Resenha: Timo Tolkki – “Classical Variations and Themes 2: Ultima Thule” (2024)

Timo Tolkki, um dos nomes mais icônicos do metal mundial, sempre foi sinônimo de imprevisibilidade. Sua carreira, que começa com o explosivo Stratovarius, atravessa períodos de constantes experimentações e reviravoltas estilísticas. Ao longo dos anos, ele alternou entre brilhantes álbuns de power metal e tentativas mais arriscadas, como trabalhos de música neoclássica e atmosferas mais experimentais que nem sempre corresponderam às expectativas. Mas, ao ouvir “Classical Variations and Themes 2: Ultima Thule“, trazido ao Brasil pela Shinigami Records, é difícil não sentir um alívio e até uma sensação de redescoberta. Este álbum não só representa um retorno ao bom momento de Tolkki como também se estabelece como seu trabalho mais refinado e coeso em mais de uma década.

Ultima Thule” é o tipo de disco que muitos estavam esperando desde que Tolkki começasse sua jornada com o projeto Avalon. Longe da estrutura de supergrupos ou do caminho formulaico do power metal tradicional, ele se reconecta com suas raízes mais experimentais e melódicas. A abertura do álbum é uma tapeçaria sonora rica e imersiva, composta por teclados atmosféricos, guitarras melódicas e uma linha de baixo que aparece nos momentos certos. Tolkki, como um mestre do timbre e da harmonia, dá espaço para momentos de pura beleza musical, fazendo o disco se destacar pela sua ambientação, longe do que seria uma simples exibição técnica.

Seis das faixas do disco são inteiramente instrumentais, o que permite ao ouvinte imergir completamente nas atmosferas cuidadosamente construídas. São peças de puro encantamento, que variam entre melodias curtas e densas, e épicos instrumentais mais longos, que exploram não só o virtuosismo de Tolkki, mas também sua habilidade de contar histórias sem palavras.

Porém, a grande surpresa de “Ultima Thule” são suas colaborações vocais, que não apenas complementam, mas enriquecem o material. O primeiro grande destaque é a participação de Jeff Scott Soto, que empresta sua poderosa voz à faixa-título “Ultima Thule“. Aqui, Soto brilha com sua entrega melódica, conseguindo transformar a música em um hino emocionante e que, sem dúvida, se destacaria nos melhores álbuns de power metal da década passada. O equilíbrio entre sua voz e a composição de Tolkki é simplesmente perfeito, criando uma atmosfera de grandiosidade rara no gênero.

Outro achado no álbum é a cantora e compositora polonesa Agnès Milewski, que tem uma participação arrebatadora em “Soul of the World“. Seu estilo é único, mesclando uma melancolia profunda com momentos de força. Sua voz soa como um sopro de vida na música, que exala uma aura de drama e lirismo. É uma adição que traz frescor ao álbum e promete posicioná-la como uma promessa para o futuro da música metal melódica.

No entanto, a faixa que pode ser considerada um desafio para alguns é o fechamento “Karjalan Kunnailla“, onde Tolkki assume os vocais. Embora sua voz tenha se distanciado do brilho juvenil de suas décadas passadas, ele entrega uma performance emotiva, embora com uma textura mais áspera. A impressão que fica é de que Tolkki está em um ponto de transição vocal, mas ainda assim consegue transmitir a carga emocional que o caracteriza. O charme de sua voz continua ali, e a música, apesar de não ser tão exuberante quanto outras faixas, é uma despedida que sugere que ainda há muito potencial a ser explorado.

Claro, o álbum não está isento de falhas. A bateria, por exemplo, tem momentos onde se sente apenas funcional e não consegue acompanhar a grandiosidade das guitarras e teclados. O baixo poderia se destacar mais, especialmente em certos momentos mais intensos da produção. Algumas faixas menores, embora bem executadas, passam rápido e não deixam uma impressão duradoura. Mas esses são pequenos detalhes diante da imersão e do prazer que o restante do álbum oferece.

Em um mercado onde a inovação nem sempre é sinônimo de qualidade, “Classical Variations and Themes 2: Ultima Thule” se apresenta como um marco na carreira de Timo Tolkki. Mais uma vez, ele prova que sua capacidade de criar obras intrigantes e inspiradoras continua intacta, mesmo após tantos anos. Fãs de power metal, metal neoclássico e até mesmo música instrumental encontrarão algo valioso aqui. Esperamos, com entusiasmo, por uma possível terceira parte dessa série, e por mais momentos de pura magia musical que TolKki possa nos oferecer.

NOTA: 7

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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