De fã para fã: Gus Nascimento apresenta tributo “The Cornell Project” em São Paulo
Texto: Daniela Reigas
Foto: Show Por Aí
Uma das vozes mais marcantes do rock, uma das personalidades mais influentes da música dos anos 90/2000 e um poeta de mão cheia, o norte-americano Chris Cornell nos deixou cedo demais, e sua falta é irreparável. Mas os fãs paulistanos do cantor que esteve à frente do Soundgarden e do Audioslave puderam aplacar um pouco da saudade na noite deste domingo, 23, através da interpretação de Gus Nascimento, cantor e compositor do ABC Paulista, com o espetáculo “The Cornell Project”, realizado no Teatro Bradesco. A banda que o acompanha é composta por Rafael Leoni na bateria, Felipe Gabriel no baixo, Márcio Alvez na guitarra e Leandro Freitas no teclado.
Com a plateia já bem preenchida, às 20:10h, as luzes se apagam e inicia-se um playback que imita o som de discos riscados e fora de rotação com trechos de várias músicas da carreira de Chris, já criando a expectativa das possibilidades do setlist da noite. Ao recolherem as cortinas, a entrada triunfal se dá com “You know my name”, conhecida por ser o tema de abertura do filme 007: Casino Royale, lançado em 2006. A música, que já é grandiosa, chega a assustar os desavisados, devido ao volume extremamente alto e às luzes ofuscantes que são lançadas pelos canhões do palco. Gus chega vestindo uma jaqueta de couro, jeans e botas, e sua figura à distância lembra bastante a de Chris na fase de cabelo curto. Sem tempo pra firulas, já emendam com “Original Fire”, do Audioslave, chamando a plateia pra acompanhar com palmas. Com os motores mais do que aquecidos, Gus tira a jaqueta e agora, exibindo uma regata branca, a referência fica ainda mais óbvia, e o som segue com “Your Time Has Come”. Finalmente uma pausa para cumprimentar a plateia – o músico diz que esse é um show de fã pra fã, preparado com muito carinho, e pede participação de todos para cantarem o hit “Be Yourself”. Os fãs seguem empolgados batendo palmas em “Doesn’t Remind Me”.
Uma belíssima guitarra vermelha entra em cena para que Gus possa representar mais fielmente a fase do Soundgarden, na qual Chris também tocava, e assim a banda segue com “Fell on Black Days” e “Spoon Man”. Antes de iniciar “Hunger Strike”, Gus conta a história por trás dela, mencionando o falecimento de Andrew Wood (Mother Love Bone), com quem Chris dividia quarto, que ocasionou a união com Eddie Vedder para a formação do Temple of the Dog. Para interpretar Eddie, é chamado ao palco Sérgio “Vedder”, que há 25 anos faz tributo a Pearl Jam com sua banda Blaymorphed. O dueto fascina diversos fãs, que chegam a aplaudir em pé ao final da performance. Ainda em homenagem a Andrew e, de forma geral, a todos os artistas que já nos deixaram, é hora de todos acenderem as lanternas dos celulares para a emotiva “Say Hello 2 Heaven”. Infelizmente o efeito não ficou tão belo pois ainda havia muita luz no palco.
Gradualmente a porradaria volta a tomar conta com “What you Are” seguida de “Outshined”, e temos uma boa surpresa com “Nearly forgot my broken heart”, do último videoclipe lançado por Chris.
Como não poderia deixar de constar numa homenagem à carreira completa de Chris, Gus trouxe também o set acústico, no qual, munido apenas do violão, um banquinho e o microfone, conquistou a plateia com interpretações de covers carregadas de paixão e bastante fidedignas às que ficaram conhecidas na voz do americano – para esse medley, foram selecionadas “Patience”, do Guns and Roses, “Imagine”, dos Beatles, e “Billie Jean”, do Michael Jackson. O músico foi ovacionado ao final das interpretações.
A banda vai voltando aos poucos e “I am the Highway” começa a ser executada em formato semi-acústico, mas quando entram todos os instrumentos, é hora de Marcio Alvez ter destaque com um solo próprio, não se atendo às linhas originalmente gravadas por Tom Morello. Após os aplausos e agradecimentos, vai chegando o último bloco, com a maior hit da carreira – “Black Hole Sun” -, seguida das poderosas “Show me how to Live” e “Cochise”, que faz vários fãs já não aguentarem mais ficar sentados. A banda então se retira brevemente enquanto a plateia chama pelo bis – que vem com a inusitada entrada de Gus pelo corredor central do teatro, dando a mão a alguns fãs das fileiras mais próximas enquanto canta “Like a Stone”, quase em uníssono à plateia. Quem ainda não havia se sentido à vontade para levantar teve a permissão que faltava quando Gus anuncia a última música, convocando todos a descerem e se aproximarem o máximo possível do palco – e a excelente “Gasoline” incendeia o teatro para o encerramento do show.
Certamente uma performance impressionante para um projeto que, de acordo com o músico, teve cerca de 10 ensaios em pouco mais de um mês de preparo para sua montagem. Para futuras apresentações, talvez fosse interessante adicionar mais algumas faixas da carreira solo, mas de qualquer modo, o setlist cumpre o prometido.
Setlist
You know my name – Chris Cornell
Original fire – Audioslave
Your time has come – Audioslave
Be yourself – Audioslave
Doesn’t remind me – Audioslave
Fell on Black days – Soundgarden
Spoonman – Soundgarden
Hunger Strike (c/ Sérgio Vedder) – Temple of the Dog
Say hello 2 Heaven – Temple of the Dog
What you are – Audioslave
Outshined – Soundgarden
Nearly forgot my broken heart
Solo acústico:
Patience (Guns and Roses) / Imagine (The Beatles) / Billie Jean (Michael Jackson)
I am the highway – Audioslave
Black hole sun – Soundgarden
Show me how to live – Audioslave
Cochise – Audioslave
Like a stone – Audioslave
Gasoline – Audioslave