Zakk Wylde e Kiko Loureiro dão aula de Heavy Metal em apresentação histórica no Rio de Janeiro

Fotos: Carla Cristina

A primeira sexta-feira de inverno (só no calendário, porque se tem uma coisa que o Rio de Janeiro não aceita de jeito nenhum é essa agradável estação) recebeu a edição de 2024 do Best of Blues and Rock, que já está inserido na agenda de shows. É um festival itinerante e o Rio de Janeiro recebeu as duas primeiras datas, esta que a equipe da CONFERE ROCK marcou presença, além de uma experiência no dia anterior, que contou com apresentação de Joe Bonamassa. Viemos conferir os shows de Kiko Loureiro e Zakk Wylde, trazendo seu tributo ao Black Sabbath, o Zakk Sabbath.

O local escolhido foi o Vivo Rio, que fica em uma localização privilegiada, na região central da cidade maravilhosa, do lado do aeroporto Santos Dumont e a pouco mais de um quilômetro da Lapa, tradicional reduto boêmio da cidade, que poderia ser uma poção para um after. Apesar de todos esses atrativos, a procura foi baixa e o espaço não lotou, como é comum em shows de Rock/ Metal na cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos. O espaço é bem aconchegante, com ar condicionado funcionando (informação importantíssima em uma cidade quente como a nossa), wi-fi disponível, não foi fácil conectar, mas isso é outra conversa.

Zakk Wylde voltava ao festival depois de cinco anos, enquanto que o “tesouro” Kiko Loureiro estava fazendo a primeira turnê depois que saiu do Megadeth.   Exatamente às 21:00, como se fosse um autêntico britânico, Kiko Loureiro subiu no palco, tocando canções de seus trabalhos solo. Brincou com o público, quando disse ser nascido no Rio de Janeiro (de fato, ele é), mas ninguém acreditou, pelo seu sotaque paulistano, pra lá de carregado. Destilou muita técnica na sua guitarra, não à toa ele hoje é reconhecidamente, se não o maior, mas um dos maiores guitarristas brasileiros de Heavy Metal. Ele havia prometido que tocaria Megadeth e logo ele sacou sua viola de doze cordas e mandou “Conquer or Die!“, emendou com um Medley de sua época do Angra, pegando os solos e causando frenesi total nos presentes, com trechos de clássicos como “Carry on”/ “Spread of Fire“/ Morning Star/ “Nova Era”/ “Evil Warning“/ “Speed“, sendo este o ponto alto da apresentação. Depois Bruno Sutter subiu ao palco e cantou “Nothing to Say“. Claro que ele não tem metade do alcance vocal de André Matos ou Fabio Lione, por exemplo, e seria covardia fazer tais comparações, mas, dentro de suas limitações, ele fez um bom trabalho. E foi curioso ver os dois em clima de amizade, diferente daquela oportunidade no MTV Video Music Awards, quando o próprio Kiko meio que esnobou o Massacration. Os caras mostraram que não guardam mágoas.

 

Kiko também se arriscou no vocal, em “Killing Time“, outra das duas músicas do Megadeth que ele incluiu no set, mas provou que na função de cantor ele é um guitarrista genial.   Na reta final de sua apresentação, ele chamou ao palco seu ex-companheiro de Angra, Rafael Bittencourt e juntos eles tocaram “Rebirth“, que encerrou uma apresentação perfeita. Um compilado bem resumido de toda a carreira de Kiko Loureiro, que esteve acompanhado dos músicos Luis Rodrigues na segunda guitarra, Thiago Baumgarten no baixo e de Luigi Paraventi na bateria. O som estava perfeitamente audível. O público, se não era numeroso, foi extremamente receptivo com o guitarrista e a primeira apresentação dele por nossas terras não poderia ser melhor.

Depois disso, tivemos um tempo para beber água, ir ao banheiro, enquanto os roadies do Zakk Sabbath preparavam tudo… E pelo som estrondoso que vinha da bateria, a certeza era de que tudo viria abaixo em questão de minutos.   E pouco antes das 22:40, com um considerável aumento de público,  Zakk subiu ao palco, acompanhado do seu parceiro de Black Label Society, o excelente baixista John DeServio e do baterista Joey Castillo (Danzig/ Queens of the Stone Age), com a poderosa “Supernaut“, seguida por “Snowblind” e “Symptom of the Universe“, que de tão pesada, conseguiu ficar melhor do que aquela versão que o Sepultura fez em 1994. Um show com essa sequência, não tem como dar errado, não é mesmo, caro leitor? O trio seguiu com o arregaço em “Under the Sun“, “Faires Wear Boots” e “Into the Sun“, fazendo com que todos se sentissem em um paredão esperando o fuzilamento. O trio mostrou-se muito bem entrosado e esse tipo de formação não pode dar brecha para erro e a apresentação foi extremamente cirúrgica.

Com seu jeito ogro, Zakk praticamente não conversou com o público, somente em “Hand of Doom“, quando o baixista repetiu a introdução à exaustão e ele direcionou algumas palavras aos presentes. Infelizmente, eles não tocaram a música por completo, já emendaram com “Behind The Wall of Sleep“, e na sequência “N.I.B.” e “War Pigs“, essa última, cantada em uníssono, fechando uma apresentação irretocável, com reconhecimento do público que respondia sempre que Zakk solicitava que todos batessem palmas. O som estava limpo, perfeitamente audível e por mais que seja difícil destacar algo, já que os três são exímios músicos, a performance do baixista John DeServio realmente é uma coisa fora do normal. O som do baixo por vezes “engolia”, no bom sentido, é claro, os demais instrumentos.

Há alguns anos Zakk tem dedicado mais tempo aos projetos covers do que à sua banda principal, o Black Label Society. O cover do Pantera, é um desserviço e ele talvez nem tenha culpa, está ali prestando uma homenagem ao seu amigo Dimebag Darrell. Entretanto, seu projeto Zakk Sabbath é uma bela iniciativa de preservar o legado dos criadores de toda essa bagaça chamada Heavy Metal, que todos nós gostamos. Não fosse por Tony Iommi, Ozzy Osbourne, Geezer Butler e Bill Ward, nada disso existiria e a vida talvez não fizesse sentido para nós, headbangers.

Os quatro cavaleiros de Birmingham são os grandes responsáveis e o Zakk Sabbath é uma justa homenagem. Faltaram músicas? Sim, óbvio. “Paranoid“, “Sweat Leaf“, “Black Sabbath“, “Iron Man“, “Electric Funeral“, “After Forever“, “Cornucopia“, “Sabbath Bloody Sabbath“, “Sabbra Cadabra“, irão dizer alguns, mas a verdade é que em um repertório tão vasto, é difícil encaixar todas as músicas em uma hora e meia de setlist e as escolhidas foram muitíssimo bem honradas. E como provavelmente não teremos mais a oportunidade de ver o Black Sabbath original mais uma vez, Zakk Wylde faz muito bem em apresentar o Alfa do Heavy Metal para as novas gerações.

Setlist Kiko Loureiro:

  • Overlflow
  • Pau-de-Arara
  • Reflective
  • Vital Signs
  • Conquer or Die!
  • Carry on/ Spread of Fire/ Morning Star/ Nova Era/ Evil Warning/ Speed
  • Nothing to Say
  • No Gravity
  • Killing Time
  • Rebirth

Setlist Zakk Sabbath:

  • Supernaut
  • Snowblind 
  • Symptom of the Universe 
  • Under the Sky/ Every Day Comes and Goes
  • Tomorrow’s Dream
  • Wicked World
  • Faires Wear Boots 
  • Into the Void
  • Children of the Grave
  • Lord of This World
  • Hand of Doom 
  • Behind The Wall of Sleep 
  • N.I.B 
  • War Pigs

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *