Living Colour entrega show cheio de energia em São Paulo
Texto: Vítor Ferragini
Fotos: André Tedim
Na noite do último sábado, a banda de rock norte-americana Living Colour se apresentou no Tokio Marine Hall e entregou aos fãs um show de carisma, técnica, presença de palco, solos e habilidade vocal pra ninguém botar defeito.
A abertura ficou por conta da banda de crossover trash Black Pantera. Divulgando o quarto álbum, “Perpétuo” (lançado há apenas alguns meses), o grupo empolgou o público com seu estilo dinâmico, pesado e versátil, com destaque para o instrumental inspirado e as letras abordando temas raciais e políticos muito atuais. Interagindo o tempo todo com a plateia com uma energia sem igual, demonstraram ser a escolha ideal para abrir o show, tanto pela sonoridade agitada quanto por terem sido eles mesmos inspirados pelas gravações do Living Colour. Destaco aqui os riffs com influência clara de Rage Against the Machine e a conexão com os espectadores, que deixaram de ser meros ouvintes e participaram ativamente da performance. A apresentação durou uma hora, que passou voando graças ao dinamismo e presença dos artistas.
Após um intervalo de meia hora e ao som da Marcha Imperial (música tema de Darth Vader), os integrantes do Living Colour foram entrando no palco um a um e iniciaram com a animada “Leave it Alone“, do terceiro álbum, “Stain”. O carisma, estilo e entrosamento da banda eram cativantes, ao mesmo tempo em que entregavam uma performance impecável, maculada apenas pela mixagem de som extremamente alta da casa, por vezes abafando os vocais e ensurdecendo diversos ouvintes que precisaram se afastar das caixas de som.
Seguiram com “Desperate People“, do álbum de estreia “Vivid”, agitando mais ainda os fãs com as linhas de baixo inspiradas de Doug Wimbish e um virtuoso solo de Vernon Reid. Logo depois, tocaram “Ignorance is Bliss“, mais uma do “Stain” (e que seria seguida por mais três desse mesmo disco), e ao coro de “Everybody!” puxado pelo vocalista Corey Glover iniciaram “Bi”, com direito a um solo de baixo regado a efeitos e distorções no meio e no final da música. Emendaram com “Ausländer”, frenética e cheia de acordes dissonantes, e em sequência “Never Satisfied“, com riffs e solo totalmente hard rock, coroada com os aplausos calorosos do público.
A próxima foi “Funny Vibe“, do “Vivid”, com um groove singular na guitarra e um jam inspiradíssimo da banda. Após uma pequena demonstração da grande habilidade técnica do baterista Will Calhoun, iniciou-se “Sacred Ground“, representando o quarto álbum “Collideøscope”, seguida de um belo solo de guitarra clean para introduzir “Open Letter (to a Landlord)“, outra do “Vivid”. Nela, Corey Glover aproveitou para demonstrar de maneira memorável todo o seu fôlego e alcance vocal. Antes da próxima seção, Will Calhoun presenteou os ouvintes com um excelente e complexo solo de bateria.
“Flying”, mais uma canção do “Collideøscope”, começou com um ritmo contagioso na guitarra, evoluindo para um grande solo. Então, variando um pouco o repertório, a banca tocou um medley com trechos de músicas compostas pelo baixista, Doug Wimbish, para artistas de rap no final dos anos 70: “White Lines (Don’t Do It)“, “Apache” e “The Message“. Com mais um pequeno jam, introduziram “Glamour Boys“, um dos maiores sucessos da banda, que foi acompanhada pelo público na cantoria e na empolgação.
Entrando na reta final e representando o segundo álbum, “Time’s Up”, iniciou-se a guitarra funk de “Love Rears its Ugly Head“, recebida calorosamente pelos fãs. Logo após, veio a faixa título “Time’s Up” com uma bateria frenética e virtuosismo exemplar, que continuou na sequência com a tão esperada “Cult of Personality“. Vencedora do Grammy de melhor performance de hard rock em 1990, a música resistiu ao teste do tempo e continua até hoje na ponta da língua do público.
Para encerrar a noite, a banda dedicou a última canção, “Type”, à banda de abertura Black Pantera. A plateia ainda tinha energia para cantar e pular durante toda a saideira, até que a banda encerrou e se despediu, distribuindo palhetas e baquetas jogadas para a pista. Apesar de boa parte dos arredores do Tokio Marine Hall ainda estarem sem luz devido aos fortes ventos da noite anterior, os artistas e os fãs demonstraram ter, sim, energia de sobra.