Pearl Jam: as histórias de “Ten”, disco de estreia que completa 32 anos

Em 1991 o cenário do Rock em geral vivia um período de entressafra: as bandas de Heavy Metal começavam a entrar na crise de criatividade, que gerou álbuns abaixo da crítica naquele período. As bandas de Hard Rock e do Glam Metal entravam em decadência. Mas um movimento surgido em Seattle, cidadezinha encravada no noroeste dos Estados Unidos, revelava ao menos 4 bandas que se tornaram gigantes. Ainda que cada uma delas possua uma sonoridade bem peculiar, todas elas foram chamadas de Grunge. Foi sob este cenário que o Pearl Jam lançou, há 32 anos, seu álbum de estreia, o aclamado “Ten”.

Embora lançado antes de “Nevermind”, do Nirvana, que estourou, “Ten” também nasceu clássico. E antes de falarmos do aniversariante do dia, precisamos voltar no tempo, a história é longa, porém, muito interessante e nos ajuda a entender como foi que, não só o disco do dia, mas o próprio Pearl Jam foi concebido.

7 anos mais cedo, sendo mais preciso, em 1984, quando os amigos Stone Gossard (guitarra) e Jeff Ament (baixo), fundaram o Green River, uma banda punk. A banda encerrou as atividades em 1987, mas a dupla seguiu junta: ambos montaram uma banda, chamada Mother Love Bone e contavam com o vocalista Andrew Wood.

Mas Wood morreu de overdose em 1990 e o projeto teve de ser abortado, embora tenha lançado um álbum póstumo, chamado “Apple“. Porém, a dupla persistiu e por intermédio do baterista Jack Irons, que havia tocado no Red Hot Chilli Peppers e mais tarde integraria o próprio Pearl Jam, encaminhou uma demo tape com linhas instrumentais para que seu amigo, um certo Edward Louis Severson III, que mais tarde seria conhecido como Eddie Vedder (o sobrenome ele passaria a utilizar e que era de sua mãe) e que vivia em San Diego. O trabalho dele seria escrever letras, gravar em cima das músicas compostas pelo agora trio Gossard. Ament e Mike McCreaddy e mandar a fita de volta. Irons havia sido convidado, porém, declinou. Ele inclusive toca em outro álbum do Pearl Jam que também faz aniversário no dia de hoje, esse álbum é “No Code“, o quarto da discografia da banda e lançado no ano de 1996.

Vedder, que vivia em San Diego e havia sido vocalista de bandas como a Bad Radio, trabalhava na época como segurança, mas já havia sido frentista e até mesmo coveiro, recebeu a demo de seu amigo Jack Irons e passou a trabalhar em cima dos instrumentais que tinha à sua disposição.

Reza a lenda que Vedder, surfista, foi pegar onda e teria saído do mar com três letras em mente: “Alive“, “Once” e “Footsteps“. Apenas esta última nunca fora lançada em um álbum oficial do Pearl Jam. Os integrantes gostaram muito do que fora gravado pelo vocalista e logo ele foi convidado a se mudar para Seattle e assim se juntar aos novos parceiros. Faltava apenas um baterista para completar o lineup.

A banda seria chamada de Mookie Baylock, um jogador de basquete da época, mas ainda bem que desistiram da ideia. Porém, para o álbum de estreia, fora escolhido o número da camisa que este atleta utilizava. Antes os músicos se juntaram ao saudoso Chris Cornell e Matt Cameron que se tornaria baterista do Pearl Jam até os dias atuais, e gravaram um disco tributo a Andrew Wood. O projeto se chamou Temple Of The Dog e teve um relativo sucesso.

Com o nome da banda alterado (o Pearl é uma homenagem a avó de Vedder e o Jam a banda adotou após assistir a uma jam session comandada por Neil Young, grande influência da banda e com quem eles gravaram um álbum juntos, “Merkinball“, de 1995), nome do disco definido e um baterista escolhido para gravar o álbum, Dave Krusen, era a hora de a banda adentrar ao “London Bridge Studio”, na cidade de Seattle, sob a batuta de Rick Parshar na produção. E entre os dias 27 de março e 26 de abril de 1991, “Ten” foi gravado.

Em 54 minutos o que temos aqui é um belo disco de Rock, com peso, melodia e melancolia bem dosados. Em onze músicas, a banda chegava com o pé na porta. E dentre as bandas que compunham o núcleo mais importante deste movimento Grunge, hoje em dia, só o Alice in Chains além do Pearl Jam seguem em atividade. Hits eternos da banda foram criados aqui, como “Even Flow“, “Jeremy“, “Alive“, “Black“, “Oceans“, “Once“, e outras músicas que são excelentes como “Porch“, “Deep” e por aí vai. Isso sem contar as músicas gravadas na época e que ficaram de fora, sendo lançadas como lado B ou em coletâneas futuras. São elas “State of Love and Trust“, “Breath“,  “Wash“, “Brother“, “Just a Girl“… Eram muitas músicas, logo, algumas ficariam de fora.

E se o álbum num primeiro momento, não fez tanto sucesso, um ano depois, era um estouro. “Ten” chegou ao segundo lugar da “Billboard 200” e vendeu mais de 10 milhões de cópias somente nos EUA. A revista “Kerrang” elegeu o disco como o 11° em uma lista dos 100 discos que você deve ouvir antes de morrer; já a “Spin“, elegeu o disco como o 33° em uma lista dos 90 melhores álbuns dos anos 90; a “Rolling Stone” estadunidense elegeu “Ten” como o 207º entre os 500 melhores discos de todos os tempos, enquanto que a versão alemã da mesma revista o classificou em 20° na mesma lista. A “Guitar World” colocou o disco entre os 15 melhores álbuns de guitarra de todos os tempos.

Minha relação com este álbum… o Pearl Jam foi a minha “teenage band”. Eu tenho um carinho muito grande por esse disco. Já tive a fita cassete original dele e hoje o CD está em um lugar bem guardado na minha casa. E de vez em quando eu escuto esse álbum que fez história.

É pela qualidade sonora deste disco, aliado ao saudosismo deste redator que vos escreve, que este disco deve ser sim, lembrado. Você pode até não gostar da banda, mas há de reconhecer que eles foram importantes na cena musical, completamente sem muito a oferecer, na primeira metade dos anos 1990. Ainda que o Pearl Jam odeie essa fase e tenha tentado por diversas vezes se auto- sabotar, as tentativas tiveram um efeito contrário e eles são um dos gigantes do Rock, com o nome escrito na história. Graças a álbuns como este “Ten“, que envelhece bem, obrigado.

 

Ten – Pearl Jam

Data de lançamento: 27/08/1991

Gravadora: Epic Records

 

Faixas:

01 – Once

02 – Even Flow

03 – Alive

04 – Why Go

05 – Black

06 – Jeremy

07 – Oceans

08 – Porch

09 – Garden

10 – Deep

11 – Release

 

Formação:

Eddie Vedder – Vocal

Stone Gossard – Guitarra

Jeff Ament – Baixo

Mike McCreaddy – Guitarra

Dave Krusen – Bateria

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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