Agnostic Front e público protagonizam noite hardcore insana na Frabrique Club, em São Paulo
Texto por: Tiago Pereira
A banda nova-iorquina de hardcore punk e crossover thrash, Agnostic Front, proporcionou uma verdadeira noite de hardcore na Fabrique Club, na Zona Oeste de São Paulo, no último domingo (05).
Esta foi a oitava passagem do grupo no Brasil e a apresentação na capital paulista ocorreu um dia após o show no Clube dos Empregados da Caterpillar, em Piracicaba, no mesmo estado, em meio à “Get Louder! Tour 2023”. A banda de abertura foi a vintenária One True Reason, também de hardcore. A tarde agradável do domingo e a gratuidade do transporte público, por conta do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), favoreceu a ida àqueles que dependiam deste meio de locomoção. Ainda assim, a lotação de fato ocorreu na reta final do show de abertura, devido ao “esquenta” de muitos nos bares em frente ao local da apresentação. Ambas as bandas – One True Reason e Agnostic Front – trouxeram setlists com faixas de peso, tempo curto em suas configurações e total dedicação no palco. A diferença, claro, se deu no ânimo da plateia, que guardou tudo para a atração principal. One True Reason e a insistência da proximidade com o público presente na apresentação da banda de hardcore paulistana, que começou às 19h. Thiago Queiroz (vocal), Alexandre Bezerra (guitarra), André Giroti (bateria) e Guilherme Silveira (baixo) entregaram tudo que era possível em seu rápido -mas pesado -setlist, que abrigou algumas das faixas do EP “Reality Is a Wound” (2022). Por diversas vezes, Thiago pediu para que a plateia se aproximasse do palco, repetindo a frase “Chega mais perto, isso aqui é Hardcore!”. No entanto, esta locomoção dos presentes aconteceu a partir da penúltima faixa conforme mais pessoas chegavam ao Fabrique ou, até mesmo, por querer beber algo dentro do local e até por medo de um mosh pit “antecipado”. Tal fator, de certa forma negativo, não abalou a banda, que entregou tudo até o final, incentivou a plateia a gritar e, principalmente, recebeu respostas positivas e graduais a cada faixa, com ovações e aplausos.
Agnostic Front e a insanidade de um circle pit interminável.
Assim como no show anterior, em Piracicaba, o Agnostic Front entrou pontualmente às 20h no palco da Fabrique Club e despertou, de imediato, o delírio e a energia absoluta dos presentes. Roger Miret (vocalista), Vinnie Stigma (guitarra e backing vocal), Mike Gallo (baixo e backing vocal), Craig Silverman (guitarra) e Danny Lamagna (bateria) fizeram a alegria e a euforia do público presente, conforme os “blocos” locais: as faixas laterais (parede e bar) e parte do fundo da pista eram os lugares mais calmos,com um público que focava no show e em gravações; enquanto o público mais próximo do palco e, principalmente, o miolo da plateia, tornavam aquela hora a mais insana possível em toda a cidade. Logo na primeira faixa, “Af Stomp”, do álbum “Get Loud!” (2019), a roda foi aberta e, dali, não parou mais. Começou com danças aleatórias, até o bate-cabeça, de fato, começar. Em seguida, o riff da clássica “The Eliminator” despertou o que há de mais agitado possível no miolo do palco. Apesar do microfone de Miret ter ficado baixo, provavelmente pela voz momentânea, a entrega do vocalista foi total nesta faixa. “Dead to Me” trouxe a potente voz conjunta do público, que gritou a frase que leva o nome da faixa a cada momento em que ela era citada no refrão. E em “A Mi Manera”, o pedido por um circle pit mais agitado foi atendido. Os que estavam no mosh giravam como cilindradas de um veículo, enquanto os mais parados ou à frente do palco cantaram a todos os pulmões. E o coro do público seguiu a todo o vapor em “My Life My Way”. A sequência das faixas “Only In America” e “Old New York”, do álbum “The American Dream Died” (2015), manteve o cantar dos presentes de pé junto ao mosh pit da parcela do meio. Na segunda faixa citada, houve muitos momentos em que o pessoal do mosh optou pelos pulos ao bate-cabeça. Ainda assim, o trecho de maior canto da plateia – até aquele momento – veio em “For My Family” e após um breve discurso de Miret, que relembrou as suas duas vitórias contra o câncer, a mais recente em 2021, após uma cirurgia. Em “Friend or Foe”, faixa do EP United Blood (1983), Vinnie Stigma desceu para a região do mosh pit e tocou a faixa cercado de fãs que fizeram a segurança do guitarrista. Em volta deste cerco, um circle pit marcou a faixa e, em volta, diversos fãs gritavam repetidamente a pergunta “Are You friend or foe?”. Na sequência, vieram as clássicas – e curtas – “Victim In Pain”, “Your Mistake” e “Blind Justice”, todas do primeiro álbum da banda, “Victim In Pain” (1984) e que contaram com a constante insanidade do mosh pit. A sequência da apresentação contou com as faixas “Never Walk Alone” e “Peace”, “Pauly the Dog” – esta cantada por Stigma. A faixa “Power” fechou mais um pequeno bloco, com um bom e raro solo.
Nesse momento, já havia fãs que pulavam para o palco, interagiam com a banda e voltavam rapidamente para a plateia, a mando dos organizadores. O momento de maior confraternização e, agora sim, de cântico coletivo do público veio em “Gotta Go”, justamente na reta final do show. A faixa, que compõe o álbum “Something’s Gotta Give” (1998) deu o ar de uma torcida organizada de um clube brasileiro ou até inglês, tamanho o empenho vocal da plateia durante a faixa e no verso “Gotta Gotta Gotta Go”. As faixas seguidas foram “Police State” e “Addiction”. Na segunda citada, uma briga no meio do mosh pit – algo comum, mas que poderia não ocorrer – começou, mas logo foi separada pelos presentes. Ainda assim, Miret parou o show para chamar a atenção dos que estavam na briga e afirmou: “sem mais brigas por hoje”. Um dos envolvidos foi para a parte da frente e o outro, para o fundo. Este, inclusive, voltou para a roda minutos depois. Com o término da faixa, o clima de confraternização voltou à tona e o Agnostic Front fechou com o cover de “Blitzkrieg Bop”, do Ramones. Não somente o circle pit voltou com tudo, para um último gás dos participantes, como o restante dos presentes cantou a faixa, simbolizando o término de uma apresentação insana, agitada, histórica e que, mesmo com a briga na reta final, deu todo o ar de uma noite de confraternização e circle pits na Fabrique Club.
Sem mais faixas e com o final dos agradecimentos da banda, que prometeu o retorno em breve, o caminho para a volta pra casa foi tranquilo. O fato de estar com a bateria do celular descarregada e perdido para chegar em uma estação de metrô foram pequenos detalhes para o que presenciei na Barra Funda naquele domingo.