46Fest entrega variedades do Metal nacional, shows enérgicos e marca despedida local de Jean Patton do Project46
TEXTO: Tiago Pereira
FOTOS: André Tedim | FOTOS Eminence: Eddie Junior
No último sábado (25), o Carioca Club, em São Paulo, se tornou um verdadeiro templo de celebração e da liberação de energia na última edição de 2023 do 46Fest, que contou com apresentações das bandas Project46 (headliner), Odeon, Laboratori, Eminence, Emphuria e Reckoning Hour. O evento marcou o último show do guitarrista do 46, Jean Patton, com a banda na capital paulista. Após o término da turnê “Terra de Ninguém”, em 10 de dezembro, o músico não estará mais na banda que ajudou a formar, há 15 anos.
As bandas presentes no festival, todas originadas na região Sudeste do Brasil, trouxeram ao evento uma variedade de gêneros dentro do Metal que atendeu a grande parte do público presente – apesar de a lotação ficar mais evidente após a antepenúltima apresentação. Junto a isso, a pontualidade das apresentações e a interação
O clima mais enérgico da plateia veio, claro, na apresentação do Project46 – o que causará uma apresentação ao inverso das bandas neste texto, como perceberá abaixo. No entanto, as outras bandas participantes não deixaram de puxar parte desta energia em suas apresentações, com setlists interessantes e momentos em que a roda se abria tanto espontaneamente, quanto a pedido dos vocalistas.
Insanidade ao vivo e a última dança de Jean Patton na capital (com o 46).
Mesmo com o início inverso deste texto, é válido puxar os acontecimentos que sucederam o show da banda fluminense Odeon e antecederam o show do Project46. Um deles envolve o DJ da noite, que entre as apresentações, colocou setlists com músicas conhecidas do cenário Metal e que cativaram a espera do público. Não foi diferente no preparo para o 46: clássicos como “My Own Summer”, do Deftones, “Freak on a Leash”, do Korn, “Last Resort”, do Papa Roach, “Bring the Noise”, da parceria entre Public Enemy e Anthrax, “Toxicity”, do System of a Down, e outras fizeram este intervalo que botou o público para aquecer a voz para o que viria pela frente.
O segundo destaque fica para a apresentação do festival, que trouxe sorteios de camisetas e bonés e, num destes, gerou até mesmo um concurso de gutural entre a plateia, na pista, que cantou trechos de músicas do Project e aguardou o veredito daqueles que não cantaram.
E com poucos minutos de atraso, em torno das 19h55, o Project46 entrou, aos poucos, para fechar a noite com tudo. Betto Cardoso (bateria), Baffo Neto (baixo), Vini Castellari e Jean Patton (guitarra) e Caio MacBeserra (vocal) entraram um por um, com grande ovação para Jean, que iniciava sua “última dança” com a banda na capital paulista, em um show gravado pela equipe local para um possível DVD da turnê.
Na abertura, a faixa “Terra de Ninguém” causou o descarregamento da energia do público no Carioca Club, onde grande parte não perdeu tempo e abriu a roda ao fundo do palco. Era só o começo do que foi uma noite insana no bairro de Pinheiros.
A banda seguiu com as faixas “Capa de Jornal”, “Se Quiser” e “Violência Gratuita”, uma trinca tanto na apresentação em questão, quanto no primeiro álbum de estúdio da banda, “Doa a Quem Doer” (2011). Não obstante do peso musical da banda seguir a todo vapor, a roda aumentou e se tornou mais metamórfica, ora com bate-cabeças, ora com circle pits constantes e com a última faixa citada com um teor ainda mais insano.
Num pequeno momento de pausa, o frontman, Caio, fez questão de agradecer a presença dos fãs naquele dia e, principalmente, exaltou Jean junto ao público, algo que voltaria a ocorrer em outros momentos do show.
“Pânico”, então, foi a faixa anunciada para seguir o show. Com a roda mais aberta e mais organizada, a velocidade dos que participaram dela era tão grande quanto a velocidade do ritmo da banda no palco. Eu, inclusive, quase perdi o celular tentando gravar aquilo que via ao vivo, mas correu tudo bem. Ao meu lado, um fã direcionou seus socos no ar ao menos três vezes da esquerda para a direita, tentando ingressar na roda. A velocidade e a insanidade da roda de fãs seguiram com “Corre”, com uma letra que induz, claro, à ação. A dobradinha de faixas do álbum “TR3S” (2017) deu o tom de um dos ápices da noite.
O Project finalizou o novo bloco com “Empedrado” e, em seguida, vieram novos discursos, incluindo o relembrar de uma apresentação feita em outra casa de shows, a Inferno Club. Caio, inclusive, perguntou se estava tudo bem com o público, recebendo um retorno positivo deles e retrucando com um elogio sincero, afirmando que, nos shows realizados no Carioca Club, os fãs “tacam mais gasolina no fogo” porque a casa permite mosh pits extensos.
A banda seguiu com “No rastro do Medo”, “Dor” e “Na Vala”, em mais uma sequência – agora, uma dobradinha – de “Doa a Quem Doer” e com uma faixa de “Que Seja Feita a Nossa Vontade” (2014). Na pausa, vieram os agradecimentos a pessoas conhecidas que estavam no local, por parte de Caio, como o primeiro baterista da banda, Guilherme Figueiredo”, ao Bayside Kings; e o agradecimento de Castellari às bandas que tocaram no evento durante a tarde e noite de 46Fest.
Nem mesmo uma faixa um pouco mais lenta, como “Rédeas”, reduziu a intensidade do mosh pit e dos presentes no Carioca Club, representada também pelo cantar daqueles que não estavam na roda.
O segundo ápice enérgico da banda e dos fãs presentes veio a partir de “Pode Pá”, quando MacBeserra ordenou os presentes a agachar. Houve reforço até mesmo de alguns fãs, que pediam, aos berros, para todos ficarem posicionados para o grande salto coletivo – inspirado no icônico “Jummpdafuckup” feito pela banda Slipknot nos momentos em que tocam “Spit It Out” -. Com isso, o riff da faixa foi tocado e, sob as ordens do vocalista do 46, todos pularam energicamente para dar sequência ao show, numa verdadeira “sessão de descarrego”.
Sem muito tempo a perder, a intro de “Erro +55” surge e o público, após o riff, não mediu esforços para abrir a parte cantada com o verso “Chegou o país do samba”, ouvido aos quatro cantos do Carioca Club.
Para “Foda-se (Se Depender de Nós)”, o Project46 chamou ao palco Otávio, apelidado de “Satanzinho”, que deu a cara dos screamos da faixa junto a Caio. Novamente, a plateia deu seu tom de insanidade nos moshs e nos sonoros gritos de “Foda-se” na parte final da faixa.
Antes da última faixa, Jean Patton fez questão de discursar e agradecer não somente a banda, como todos os membros de apoio, montagem e até ex-membros que passaram pelo grupo ao longo dos 15 últimos anos, mostrando que houve muita caminhada e muita construção para todos serem o que são enquanto banda e ele, enquanto músico. A ovação e gritos do público, claro, vieram como retribuição e reconhecimento ao seu trabalho na banda e à sua importância neste tempo.
A finalização da noite veio com “Acorda pra Vida”, que iniciou com o clássico “Wall of Death” que inicia a faixa. Do ponto mais próximo ao palco até o fundo, tudo se dividiu em dois lados e a massiva parte dos presentes se jogou no meio, sem precedentes. Muitos aproveitaram para ir para a parte frontal e, a partir disso e até o fim da faixa, houve invasão pacífica de fãs que interagiam com a banda e, na sequência, se jogavam para a plateia.
A cereja do “bolo de insanidade” da noite ocorreu no final, não somente com os agradecimentos da banda pela apresentação, as fotos de fim de evento ou o jogar das palhetas, baquetas e impressões de setlist dos integrantes da banda, como também com Jean Patton se jogando para o público, após muitos pedidos, e sendo recepcionado por quem estava na pista com todo o carinho possível. Os outros integrantes não se jogaram, mas fizeram questão de ficar até o fechar das cortinas, dando toda a simbolização de carinho e retribuição ao que a plateia fez naquela noite.
Groove Metal mineiro e o ânimo gradual da plateia
O Eminence foi a terceira banda do evento a tocar no Carioca Club. O grupo, originário de Belo Horizonte, trouxe um setlist de oito faixas (contando com a introdução) e com ótima apresentação e que, apesar de uma falha no microfone do vocalista, Bruno Paraguay, na quarta faixa – rapidamente corrigida, não mudou o teor da sonoridade e do volume adequados no início da noite paulistana. Além de Bruno, a banda conta com Alan Wallace (guitarra), Davidson Mainart (baixo) e Alexandre Oliveira (bateria).
A apresentação começou num momento em que a casa estava mais lotada do que nas duas primeiras atrações. Isso ajudou com o fim da “timidez” dos presentes e em momentos mais agitados, com o surgimento de mosh pits mais robustos. Além disso, Paraguay usou, em vários momentos, um megafone de pequeno porte, para auxiliar em alguns trechos vocais gravados desta forma nas faixas de estúdio.
O início após a intro foi com “Burn It Again”, que gerou o balançar de cabeças de muitos dos que estavam na parte da frente do palco. Na sequência, “The God of All Mistakes” aumentou o ânimo da plateia, que pulou a pedido do frontman.
“Written In Dust” trouxe os primeiros gritos de Paraguay com o auxílio do megafone, além do primeiro mosh pit da apresentação que, mesmo que ainda tímido, trouxe mais ânimo a uma apresentação que entregava tudo em sonoridade e qualidade musical.
Bruno Paraguay fez questão de agradecer a presença do público no momento da apresentação e no festival, justamente no evento que marca o retorno da banda à São Paulo. Com isso, partiu para as faixas finais do show.
E foi justamente neste retorno que ocorreu a falha no microfone de Paraguay. Em “Dark Echoes”, sua entrega inicial foi a ponto de ir para o vão de um dos lados do palco para cantar o início da faixa. Com a fala, que o deixou “mudo” por alguns segundos, a faixa teve que ser reiniciada após o conserto, retomando as ações do vocalista no palco e entregando, novamente, uma boa faixa ao público junto ao restante da banda.
Após uma pequena introdução, a faixa “Numbers” veio com mais peso musical, o que causou, como resposta imediata, um circle pit mais robusto e composto por muitos jovens.
A faixa final do Eminence foi “Unfold”. Nela, um novo uso do megafone por parte de Bruno deu o tom da faixa. Além disso, o peso musical, a qualidade e a entrega dos membros da banda teve como retribuição imediata um novo mosh pit e o balançar de cabeças por todo o palco. Foi a coroação de um retorno de alta qualidade da banda mineira à capital paulista.
Bailão da Odeon
Antes do Project46, a banda carioca Odeon fez a sua última abertura para a banda paulistana na turnê “Terra de Ninguém”. O grupo, composto por Marcelo Braga, o “Celo” (vocal), Lucas Moscardini (guitarra), João Diegues (baixo) e Marvin Tabosa (bateria) trouxeram uma verdadeira mistura de ritmos musicais nacionais com o Metal.
Apesar dessa “mistureba”, como Marcelo denominou em determinado momento do show, grande parte da apresentação se mostrou animada por parte dos integrantes, mas não tão bem correspondida pela maior parte do público presente que, talvez, não esteja acostumada com propostas diferenciadas como a da Odeon.
A abertura do show veio com um top de 5 segundos que lembrou muito a contagem regressiva para o início da transmissão de eventos esportivos da Globo. Em seguida, a mesma introdução, nomeada “Intro v2”, veio com um funk animado.
O grupo entrou pontualmente no palco e abriu com “Toxic”, que teve as linhas de baixo de Diegues em destaque e, recebendo o carinho da parte frontal do palco. Em seguida, vieram as faixas “Ousadia” e “Loop”, cuja segunda citada – a terceira da banda na noite – contou com o acender dos flashes dos celulares dos presentes, a pedido de Marvin Tabosa..
“Swipe Up” deu sequência à apresentação e teve trechos de funk nos momentos intermediários da faixa. Já em “Gasoline”, o público pulou com maior intensidade, mas não o suficiente para atender ao que Marcelo Braga disse ser “algo maior” em termos de agito.
Na metade do show, no discurso, Celo fez questão de justificar o estilo musical da banda, além de puxar um novo funk antes da faixa “Replay”. Já “Hostage” contou com uma participação especial de AXTY no palco, num momento em que o público cantou com maior tonalidade.
O ápice da apresentação veio a partir do discurso de apresentação dos integrantes, que lembrou as introduções de lutadores de boxe em eventos mais midiáticos. Em seguida, a última faixa da noite, “Game”, mais conhecida pela plateia – o que resultou nos cantos mais altos – e veio com um público mais animado e que já se preparava para a chegada do Project46.
Intensidade e entrega do Laboratori
A banda paulista Laboratori, composta por Chili (vocal), Mounir Sobh (baixo e backing vocal), Wecko (guitarra) e Jean Forrer (bateria) entregou aquele que pode ser considerado o segundo show mais intenso e insano da edição de 2023 do 46Fest. O quarteto trouxe traços do Hardcore, do Nu Metal e do rock nacional em suas oito faixas e fizeram um belo estrondo no Carioca Club.
“Black Mamba” iniciou a apresentação e trouxe toda a intensidade do grupo, principalmente de Chili, que não mediu esforços para saltar e bater as pernas no início da faixa, além de dar o tom do potencial vocal. Um mosh pit veio com tudo no final da faixa.
A segunda faixa foi “Bonde dos Falador” e, em “Fé No Corre em Tempos Ruins”, um novo mosh pit surgiu com mais intensidade e com o frontman da banda conduzindo tudo.
Chili fez questão de apresentar os integrantes e agradecer a presença do público no evento, assim como as outras bandas, mas com um indicador de gratidão maior.
A apresentação seguiu com “Aroiê” e com as primeiras linhas de baixo de Mounir em destaque no show. Algo que o diferenciou da sua já conhecida e forte presença de palco e que trouxe o potencial do músico, que também toca na banda InDharma. Um circle pit surgiu a mando de Chili, sendo aquele o maior até a chegada da banda principal; e seguiu também na faixa seguinte, “Respeite”.
A pesada “Você Vale o Que Tem” também contou com pedidos de gritos para Ozzy Osbourne, em uma forma de homenagem que também contou com a finalização com o riff de “Iron Man”, do Black Sabbath, e que também gerou o canto do público no ritmo do trecho musical. Jean se destacou pela forma como entregou força e dinamismo nas linhas de bateria.
Na reta final, o Laboratori tocou “Revolução de Rua” e finalizou com “Fechei com Meus Irmãos”, faixa em que Chili soltou, a todos os pulmões e antes de seu início, a frase “O Rock and Roll salvou mais vidas do que qualquer outra religião”. Foi um momento de forte reação positiva da plateia, com aplausos e ovações, e que coroou uma apresentação de forte entrega e de reações do público que só seriam vistas novamente na reta final.
Nu Metal Paulistano
O Emphuria, banda formada por membros das Zonas Norte e Oeste de São Paulo, conta com Mateus Hortencio (bateria), Lucas Tamelini e Gabriel Buxini (guitarra), Di Sousas (baixo), Guilherme Buxini (vocal) e o DJ Cadu e trouxe em peso os elementos do Nu Metal para o Carioca Club. O grupo foi o segundo a se apresentar no 46Fest e fez a alegria dos presentes, mesmo que numa casa ainda não lotada por completo.
O setlist contou com seis faixas, sendo elas “A Caça”, “Segregar”, “Casa Vazia”, “Ecos”, “Escolhas” e “Espelhos”, mostrando o melhor de cada membro.
A abertura carioca
O Reckoning Hour, apesar de ser a última banda citada, foi a primeira a se apresentar no dia 25 de novemembro, no 46Fest. A banda, nascida no Rio de Janeiro, é composta por J.P. Pires (vocal), Cavi Montenegro (baixo), Philip Leander (guitarra e backing vocal) e Johnny Kings (baixo) e deu sequência às apresentações desde seu retorno, no final de 2022.
Seu setlist enérgico, com seis músicas e a introdução, trouxe a força do heavy metal local e animou o público que começava a chegar no Carioca Club. Dentre as faixas, estavam a introdução, “Unity”, seguida de “Shadow of the World”, “Ground Zero”, “Catharsis”, “The Gathering”, “Downfall” e “Away From the Sun”.
O 46Fest fez o clima de despedida – no caso de Jean Patton – não ser algo triste, e sim uma recordação feliz para as bandas presentes e fãs, devido a entrega por todas as partes – e mesmo que não seja em todos os momentos do festival.
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