Best of Blues and Rock passa por São Paulo com nomes de peso nacionais e internacionais

Texto: Tiago Silva
Foto: André Tedim

A décima primeira edição do Best of Blues and Rock ocorreu no último dia 22 de junho, na parte externa do Auditório Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo. O festival, realizado pela Dançar Marketing, contou com um lineup que abrangeu os dois gêneros musicais e acresceu o Heavy Metal, a partir das apresentações de Di Ferrero, CPM 22, Eric Gales, Joe Bonamassa e Zakk Sabbath.

O evento ocorreu numa tarde de sábado quente e que logo se converteu em uma noite agradável no Parque do Ibirapuera, uma vez que havia poucas nuvens no céu. Desde o início, havia concentrações de pessoas, seja nas sombras da parte mais ao fundo da pista, seja na grade, à espera das primeiras atrações. No entanto, o local ficou realmente cheio a partir da terceira apresentação do dia e atingiu seu ápice durante o show do Zakk Sabbath.

Da estrutura do palco às ativações

A distribuição de locais dentro do festival pouco mudou em relação ao ano passado, com exceção da saída de estandes e de um espaço ao fundo, que ficava próximo à área de iluminação e de um espaço de alimentação mais “escondido”, ofuscado pela área dos banheiros e primeiros socorros. Além disso, os funcionários dos locais de venda de bebidas pouco sofreram com filas de compra e recarga de cartões.

No palco, a estrutura foi a mesma em relação aos anos anteriores, com uma área extensa que permitiu a circulação das atrações o mais próximo possível do público, assim como a ida aos extremos laterais – algo muito usado por Zakk Wylde durante sua apresentação. Já no quesito som, houve momentos a desejar devido ao volume alto da captação do bumbo de algumas das baterias, como ficou evidente nos shows de Di Ferrero, CPM 22 e Zakk Sabbath. Apesar deste ponto, a qualidade sonora em geral foi propícia para o festival.

Di Ferrero

O frontman do NX Zero abriu a tarde de sábado com um repertório de 16 músicas, sendo sete delas de sua carreira solo, oito dos singles de sucesso da sua banda de origem – lançadas desde 2006 – e um cover do Red Hot Chilli Peppers, em meio a uma das faixas. Junto a Di Ferrero estavam os animadíssimos João Bonafé (baixo), Bruno Genz (guitarra) e Vítor Peracetta (bateria).

No momento da apresentação, o local não estava vazio. O que se via era uma parcela de pessoas nos fundos da pista, onde estava a sombra, e outra na grade – a maioria de fãs do cantor brasileiro -, cantando as músicas e ignorando o calor das 14h. Se estivessem juntas, ocupariam um espaço considerável da área.

Di Ferrero e banda iniciaram o show pontualmente, conforme o que era previsto nos anúncios do festival. Eles iniciaram com “Um brinde”, faixa do até então único álbum solo do cantor, “:( UMA BAD UMA FARRA :)” (2022), e que conta com a participação de Badauí na versão de estúdio – o que, mesmo com a presença do frontman do CPM 22 no mesmo festival e dia, não aconteceu ao vivo -. Logo nesta primeira música, algo que foi praticamente permanente durante toda a edição paulistana ficou perceptível: o alto volume e grave do bumbo da bateria que, no caso deste show, foi o mais alto por conta da empolgação e energia de Vítor Peracetta na apresentação – o que não foi culpa dele e, muito menos, algo negativo. A preocupação era com o sistema de som. Outro ponto foi o baixo de João Bonafé, que não funcionou no início da faixa, só que logo foi ajustado por um dos roadies do grupo.

Da segunda música em diante, Di Ferrero montou uma sequência com uma ou duas músicas de seu repertório com o NX Zero, seguidas de uma de sua carreira solo. Na primeira “dobradinha”, vieram os sucessos “Além de Mim” e “Daqui pra Frente”, dos álbuns “NX Zero” (2006) e “Agora” (2008), respectivamente. Foi a dose suficiente para aumentar o cantorio do público presente.

Em “intensamente”, Di Ferrero assumiu uma guitarra preta, com detalhes em glitter. Ela foi usada esporadicamente pelo cantor para algumas outras faixas do setlist. Depois desta música, ele voltou a ficar solto no palco para a famosa “Só Rezo”, que trouxe junto um coro mais alto e até palmas na reta final da faixa.

De volta à guitarra, Di Ferrero seguiu a apresentação com “Aonde é o Céu” e, para “Cedo ou Tarde”, outro sucesso do repertório do NX, assumiu um violão. A faixa em questão tem uma extensão em que a segunda parte da música, após o primeiro refrão, é repetida parte acapella, parte só com o violão de Di e enquanto o público volta a balançar os braços de forma síncrona.

O início de “Corpo Fechado” foi antecedido de um discurso motivacional de Ferrero, pautado em sonhos. A faixa, no entanto, fica mais animada no final e logo se emenda para “Ligação”, em que há interações mais evidentes entre João Bonafé e Bruno Genz, além de uma ida deles com Di Ferrero ao final do palco, próximos ao público, para agradecer pela presença e ânimo da apresentação.

A reta final do show veio com uma “emenda” de uma faixa do NX Zero e um cover: tudo começou com “Hoje o Céu Abriu”, que após a metade se converteu a um cover de “Californication”, do Red Hot Chili Peppers, em que Di Ferrero muito lembrou Anthony Kiedis em termos de postura no palco e onde o baixo de Bonafé ficou ainda mais destacado. Após o solo executado perfeitamente por Bruno Genz, o grupo voltou aos trilhos da faixa anterior até o final.

Vítor Peracetta fez um ótimo solo de bateria que, apesar do bumbo altíssimo, foi muito aplaudido pelo público. Logo depois, Di Ferrero voltou ao palco com os instrumentistas de cordas e fez a primeira sequência de duas faixas da carreira solo, com “POLARIZADO” e “Outra dose”.

Di Ferrero finalizou a apresentação no Auditório Ibirapuera com as clássicas “Pela Última Vez” e “Razões e Emoções”, com direito a muitos pulos dos fãs mais assíduos no caso da segunda citada. A música final foi “Sentença”, um single que não faz parte do primeiro LP do artista.

CPM 22

A banda representou o hardcore melódico no Best of Blues and Rock com uma pista mais ocupada, conforme os fãs chegavam naquele momento da tarde, mas sem o ânimo corporal merecido – o que pode ser justificado pelo perfil do público naquele momento e pelo calor do meio de tarde na capital – show começou às 15h30, no caso.

O setlist contou com singles lançados pela banda ao longo dos 29 anos de banda, – 24 deles de discos lançados – e faixas do mais recente disco, intitulado “Enfrente” e lançado em maio deste ano.

Os membros entraram sem uma introdução prévia e logo se colocaram em seus postos no palco. São eles Luciano Garcia (guitarra e backing vocal), Phil Fargnoli (guitarra e backing vocal), Ali Zaher (baixo), Daniel Siqueira (bateria) e, por último, Badauí (vocal).

A abertura também pontual da banda veio com uma dobradinha de sucessos do primeiro álbum da banda, “CPM 22” (2001): “Regina Let’s Go” e  “O Mundo dá voltas”. Na primeira, não houve a clássica entrada com o som que toca no videoclipe e que, geralmente, é usada para introduzir a faixa em questão.

Na sequência, o CPM 22 tocou “Dono da Verdade”, do mais novo álbum da banda. Muito por conta disso, nem todos cantaram, mas a sonoridade da faixa foi ótima. A faixa seguinte foi “Ontem”, do terceiro álbum, “Chegou a Hora de Recomeçar” (2002).

A banda apostou em mais faixas clássicas, como “Tarde de Outubro”, onde o coro da plateia voltou com tudo, “Atordoado” e um cover de “Blitzkrieg Bop”, da banda Ramones. Antes de uma pausa para ajustes, o grupo ainda tocou “Mágoas Passadas”.

Outros clássicos que não poderiam ficar de fora também foram tocados e seguidos com mais afinco pelos presentes no show. Foram os casos de “Um Minuto Para o Fim do Mundo”, “Apostas e Certezas”, com uma finalização do que pareceu “Iron Man”, do Black Sabbath, e “Inevitável”. Por ter que comparecer à coletiva de imprensa, não pude acompanhar o final do show e as demais faixas que tocaram na apresentação, mas soube depois da presença de Di Ferrero junto ao CPM 22 para a música “Dias Atrás”, algo que muito provavelmente levou o público ao delírio.

Eric Gales

Nenhuma das atrações se mostrou tão à vontade no palco do Auditório Ibirapuera quanto Eric Gales naquela tarde de sábado. O guitarrista, nascido no ano de 1974 em Memphis, nos Estados Unidos, já havia se mostrado alguém adaptado à cultura brasileira quando respondeu uma pergunta a respeito disso na coletiva e, em pleno palco, fez questão de usar o termo “do caralho”, com seu sotaque, para expressar o quão estava feliz no Brasil.

O estadunidense montou um setlist de sete faixas – uma delas sendo um medley – que alegrou e muito o público de uma pista já mais lotada do que antes, num final de tarde propício para uma boa música.

O clima de expectativa, criado com a introdução de “O Fortuna” – poema antigo que foi aderido à cantata de Carl Orff (1895 – 1982), intitulado “Carmina Burana” – logo se converteu ao Electric Blues de “Smokestack Lightning”, faixa cover do artista Howlin’ Wolf (1910 – 1976) e que trouxe total agito ao início do show.

Gales e sua banda deram sequência ao show com “You Don’t Know the Blues”, faixa Blues Rock que compõe seu mais recente álbum, intitulado “Crown” (2022) e que, ao vivo, foi num ritmo um pouco mais rápido e até contagiante do que na versão de estúdio. Ali se viu um Gales mais dançante e com muito “feeling” em suas expressões faciais, além de viradas em direção à sua banda como forma de interação, mas sem perder o timing de seu vocal.

Em “Put It Back”, Gales retomou a música após os primeiros segundos de riff e de instrumental da banda, muito provavelmente por conta do público, que não fez o balanço de braços no tempo certo, o que gerou risadas descontraídas de membros da banda e de Gales, na explicação de que os avisaria na hora de balançar. Eric fez seu melhor em tocar, cantar e dançar no palco e, minutos depois, chamou o público para, de fato, balançar as mãos coletivamente enquanto voltava a fazer mais um caloroso solo de guitarra que foi finalizado de joelhos e um pouco estendido de pé.

 

O momento mais icônico de sua apresentação veio na execução seguinte: Eric Gales citou sobre uma luta brasileira que, nos primeiros acordes do riff, deu para perceber que se tratava da capoeira por conta da semelhança que tentou com o berimbau. E foi assim que ele e sua banda tocaram “Capoeira Jam” como uma homenagem ao Brasil. Em alguns momentos da faixa, Eric executou bons solos e seguiu com sua postura dançante no palco.

“Steep Climb” deu sequência à apresentação, após Gales reforçar que esta faixa, que faz parte do álbum “Good for Sumthin’” (2014), conta com a participação de Zakk Wylde na versão de estúdio. E nesse show, a música foi totalmente instrumental, com boas repetições do riff e um ótimo solo executado – muito bem – pelo guitarrista da banda de apoio.

Já a faixa “Too Close to the Fire”, que também compõe o mais recente álbum de Eric Gales e foi a mais lenta de seu repertório, contou com um aditivo natural que chamou a atenção de todos os presentes: o pôr do sol. Gales e a equipe de gravação do festival foram, respectivamente, certeiros quanto a executar o solo na parte do palco mais próxima do público e a captar este momento com as câmeras na direção do belo céu que o final daquela tarde quase sem nuvens proporcionou, que deu um tom estético a mais para a faixa. O guitarrista chegou a deitar em certo momento, balançando suas pernas enquanto solava incessantemente.

A música muito fala sobre alguém que o eu lírico tem sentimentos mais profundos quando está com sua guitarra e um dos trechos da letra muito se encaixa com o momento captado no final de tarde daquele sábado: “When I’m walkin’ down the street / The heats on me / The flame gets higher / I’m too close to the fire (2x)” – “Quando eu estou andando pela rua / Os calores em mim… / A chama fica mais alta / eu estou muito perto do fogo”.

A finalização do show veio não somente com a ativação do telão que envolve as laterais e o topo do palco – e que mostra as imagens da apresentação, além da linha do tempo dos artistas que passaram pelo festival em anos anteriores -, como um “medley” ou “set” que contou com trechos de três clássicos do rock e um da música clássica: a primeira faixa foi “Voodoo Child (Slight Return)”, de Jimi Hendrix, que logo seguiu com um riff misturado a solo improvisado de “Für Elise”, de Ludwig van Beethoven; a terceira parte veio com o riff e solo de “Kashmir”, do Led Zeppelin, que logo passou para “Back in Black”, do AC/DC e, depois de mais um solo, voltou para o instrumental e um solo maior de “Voodoo Child”.

Essa foi uma finalização criativa e bem adaptada de Eric Gales e sua banda que, ao fim da apresentação, agradeceu e muito sua passagem por São Paulo, classificando a cidade como “maravilhosa”, além de indicar o Brasil como sua “segunda casa”. Na apresentação dos membros, veio o destaque para a percussionista, LaDonna, que é sua esposa.

Joe Bonamassa

Bonamassa retornou ao Brasil após 11 anos de sua última apresentação, em 2013, no antigo HSBC Brasil – agora Tokio Marine Hall -, que foi única naquele ano. Dessa vez, ele veio ao palco ainda mais formal, com os clássicos óculos escuros, terno, camisa e calça social, ignorando totalmente o clima quente de final de tarde da capital paulista.

          

O lendário guitarrista também contou com sua banda de apoio, composta por Lemar Carter (bateria), Calvin Turner (baixo), Josh Smith (guitarra), Danielle De Andrea (backing Vocal), Jade McCrae (backing vocals) e o icônico Reese Wynans (teclado), no qual Joe relembrou sobre seu trabalho com a banda Double Trouble e com Stevie Ray Vaughan (1954-1990), que lhe rendeu a participação na indução ao Hall da Fama do Rock and Roll, e destacou ser sua primeira vez no Brasil. Todos eles tiveram momentos de destaque durante a apresentação, o que incrementou muito o que foi aquele final de tarde.

O guitarrista estadunidense abriu a noite de sábado com um repertório de dez faixas, sendo metade delas covers de cinco artistas de Blues diferentes, num repertório que só um músico como Joe poderia ter. Joe iniciou o show com “Hope You Realize It (Goodbye Again)”, única faixa de seu mais recente álbum, “Blues Deluxe Vol. 2” (2023), naquela noite. Não somente Joe mostrou seu potencial vocal e a indiscutível habilidade na guitarra, como o instrumental da banda de apoio – inclusive e especificamente o bumbo da bateria de Lemar Carter – estava em sua melhor qualidade. Inclusive, o destaque de volume para as backing vocals se tornou um ponto ainda mais positivo nas faixas à frente e, também, o solo de teclado de Reese Wynans deu o potencial de sua importância para aquele grupo.

A faixa seguinte, “Twenty‐Four Hour Blues”, foi um cover de Bobby “Blue” Bland (1930 – 2013), em que Joe fez questão de valorizar sua voz para trazer muito do que Bobby trazia ao cantar a faixa ao vivo. Os dois solos na faixa foram marcantes e trouxeram o público às ovações e aplausos, no final.

O ritmo da noite veio para um Blues mais dançante com o cover de “Well, I Done Got Over It”, originalmente de Eddie Jones, o Guitar Slim (1926 – 1959). Bonamassa se aproximou de Reese para um solo em conjunto, o que também gerou uma reação positiva da plateia. A continuação de sua performance na guitarra contou com palhetadas até a última nota possível de seu instrumento e uma finalização vocal.

O guitarrista seguiu o show com duas faixas de sua carreira solo: a primeira, “I Know Where I Belong”, compõe o álbum “A New Day Yesterday” (2000) e Bonamassa rouba a cena com seu solo e com o vocal mais enfático, assim como dá espaço para que Josh Smith também mostre suas habilidades; já a segunda, “Self-Inflicted Wounds”, faz parte do álbum “Redemption” (2018), sendo uma faixa mais lenta, coberta pela iluminação lilás do palco e que teve como grande parte a finalização com as voz impecável de Jade McRae, sob o suporte de Danielle e sucedida dos aplausos calorosos do público.

A troca de guitarra ocorreu para a execução de “I Want to Shout About It”, cover de Ronnie Earl and the Broadcasters. A voz de Bonamassa voltou a ter destaque, assim como Josh Smith e Reese Wynans também solaram em determinados momentos e as backing vocals fizeram questão de mais uma finalização marcante.

Outro cover tocado foi o de “Double Trouble”, do guitarrista Big Bill Broonzy (1893-1958). Bonamassa voltou a tocar com sua Gibson em uma faixa que começa lenta, sem as backing vocals – que saíram de cena momentaneamente – e sob o ritmo ditado pela bateria de Lemar Carter e por momentos geniais de Reese Wynans. Joe deu o feeling da faixa por sua guitarra e pela voz e, como adicional mais que positivo, ainda combinou mais um solo com o tecladista, num combo que fechou a reta final da faixa com chave de ouro.

A execução seguinte foi da música “I Feel Like Breaking Up Somebody’s Home Tonight”, da cantora Ann Peebles, em que Calvin Turner a conduziu com muito destaque com seu baixo. Reese e Josh Smith voltaram a atuar com maestria nesta que foi uma faixa que retomou o blues dançante da noite, assim como Joe, que não deixou a desejar novamente.

A pausa para apresentar os membros da banda de apoio logo acabou para dar início à reta final do show de Joe, que contou com mais uma de seu repertório solo e uma combinação final. A faixa seguinte, no caso, foi “The Heart That Never Waits”, do álbum “Time Clock” (2021), em que Bonamassa pegou uma guitarra que claramente tocou por muito tempo, dados os detalhes que se via no telão/paredão do auditório, mas que não estava velha para mais um solo espetacular.

Por fim, Bonamassa e banda tocaram um pequeno medley de três etapas. Na primeira, um cover de “Just Got Paid”, da banda ZZ Top, destacado pelo riff e as vozes do guitarrista e das backing vocals, além do caminhar de Joe Bonamassa por diversas posições do palco; na segunda, a parte mais agitada e com o solo de “Dazed and Confused”, do Led Zeppelin, com Joe a interagir com os demais membros da banda; e por fim um solo de bateria de Lemar Carter, que não somente o fez muito bem, como deu brecha para finalizar a parte do Led e o show em si sob os mais calorosos aplausos do público. Um show memorável e de altíssima qualidade de ponta a ponta.

Momentos antes de Zakk Sabbath

O deslocamento do público ao final do show de Joe Bonamassa permitiu a ida dos fãs de Zakk Wylde e de Black Sabbath para o mais próximo possível da grade. Em poucos minutos, a aglomeração foi evidente e uma saída ou deslocamento com certeza seria sinônimo de perda do lugar.

A rápida desmontagem do palco logo gerou – e fez sobrar – espaço para o trio Zakk Sabbath. Ao longo da espera, o telão mostrava as atrações principais de cada edição do festival Best of Blues and Rock desde 2013. E justamente por causa disso que ocorreu um dos momentos mais sem sentido da noite: um pequeno grupo de pessoas vaiou Tom Morello, atração das edições de 2018 e 2023 (em dois dos três dias), muito provavelmente por sua posição política. E isso ocorreu nas duas vezes em que ele apareceu no telão.

Ainda assim, a maioria não deu bolas para a manifestação e se conteve em prol da ansiedade para a aparição de Zakk Wylde.

Zakk Sabbath

Às 20h30, com a diminuição do volume das músicas de espera e com o início da introdução, que contou com a instrumental “Supertzar”, John DeServio (baixo) e Joey Castillo (bateria) aparecem seguidos de Zakk Wylde, que veio com uma saia escocesa preta e amarela, sua “regata” de couro, além de sua guitarra SG roxa e preta.


 

 

A primeira faixa da noite – e a primeira da sequência de quatro músicas do álbum “Vol. 4” – foi “Supernaut”, identificada e ovacionada logo no riff da faixa, abrindo o setlist de 14 faixas que abordou o repertório dos quatro primeiros discos do Sabbath na carreira. O bumbo de Joey Castillo ficou muito alto, o que atrapalhou a percepção da guitarra em alguns momentos do show, mas nada que diminuísse a entrega e qualidade propostas pelo trio naquela noite.

 

A banda seguiu o repertório com “Snowblind”. Zakk Wylde, além de trazer sua semelhança vocal com a de Ozzy Osbourne, fez suas primeiras transições além do palco do Auditório Ibirapuera, indo até o extremo das pontas do corredor e solando com a guitarra por trás da cabeça. Em seguida, veio a faixa “Under the Sun / Every Day Comes and Goes”, precedida da introdução gravada de “Orchid” que logo deu espaço para o poderoso riff e que, ao longo da faixa, se ouviu muitos gritos de “ôôô” do público, principalmente na segunda parte, com o solo de Zakk. Na sua performance, palheta para o céu em situações propensas.

Fechando a sequência do icônico álbum de 1972, Zakk, Castillo e DeServio tocaram “Tomorrow’s Dream”, com situações curiosas do guitarrista e do baixista se cumprimentando após as interações no palco.

O Zakk Sabbath puxou um momento de faixas do início da carreira do Black Sabbath, começando por “Wicked World”, do álbum homônimo, de 1970. Zakk usou e abusou das distorções no solo, o que levou a galera ao delírio – e mais ainda após seu pedido. Depois, veio a também clássica “Fairies Wear Boots”, do álbum “Paranoid” (1970), com boas execuções vocais e instrumentais.

 

Logo na sequência, a banda tocou uma trinca do álbum “Master of Reality” (1971), começando por “Into the Void” e o coro que acompanhou o riff e a letra da faixa. Zakk ainda teve tempo de observar os fãs, apontando os lados para que eles fizessem barulho, para depois voltar a solar com a guitarra e caminhar de ponta a ponta no palco.

A breve introdução de “Embryo” deu a letra do que viria na sequência: “Children of the Grave” não somente foi uma das músicas mais comemoradas, como marcou o ápice de energia do público em todo o festival, tanto por conta das bolas de praia jogadas pelos roadies, quanto pelo mosh pit frenético no meio da pista – o que acabou por se tornar tradicional nos shows das atrações principais que não são do Blues Rock, mas voltadas ao Metal -. E digo frenético por estar lado a lado da origem desse bate-cabeça e ver pessoas caindo a todo instante. A música em questão também deu brechas para mais uma caminhada de Zakk pelo palco nos momentos de solo de guitarra, novamente sendo ovacionado pelo público nas regiões em que passou. Coitados dos operadores de luzes, que tiveram que levar a iluminação ao mais extremo possível para não perder Zakk Wylde de vista. “Lord of This World” deu continuidade ao show com um Zakk mais centralizado e vocal, porém ainda a deslocar por uma das pontas do palco.

O show chegou a sua reta final com uma alternância entre faixas dos primeiro e segundo álbuns do Black Sabbath. O início de “Hand of Doom” veio com o contrabaixo potencializado de John DeServio e os pedidos de reverência de Zakk ao baixista e ao baterista Joey Castillo.

A transição para “Behind the Wall of Sleep” é rápida e torna a faixa uma versão mais animada – e até pesada, dadas as devidas circunstâncias -. Zakk, além de uma ótima execução vocal, encerrou a faixa com a guitarra no alto, enquanto a mudança para o riff “Bassically” ocorria com DeServio inspirado com seu baixo, naquele que é o começo de “N.I.B.”, faixa tocada na sequência e que levou o público ao delírio e para mais uma jornada de coros, pulos e gritos de “oh yeah”, nos momentos propícios da faixa. Zakk e DeServio finalizaram frente a frente, com o solo de guitarra e a ótima condução do contrabaixo.

A faixa que finalizou a edição de 2024 do Best of Blues and Rock foi a icônica “War Pigs”, que mobilizou a todos os que estavam no festival com o coro da letra, palmas rítmicas em meio aos “vazios sonoros” da faixa que antecedem trechos vocais. Zakk iniciou a faixa com os acordes que logo se transformaram numa condução do braço e da palheta para o céu. Depois, claro, fez uma nova execução vocal que, por segundos, me fez lembrar novamente da voz de Ozzy Osbourne. Uma parcela de fãs voltou a abrir a roda de bate-cabeça durante o momento mais frenético da faixa. No entanto, houve uma rápida dissipação, principalmente quando chegou no solo, estendido por Zakk para uma última caminhada pelos espaços laterais do palco, incluindo mais uma execução com a guitarra atrás da cabeça e sob todos os holofotes.

O fim do show contou com a maré de aplausos do público. Zakk, como demonstração de retribuição de carinho aos paulistanos, não somente aplaudiu e agradeceu como, junto a Joey e JD, trouxe uma bandeira do Brasil personalizada com a logo do Hell’s Kitchen Brasil, um dos principais fã clubes da banda Black Label Society, na qual Wylde e DeServio participam. O frontman ainda bateu por diversas vezes no peito e fez sinais da cruz como finalização de performance e da noite.

A noite terminou com saldo positivo pelas apresentações de qualidade – apesar da questão do bumbo – e pela estrutura do festival, que voltou a acertar em muitos aspectos. As pernas, claro, doeram devido a irregularidade do solo da reigão, mas isso sempre vira costume. O importante foi que a edição entregou, novamente, um grande repertório de Blues, Rock e Heavy Metal para os que compareceram.

Confira os setlists:

Di Ferrero

  1. Um Brinde
  2. Além de Mim (cover de NX Zero)
  3. Daqui pra Frente (cover de NX Zero)
  4. Intensamente
  5. Só Rezo (cover de NX Zero)
  6. Aonde é o Céu
  7. Cedo ou Tarde (cover de NX Zero)
  8. Corpo Fechado
  9. Ligação (cover de NX Zero)
  10. Hoje o Céu Abriu (cover de NX Zero)
  11. Californication (cover de Red Hot Chili Peppers)
  12. POLARIZADO
  13. Outra Dose
  14. Pela Última Vez (cover de NX Zero)
  15. Razões e Emoções (cover de NX Zero)
  16. Sentença

CPM 22

  1. Regina Let’s Go!
  2. O Mundo Dá Voltas
  3. Dono da Verdade
  4. Tarde de Outubro
  5. Atordoado
  6. Blitzkrieg Bop (Cover de Ramones)
  7. Mágoas Passadas
  8. Um Minuto Para o Fim do Mundo
  9. Apostas e Certezas
  10. Inevitável

?. Dias Atrás (com participação de Di Ferrero)

Eric Gales

Intro: O Fortuna (Carl Orff)

  1. Smokestack Lightning (cover de Howlin’ Wolf)
  2. You Don’t Know the Blues
  3. Put That Back
  4. Capoeira Jam (Berimbau)
  5. Steep Climb
  6. Too Close to the Fire
  7. Medley: Voodoo Child (Slight Return) / Für Elise / Kashmir / Back in Black / Voodoo Child (Slight Return)

Joe Bonamassa

  1. Hope You Realize It (Goodbye Again)
  2. Twenty‐Four Hour Blues (cover de Bobby “Blue” Bland)
  3. Well, I Done Got Over It (cover de Guitar Slim)
  4. I Know Where I Belong
  5. Self-Inflicted Wounds
  6. I Want to Shout About It (cover de Ronnie Earl and the Broadcasters)
  7. Double Trouble (cover de Big Bill Broonzy)
  8. I Feel Like Breaking Up Somebody’s Home Tonight (cover de Ann Peebles)
  9. The Heart That Never Waits
  10. Medley: Just Got Paid / Dazed and Confused / Drum Solo (os dois primeiros são covers de ZZ Top e Led Zeppelin, respectivamente)

Zakk Sabbath

OBS: todas as faixas são cover de Black Sabbath

Intro: Supertzar

  1. Supernaut
  2. Snowblind

Intro: Orchid

  1. Under the Sun/Every Day Comes and Goes
  2. Tomorrow’s Dream
  3. Wicked World
  4. Fairies Wear Boots
  5. Into the Void

Intro: Embryo

  1. Children of the Grave
  2. Lord of This World
  3. Hand of Doom
  4. Behind the Wall of Sleep
  5. Bassically
  6. N.I.B.
  7. War Pigs

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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