Resenha: Kataklysm – “Shadows & Dust” (relançamento)

Quando Kataklysm lançou seu sexto álbum, Shadows & Dust, em 2002, e agora relançado pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records, deu um salto decisivo na carreira — é um registro que equilibra brutalidade e melodia com precisão cirúrgica. A força do disco já se mostra logo de cara na faixa-título “In Shadows & Dust”, que abre com uma mensagem quase militar e mergulha em um turbilhão de blast beats e riffs afiados. A bateria de Max Duhamel guia a torrente com contundência, enquanto o vocal de Maurizio Iacono transita entre urros densos e gritados mais cortantes.

Em seguida, a faixa “Beyond Salvation” mantém o ritmo frenético, e o álbum ganha profundidade com “Illuminati”, onde Kataklysm mostra seu amadurecimento composicional: há passagens cadenciadas, quase introspectivas, mescladas a explosões de agressividade. Já em “Chronicles of the Damned” e “Bound in Chains”, a banda parece dominar a arte de alternar entre melodia envolvente e uma pancadaria ininterrupta, uma fórmula que se repete em outras faixas como “Where the Enemy Sleeps” ou “Centuries”.

Não é um álbum unidimensional de velocidade desenfreada: há também momentos de tensão e respiro. Em “Face the Face of War”, por exemplo, a construção musical sugere um embate iminente, uma batalha sonora que se sustenta até o desfecho. E o encerramento, com “Years of Enlightenment / Decades in Darkness”, oferece uma síntese ideal do que Kataklysm queria transmitir: contraste entre luz e sombra, melodia e brutalidade, progresso e desespero.

Do ponto de vista técnico, o álbum é impressionante. A produção — conduzida por Jean-François Dagenais, que também é guitarrista da banda — garante que cada instrumento tenha seu espaço: o baixo de Stéphane Barbe se destaca nas partes mais cadenciadas, enquanto a guitarra alterna entre riffs pesados e solos melodiosos. A mixagem deixa claro que não se trata apenas de volume ou velocidade, mas de construção cuidadosa de atmosfera.

Além disso, há um crescimento evidente em relação aos álbuns anteriores. Depois de uma fase controversa, Kataklysm parece ter encontrado um equilíbrio nesta obra: é furiosa, sim, mas também madura. A própria crítica da época elogiou essa evolução, dizendo que o disco entrega uma “tempestade de espadas musicais” — e não é para menos.

No rol de destaques, “Illuminati” vibra por sua melodia carregada e ritmo tão agressivo quanto contagiante. Já “Centuries (Beneath the Dark Waters)” é quase épica, com camadas sutis e um senso de grandeza que lembra momentos mais introspectivos, enquanto “Years of Enlightenment / Decades in Darkness” fecha o álbum com um peso simbólico, como se Kataklysm estivesse dizendo: “olhamos para frente, mas não esquecemos as cicatrizes”.

Vale registrar que essa versão do disco foi lançada pela parceria Nuclear Blast e Shinigami Records, o que reforça a importância do registro no catálogo da banda — é uma fase em que eles acertaram em cheio tanto na execução musical quanto na exposição internacional.

Quanto à sua relevância, Shadows & Dust é frequentemente citado como um dos álbuns mais representativos não só do Kataklysm, mas do death metal moderno. A crítica especializada vê ali um trabalho que consolidou o som da banda — uma mistura de velocidade extrema, técnica aguçada e melodia grandiosa — como poucos conseguem fazer.

Em resumo: Shadows & Dust é um petardo de álbum. É violento, é preciso, é emocional, e ainda carrega aquele espírito de batalha metalúrgica que define o death metal mais honesto. Para fãs do gênero — e para quem quer conhecer um momento alto da discografia do Kataklysm — esse registro é obrigatório.

NOTA: 8

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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