ficaram absurdamente boas! Curtas e grossas, você escuta e acha que Green Day é como se fosse a “Galinha Pintadinha”.

Temos nas músicas quatro e cinco, respectivamente, “Can’t Stand You” e “Ddamm” que eram originalmente pertencentes ao projeto Punk de Jeff Hanneman, Dave Lombardo e Rocky George (Suicidal Tendencies), chamado Pap Smear. Juntas, as duas somam pouco mais de 2 minutos. Enquanto que a primeira é uma paulada bem direta e crua, a segunda é mais trabalhada e ficou perfeita tendo as guitarras lapidadas pela dupla Hanneman/King enquanto que os gritos de Araya nesta música soam bastante pertinentes.

A faixa seis traz até o momento a banda mais conhecida das que estão sendo homenageadas: O Minor Threat se faz homenageado através da maravilhosa “Guilty of Being White”, rápida e certeira.

O Verbal Abuse volta a ser alvo de tributo dos caras na faixa sete, com a nada menos do que estupenda “I Hate You”, e a música além de ser excelente, pesada e com um andamento não muito comum para o estilo Punk. E a letra é raivosa, onde a pessoa que é o alvo do ódio é simplesmente execrada. Imagine alguém dizendo a outra pessoa que “ela é um desperdício de esperma”. É mais ou menos disso que a letra trata. E os caras produziram um videoclipe oficial, que chegou a ser veiculado na MTV, em tempos que a emissora evocava (em vão) pelos quatro cantos do planeta, que o Metal estava morto. Hoje temos a certeza de que não passava de um blefe.

O esporro sonoro continua com a oitava faixa, que é o Medley para “Filler/ I Don’t Hear It“, outra canção do Minor Threat e que o Slayer deixou destruidora. A seguir, temos “Spiritual Law“, do D.I. e essa parece até uma canção do Slayer da época do “Reign in Blood“. Fantastica.

A faixa de número dez é a que eu particularmente considero como a melhor do álbum e atende pelo nome de “Mr. Freeze“, do Dr. Know e os riffs reproduzidos aqui pela dupla Kerry King e Jeff Hanneman são fenomenais e um desafio ao ouvinte a manter seu pescoço inerte enquanto a música é executada.
O álbum continua, homenageando o D.R.I., o D.I. e o The Stooges, com “Violent Pacification“, “Richard Hung Himself” e “I Wanna be Your God“, respectivamente, sendo que essa última teve uma sutil mudança, já que seu título original é “I Wanna be Your Dog‘. Será que o excêntrico Iggy Pop ficou satisfeito com a alteração feita pelos caras do Slayer? Não sabemos.

A última música é autoral e atende pelo nome de “Gemini“, bem arrastadas, sombria e pesada, meio que na linha do que eles produziram em “Divine Intervention“. Boa canção. E em breves 32 minutos temos uma verdadeira aula de Punk Rock. É um álbum simplesmente imperdível. Entretanto, mal sabíamos que logo depois eles iriam lançar aquela coisa pavorosa que é o “Diablos in Musica”.

O álbum teve um bom desempenho pelos charts: 16° na Austrália, 20° na Suécia, 22° na Nova Zelândia, 27° na Finlândia, 31° no Reino Unido, 33° nos Países Baixos, 34° na “Billboard 200“, 38° na Bélgica, 40° no Canadá, 43° na França e Austrália e 43° na Alemanha. Emplacou o clip de “I Hate You” na MTV, a mesma que quis matar o Heavy Metal, mas que desta vez veiculava um vídeo da banda de Metal tocando Punk.

Em 1996 eu era um adolescente fã de The Offspring e de Green Day e começando a ouvir Heavy Metal, mas depois de escutar “Undisputed Attitude”, eu simplesmente pensei: “essas bandas não são e nem nunca serão Punks”. Agradeço ao Slayer lá fora (e ao Ratos De Porão aqui pelo Brasil, que um ano antes lançou dois discos de covers, um com bandas Punks daqui do Brasil e outro com bandas gringas) por me apresentarem bandas Punks e Hardcore que realmente valem a pena. Embora o Slayer tenha lançado alguns bons discos após este, mas em minha opinião, “Undisputed Attitude” durante um bom tempo foi o último bom disco lançado pela banda.

Infelizmente o Slayer encerrou suas atividades e quem os viu em ação, tem uma ideia da capacidade destrutiva que a banda teve em cima dos palcos. É um álbum pouco lembrado, mas que envelhece muito bem, obrigado. Chega próximo dos 30 anos com corpinho de 18 e é uma ótima pedida para rolar hoje e celebrar o legado que essa banda deixou aí. A banda fará um breve retorno esse ano, mas nada que possa dar expectativas aos fãs de uma turnê pelo mundo. Mas estaremos aqui ajudando a preservar a história deixada por eles.

Undisputed Attitude – Slayer
Data de lançamento – 28/05/1996
Gravadora – American

Faixas:
01 – Desintegration/ Free Money
02 – Verbal Abuse/ Leeches
03 – Abolish Government/ Superficial Love
04 – Can’t Understand You
05 – Ddamm
06 – Guilty of Being White
07 – I Hate You
08 – Filler/ I Don’t Hear You
09 – Spiritual Law
10 – Mr. Freeze
11 – Violent Pacification
12 – Richard Hung Himself
13 – I’m Gonna Be Your God
14 – Gemini

Formação:
Tom Araya – baixo/vocal
Kerry King – guitarra
Jeff Hanneman – guitarra
Paul Bostaph – bateria

One thought on “Slayer: há 28 anos, banda fazia sua homenagem às bandas punks, lançando “Undisputed Attitude”

  • maio 28, 2024 em 9:55 pm
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    Ouvi muito esse album em uma fita cassete que eu tinha, valeu!!!!

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