Angra celebra 30 anos de “Angels Cry” e show de estreia de “Cycles of Pain”

Texto: Tiago Pereira
Foto: André Tedim

A banda brasileira Angra fez total jus a uma comemoração ampla e memorável na noite da última sexta-feira (03), no Tokio Marine Hall, na Zona Sul de São Paulo. O grupo celebrou o primeiro show após o lançamento do álbum “Cycles of Pain”, (leia resenha do disco aqui) o décimo da carreira e lançado no início do mesmo dia, o aniversário de 30 anos da banda e do primeiro disco, “Angels Cry” (1993), e fez um pequeno tributo para Andre Matos (1971-2019). A apresentação contou com as aberturas do projeto solo do guitarrista Luiz Toffoli e da banda Allen Key.

Impactos da chuva

Nem mesmo os impactos das fortes chuvas que atingiram a capital paulista na tarde da última sexta-feira impediram o comparecimento dos fãs ao local. Mesmo assim, a abertura dos portões (19h20) e os horários das apresentações foram um pouco tardios, com maior atraso para o início do Angra. Super compreensível por conta do impacto climático do dia.

O entorno da casa de shows sofreu o impacto, com casas e ruas totalmente sem energia, fator que dificultou o caminhar de quem estava a pé ou veio de transporte público, mas teve que passar principalmente por trás do local. Além disso, o Tokio Marine Hall começou a lotar, de fato, após a primeira apresentação, muito provavelmente pelos impactos do temporal. Para a alegria dos fãs, em nenhum momento houve alguma ameaça de queda de energia no local, ainda mais por não ter picos de chuva forte no horário das apresentações.

Noite enérgica

Dentro da casa de shows, além das propagandas de apresentações locais futuras, somadas a videoclipes das faixas mais recentes de cada uma – o que também incluiu as faixas do novo álbum do Angra -,as três bandas deram seu máximo em suas apresentações: de vocalistas a bateristas inspirados, a musicalidade não deixou a desejar nem mesmo quando houve falhas nos instrumentos, como no caso do teclado tocado por Karina Menasce na última faixa do show da Allen Key. A plateia, a todo instante, aplaudia as músicas tocadas – com maior demonstração, claro, para a banda principal – e, sempre que precisava – como no caso do teclado -, fazia o barulho necessário para manter o ritmo no topo.

Luiz Toffoli e banda

A banda liderada pelo guitarrista Luiz Toffoli e com os convidados Leo Leal (vocal), Douglas Maximo (baixo) e Pedro Tinello (bateria) abriu a noite de apresentações às 20h05, minutos após o terceiro sinal do local e que indicava o início do show. Neste momento, tanto as pistas premium e comum e a região do mezanino estavam vazias, fator que não reduziu a energia e entrega do grupo.

Toffoli e banda tocaram cinco faixas do primeiro álbum do guitarrista, intitulado “Enigma Garden” e lançado em janeiro deste ano, além do cover da faixa “As I Am”, da banda Dream Theater, onde Pedro Tinello teve maior destaque. Houve, também, lançamentos de mídias físicas deste projeto para o público, que lutou para pegar.

Num geral, a banda conseguiu equilibrar o potencial de cada integrante, faixa a faixa, dando ao público as melhores qualidades possíveis para músicas de metal progressivo e que gerou um retorno positivo, com aplausos calorosos, principalmente após a última música. Em algumas das faixas, Leo Leal estava com o microfone baixo, porém com voz perceptível e potente ao longo da apresentação.

Setlist:

  1. Human
  2. I’m Alive
  3. Both Words
  4. The Place I Want to Be (Wish You)
  5. As I Am (cover de Dream Theater)
  6. Frenetic Freak Allen Key

Vinte minutos após o encerramento de Luiz Toffoli, a banda Allen Key subiu ao palco do Tokio Marine Hall e trouxe um setlist um pouco maior, com nove faixas. A alegria de Karina Menasce era evidente desde a primeira música, com muitas demonstrações de afeto e carinho com o público ao longo da apresentação, além de entradas e retornos animados ao palco e a versatilidade da voz para tons mais agudos e líricos e para os guturais. A musicalidade dos integrantes Willian Moura (baixo), Felipe Bonomo (bateria), Pedro Fornari e Victor Anselmo (guitarras) também não deixou a desejar e deu o tom rítmico ideal para a o show.

Na abertura, em “Granted”, o microfone de Karina chega a falhar no início, mas logo é restaurado. Logo após, em “Straw House” e “Illusionism”, a vocalista conta com um violão pintado a glitter e que, mesmo num volume mais baixo que os demais instrumentos, trouxe um simbolismo e charme para a apresentação.

“Sleepless” foi a quarta faixa, indicada como inédita por Karina Menasce. Logo depois, vieram “Goodbye”, um pequeno encore e o retorno agitado em “Apathy”, com as primeiras falhas no teclado de apoio da vocalista.

O grande momento musical da apresentação foi o cover de “Judas”, de Lady Gaga, numa boa versão Metal que gerou o cântico de algumas pessoas da plateia, mesmo que num tom mais tímido.

A apresentação finalizou com mais duas faixas, “Mr. Whiny” e “The Last Rhino”: a primeira citada contou com chuvas de papel picado e diversos balões que levaram à diversão de alguns e ao incômodo de outros, que eram atingidos sem perceber por eles. Na segunda, as falhas sequentes no teclado tocado por Karina atrapalharam a faixa, no entanto, não tiraram a concentração vocal da cantora que, nesta atitude de seguir acapella, recebeu calorosos aplausos do público. Ainda assim, foram fatores que não distraíram a plateia da apresentação e trouxeram um ar ainda mais divertido ao público. Ao final, Karina Menasce jogou rosas brancas e vermelhas para a plateia, que disputou por elas da mesma forma que disputaria por uma palheta ou baqueta.

Setlist:

  1. Granted
  2. Straw House
  3. Illusionism
  4. Sleepless
  5. Goodbye
  6. Apathy
  7. Judas (cover de Lady Gaga, em versão Metal)
  8. Whiny
  9. The Last Rhino

Angra

Os 30 minutos de atraso eram compreensíveis, novamente por conta dos acontecimentos pré-show na cidade. Todo o preparo foi garantido pela equipe e o público se entreteve com bebidas ou com os anúncios de shows futuros na casa de shows.

Às 22h32, as luzes se apagaram e a introdução com “Changes”, da banda Yes, foi tocada. Os integrantes aparecem aos poucos e iniciam a apresentação com “Nothing to Say”. Era o início de um repertório de 21 faixas, ao menos uma de cada álbum ou EP da banda ao longo dos 30 anos de carreira. Fabio Lione (vocal), Felipe Andreoli (baixo), Bruno Valverde (bateria), Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa (guitarras) já demonstraram, desde o começo, a importância e dedicação que deram para a apresentação e datas simbólicas.

Em seguida, vieram as faixas “Final Light”, “Tide of Changes – Part I” – com ótima introdução de Andreoli – e “Tide of Changes – Part II” – ambas as partes como primeiras faixas de “Cycles of Pain” no show. Ao final deste pequeno bloco, o público, ensandecido, fez questão de aplaudir e, principalmente, ovacionar a voz de Lione.

O vocalista italiano fez questão de agradecer e falar sobre a camisa que usou, referenciando o vermelho à “deusa do fogo”. Em seguida, foi a vez de Rafael Bittencourt agradecer a presença do público e afirmar que, mesmo após 30 anos do lançamento de “Angels Cry”, o frio na barriga era o mesmo para cada apresentação. Além disso, o guitarrista também exaltou o orgulho que tinha da banda, dos integrantes, do público e dos fãs num geral.

Era evidente que alguma faixa do primeiro álbum seria tocada, mas não se esperava justamente pela homônima. Bastou que os primeiros acordes de “Angels Cry” tocassem para o público elevar o nível de euforia e, na pista premium, um mosh pit surgisse abruptamente. Ao final da faixa, foi a vez de Rafael ser ovacionado.

Na sequência, “Vida Seca” também é tocada. Na ausência de Lenine, cantor que participa da versão de estúdio, é Rafael que assume os trechos cantados. Destaque para as artes do telão, que remetem ao nome da música.

Ego Painted Grey” e “Waiting Silence” deram sequência à apresentação, até outro grande momento da noite: a cantora Vanessa Moreno entra no palco e é muito bem recebida pelos fãs do Angra. Nisso, “Rebirth” é tocada e ela divide os vocais com Lione, com todo o suporte possível da plateia. Ao final, ela agradeceu a oportunidade de trabalhar com o Angra e exalta a admiração que tem pela banda. “Here In the Now”, música em que a cantora participa no novo álbum, finaliza sua participação e, também, gera uma nova ovação em seu nome.

A banda tocou, também “Morning Star”, no qual Marcelo Barbosa se destacou pelos solos e Fabio Lione, novamente, mostrou o potencial de sua voz. No intervalo entre esta e a faixa seguinte, o vocalista do Angra interagiu mais com o público e os ensinou alguns tenores italianos, levando até a repetições dos gritos de Freddie Mercury no Live Aid de 1985. A justificativa foi um “descanso” dos outros integrantes. O público, claro, não repetiu na mesma tonalidade, mas se entreteve precisamente.

E depois de “Ride Into the Storm”, Lione repetiu os tenores e foi além, com puxadas mais longas. Após encerrar esta interação, Rafael voltou a falar com os presentes e relembrou Andre Matos e sua importância não somente para a banda, como para a música. O público, claro, aplaudiu e ovacionou o nome do já falecido vocalista. Em sua homenagem, vieram as faixas acústicas “Lullaby for Lucifer” e “Gentle Change” – que também contou com Lione nos vocais.

Antes de “Cycles of Pain”, o público chegou a pedir o cover de “Painkiller”, do Judas Priest, mas que não foi atendido pela banda. Na faixa tocada, Marcelo se destacou novamente por seu solo. Em seguida, veio “Ømni – Silence Inside”.

Em “Silence and Distance”, muitos fãs da pista premium – onde eu estava – se emocionaram e cantaram juntos. Parte deles, inclusive, lacrimejavam e estavam prestes a chorar. Foi um momento simbólico dentro do contexto de “Holy Land”.

O ecoar das vozes e emoções se tornou ainda mais evidente em “Bleeding Heart”, faixa que representou o EP “Hunters and Pray” (2002). A pedido da banda, o público ligou os flashes de seus celulares e orquestrou uma festa ainda mais bonita para a noite. As luzes foram fielmente até o final da faixa, assim como o cantar do público junto a Lione.

Dead Man on Display” fechou o bloco pós-acústico e, no Encore, o público clamou por “Carry On”. A faixa, que também compõe o álbum “Angels Cry” e foi um dos primeiros sucessos da banda – até hoje, um dos maiores -, veio junto à introdução da faixa e do disco em questão, chamada “Unfinished Allegro”. Bruno Valverde foi o primeiro a voltar ao palco e, na sequência, os demais integrantes. O mesmo grupo que abriu o mosh pit em “Angels Cry” voltou a agitar a pista e todo o público presente.

E quando se pensava em uma pausa, a banda emendou com “Nova Era”, para finalizar a apresentação. O ânimo do público foi do mesmo tamanho (ou maior) que na faixa anterior, para a alegria da banda, que também deu seus últimos gases. No final, Bruno Valverde, que já se destacou com a condução total nas faixas da apresentação, finalizou com uma pequena virada da bateria e com batidas fortes no final, algo registrado em sua carreira no Angra. Isso deu fim a uma apresentação que, para muitos – e até para mim, que viu a banda pela primeira vez -, ficará na história e que, ao mesmo tempo, inicia muito bem o ciclo de “Cycles of Pain”, sem dores e sem receios, além de mostrar que, ao vivo, a banda segue a todo o vapor.

Setlist:

Intro: Changes (música da banda Yes)

  1. Nothing to Say
  2. Final Light
  3. Tide of Changes – Part I
  4. Tide of Changes – Part II
  5. Angels Cry
  6. Vida Seca (Fabio Lione e Rafael Bittencourt)
  7. Ego Painted Grey
  8. Waiting Silence
  9. Rebirth (participação de Vanessa Moreno)
  10. Here In The Now (participação de Vanessa Moreno)
  11. Morning Star Intro: Cyclus Doloris
  12. Ride Into the Storm
  13. Lullaby For Lucifer (acústico – Rafael Bittencourt)
  14. Gentle Change (acústico – Rafael e Lione)
  15. Cycles of Pain
  16. ØMNI – Silence Inside
  17. Silence and Distance
  18. Bleeding Heart
  19. Dead Man on Display Encore
  20. Carry On
  21. Nova Era

Ending: ØMNI – Infinite Nothing

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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