Resenha: Angra – “Cycles of Pain” (2023)
Um disco novo do Angra é sempre um evento dentro do metal nacional e sempre estamos preparados para ouvir de tudo e mais um pouco nas reações de seus ouvintes.
A última empreitada do grupo foi “Omni”, de um já distante 2018 e que de lá para cá muita coisa aconteceu no Angraverso, desde a prematura morte de Andre Matos a uma recente (e temporária) saída de Kiko Loureiro do Megadeth, entre outros demais fatos polêmicos e algumas “farpinhas” aqui e acolá, pois não seria o Angraverso sem elas.
Mas indo ao cerne deste texto, finalmente temos “Cycles of Pain”, o décimo disco da carreira do Angra e que foi avidamente aguardado por seus fiéis seguidores, fosse para lançar alguma hashtag ácida ou, elogiar o que encontramos ali.
Podemos dizer que para ambos os lados existem brechas no novo álbum que chega no início do próximo mês pela Atomic Fire Records.
Em entrevista, Rafael Bittencourt disse que o registro seria uma autoreferência e passaria por toda a carreira do Angra, o que ele não mentiu. Há de tudo um pouco no caldeirão novo e a mistura é acertada e cada ingrediente é colocado na pitada correta.
Indo as músicas, como de praxe, há uma abertura rápida com “Cyclus Doloris”, tipicamente “Angraniana” e que dá espaço a já conhecida do público “Ride Into the Storm”, faixa veloz, de riffs cavalgados e um Fabio Lione imponente em um de seus melhores registros vocais na banda. O refrão é grandioso e marcante, cheio de drama e acertado. “Dead Man on Display”, tem um começo soturno e soa densa, cadenciada e logo cai em algo mais ágil com um Bruno Valverde preciso e bruto na bateria. A faixa desfila peso e precisão. A quebradeira na metade é caótica e mostra uma sincronia incrível de Bruno e Felipe Andreoli. E claro que ao se tratar do Angra, uma balada não poderia ficar de fora e com isso chegamos a “Tide of Changes”, dividia em duas partes, a primeira mais calma fazendo a vez de melódica, e a parte dois mais certeira, que inclusive traz claras referências a “Holy Land”, especificamente a música “Carolina IV”. Mais uma faixa de refrão marcante e carregado de força, também já conhecida do público. Na sequência chegamos a um dos mais belos momentos do disco. “Vida Seca” traz a presença de Lenine fazendo a abertura do vocal cantado em português em linhas maravilhosas e hipnóticas, cantando a vida do brasileiro que luta no seu dia a dia e logo um riff traz o lado metal e a passagem para Lione assumir as vozes acontece numa dinâmica incrível. Sem dúvidas uma das mais belas e imponentes músicas do disco. As melodias das guitarras de Marcelo Barbosa e Bittencourt são um espetáculo a parte e a cozinha uma das maiores dessa formação. Seguindo, abertura cinematográfica de “Gods of the World” abre espaço de uma música poderosa, que poderia facilmente figurar em um disco do Blind Guardian. A faixa título finalmente dá as caras, quase na reta final do registro, mas não é nada menos do que uma das melhores faixas título já feitas pelo Angra. As nuances de baixo são espetaculares e mais espetacular ainda é a dinâmica fluída dos versos para o refrão e depois, ao solo, que é grandioso e um dos mais bonitos que a banda já colocou em um disco seu. A ponte é de arrepiar e imagino o impacto que terá nos próximos shows. “Faithless Sanctuary” traz ritmos “abrasileirados” e uma quebradeira insana e agressiva que preenche a audição de forma impactante, sendo obrigatória ser tocada nos shows, pois isso aqui ao vivo vai fazer estrago! Os riffs de Rafael e Marcelo são gigantes e a cozinha é uma bomba marcada para explodir! Lione soa como um monstro aqui, com sua voz explodindo no teto e eis aqui mais uma fortíssima candidata a melhor do álbum. Não vou falar do solo, simplesmente, OUÇAM! “Here in the Now” é um momento mais calmo e brando e após a surra de porradaria anterior, passa de forma mais morna. “Generation Warriors” é o momento alegria dos fãs de power metal raiz e irá tirar sorrisos dos ardorosos do gênero. Há ainda uma parte mais prog em sua metade que irá dar um belo nó na cabeça do ouvinte. Quem encerra o registro é a enigmática “Tears of Blood” que divide os vocais de Lione com a cantora Amanda Somerville, e traz ainda Juliana D’Agostini no piano. A música é gigante e traz Fabio usando sua voz “operistica” em um épico triunfante para fechar o disco de forma arrepiante em todos os sentidos que a palavra possa descrever.
O Angra faz valer a espera e entrega um dos seus maiores trabalhos em toda a sua história e certamente o melhor da atual formação. E dessa vez a tag ácida pode vir da própria banda, que mostra porque ainda é uma das maiores potências do heavy metal brasileiro, com uma obra regida com maestria, peso, dinâmica e respeitando cada capítulo de sua trajetória.
NOTA: 9
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