Uriah Heep e público fazem a festa no Rio em noite de old school heavy metal
Texto: Carlos Monteiro
Foto: Carla Cristina
O lado bom das bandas subestimadas é poder assistir a um show no Rio de Janeiro em um teatro com 800 lugares, dentro de um shopping. Melhor ainda se a banda é a clássica Uriah Heep, com seu repertório que passeia pelo rock clássico, heavy metal e hard rock, iniciando no Brasil a sua turnê de despedida das longas turnês. O espaço em questão, Teatro Clara Nunes, recebeu na noite do dia 9/4 um público fiel e animado, que interagiu bastante e causou ótima impressão nos veteranos roqueiros ingleses.
Após a emocionante execução de “Stealing”, a quinta canção do setlist, o vocalista Bernie Shaw resumiu o sentimento: “Vocês são o meu coral brasileiro! As outras cidades precisarão fazer muito para superar isso! E isso em uma quarta-feira. Imagina se fosse sexta ou sábado”, acrescentou, preparando o terreno para a “competição” de público nas cidades de Porto Alegre, São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte, datas seguintes.
E realmente o público estava de parabéns. Foi só entrar no palco ao som de “Grazed By Heaven”, de “Living The Dream” (2018), e logo Shaw conclamou todos a se levantarem. Vários correram para a frente do palco, transformando o teatro em templo roqueiro. Embora o Uriah Heep não seja uma banda que atrai multidões, poderia. E deveria.
Formado no final dos anos 1960, o Uriah Heep conquistou o mundo com álbuns clássicos como “Look At Yourself” (1971), “aquele da capa com um espelho”, como relembrou Shawn, e que no show foi representado por “Shadows of Grief” (a quarta canção do setlist e primeira “das antigas”) e “July Morning”, em uma versão épica maravilhosa.
Outro álbum clássico, “The Magician´s Birthday” (1972), contribuiu com a faixa título e também “Sunrise” e “Sweet Lorraine”. Aliás, a turnê sul-lamericana chama-se “The Magician’s Farewell’.
Atualmente, além do vocalista Bernie Shaw, o grupo é formado também pelo membro original Mick Box (guitarra e simpatia) e o tecladista Phil Lanzon (que contribui com belos vocais e uma performance divertida). Juntos estão o baixista Davey Rimmer (que parece irmão de Bruce Kulick, ex-guitarrista do Kiss) e o baterista Russell Gilbrook.
Mick Box é muito querido pelos fãs e foi apresentado por Shaw como “aquele que esteve à frente do movimento de old school heavy metal”. São vários os seus momentos de brilho, com poses de guitar hero se alternando os solos com beijos para a plateia. Exemplo de destaque dele é a performance em “Free ‘n’ Easy”, de “Innocent Victim” (1977)
A presença de palco de Shaw também é divertida, vestido em tons de roxo contrastando com o cabelo e cavanhaques brancos. Ele manteve, em cima de uma caixa de som, um copo de “caipifruta” (aparentemente tangerina ou laranja lima), degustado durante todo o show e que no final ergueu e fez “salut” para a plateia.
O vocalista também fez questão de esclarecer que a turnê de despedida pode dar a impressão errada, mas que não estão se separando. “Não temos mais 25 anos – temos 30 e alguma coisa”, arrancando risos do público (ele tem 68). “O que estamos encerrando são as longas turnês, de 8, 9 e 10 semanas. Mas continuamos esperando pelo próximo álbum”, garantiu, para mais palmas. Ele inclusive fez os fãs cariocas prometerem que estarão de novo num próximo show, dando esperança de que podem voltar à América do Sul.
Coube a “Easy Living”, de outro álbum muito querido, “Demons And Wizards” (1972), fechar a noite no Rio de Janeiro, noite essa em que as fronteiras entre fã e banda quase não existiram, resultando mesmo em uma grande festa de rock n´roll.
