Opinião: com quantos anos você descobriu que o Rock in Rio nunca foi um festival 100% de Rock?
Que o Rock in Rio é o maior evento de música do mundo, não resta dúvida nenhuma. Agora, o que muita gente ainda não consegue entender é como um festival que traz o nome “Rock” consigo não é um festival 100% roqueiro. E antes de entrarmos nessa seara, deixemos uma pergunta ao caro leitor: quantos anos você tinha quando descobriu que o Rock in Rio não é um evento exclusivamente do Rock?
Tudo bem, vai ter alguém que estará lendo esse artigo e vai dizer que o redator está viajando, que a questão não é essa e que em 1985, o primeiro Rock in Rio era bem mais roqueiro. Essa é uma meia verdade e vamos explicar, com base nos dados históricos e não somente em argumentação rasa.
De fato, 1985 foi a edição em que Roberto Medina trouxe mais artistas de Rock e Metal: Iron Maiden, AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Queen e Yes foram as atrações internacionais, enquanto que Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Rita Lee e Erasmo Carlos, fizeram as honras da casa pelo time nacional. Podemos “forçar um pouco a barra”, citando nomes como Kid Abelha e Blitz, que podem até flertar com o Rock, mas nunca nem de longe tiveram as guitarras como predominantes. Mas em um total de 31 artistas que se revezaram nos dez dias de evento, menos da metade era do Rock.
E para quem ainda insistir que em 1985 “só tinha Rock”, vamos aos nomes que lá estavam além dos que foram citados no parágrafo anterior: Moraes Moreira, Baby do Brasil, The Go-Go’s, Nina Hagen, George Benson, Al Jaurreau, Ivan Lins, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Elba Ramalho e The B-52 são Rock desde quando mesmo? Trata-se somente de mais uma lenda urbana criada pelas pessoas. Dos mesmos que diziam que “videogame estraga televisão” ou que “tomar manga ao leite leva ao óbito”.
Em 1991, na segunda edição, tivemos também alguns nomes da música pesada, como Guns N’ Roses, Sepultura, Judas Priest, Megadeth, Queensryche, Sepultura, Titãs, Faith no More, e, forçando a barra mais uma vez, podemos incluir nomes como Engenheiros do Hawaii, Carlos Santana, INXS, Nenhum de Nós, Inimigos do Rei e Supla. Mas eles se tornariam minoria diante de nomes como Jimmy Cliff, Dee-Lite, Information Society, New Kids on the Block, Run DMC, A-ha, Prince, Roupa Nova, Hanói Hanói, Laura Finocchiaro, George Michael, Happy Mondays, Debbie Gibson, Joe Cocker, Colin Hay, Ed Motta, Lisa Stanfield, Leo Jaime e novamente Elba Ramalho e Moraes Moreira?
Em 2001 o número de artistas do Rock aumentou, mas a proporção diminuiu, haja vista que a partir desta edição, outros palcos foram montados na cidade do Rock e abriu o leque para diversos estilos. Então, mesmo com Guns N’ Roses, Foo Fighters, Sepultura, Iron Maiden, Rob Halford, Silverchair, Neil Young, Ira!, Ultraje a Rigor e Barão Vermelho, tivemos contrastes como Fernanda Abreu, Gilberto Gil, NSYNC, Britney Spears, Aaron Carter, Dave Matthews Band, além das bizarrices como Sandy e Junior e Carlinhos Brown, que estava se achando o rei do Rock baiano só porque gravou com o Sepultura o álbum “Roots”, seis anos antes. Tomou uma chuva de garrafadas, justa, ainda que sejamos contra a violência.
Depois de dez anos de hiato, quando todos pensavam que o festival não voltaria ao seu lugar de origem, em 2011, tivemos uma nova edição e a partir deste ano, sendo realizada a cada dois anos, até 2019. A edição de 2021 foi adiada para o ano seguinte devido a pandemia de COVID-19 e desde então vem mantendo sua edição bienal, agora em anos pares. Mas em todas elas, o Rock não foi nem perto de ser o estilo principal, o que pode ter contribuído para essa lenda de que o Rock in Rio de 1985 era mais “roqueiro” do que os demais. Não, não era. O que podemos talvez afirmar é que, em 1985, as bandas que hoje nós colocamos na primeira prateleira, estavam em evidência, vivendo seus melhores momentos.
Talvez esse ano, o roqueiro xarope tenha razões para reclamar, afinal, o dia dedicado ao estilo traz bandas sem muito apelo e a banda que merecia ser headliner, no caso, o Deep Purple, ficou com o palco Sunset, o que parece ser um demérito muito grande. Avenged Sevenfold e Evanescence não são bandas que atraem muita gente, a primeira tem fãs da nova geração e a segunda tem fãs com trinta anos que acham viver em Neverland. Ainda assim, os ingressos não se esgotaram, o que mostra que esse estilo não é (nunca foi) o alvo de Medina.
Então pra quê reclamar, se temos outros festivais de Heavy Metal? Bangers Open Air (o ex-Summer Breeze Brasil), Monsters of Rock, Knotfest, Kool Metal Fest, mais os shows avulsos que temos por aqui. O Brasil, apesar de estar muito longe de ter o Heavy Metal como um estilo popular, nunca se tornará, muito em virtude da barreira do idioma, está muito bem servido quando o assunto é shows de Rock. Então vamos reclamar menos e comparecer não só naquele show mainstream, mas também naquela banda que está iniciando. Lembre-se de que um dia o Iron Maiden já foi uma banda de garagem e tocou para gente que se dispôs a pagar 20 reais.
Pela a lista de convidados e bandas…essa foi a pior em termos de Metal, quase não tem nada de bom ali!!!! Pessoas dormem na fila para ver Kate Perry e outras coisas da moda…por isso que vende ingresso esse Pop in Rio!!!! Bandas de Rock são poucas e de metal quase nada…triste!!!! Valeu!!!!