Resenha: Oceans – “Happy” (2024)

Com sua ascensão no cenário underground do metal ainda fresca após o sucesso de seu segundo álbum, a banda Oceans retorna com o tão esperado “Happy”, seu terceiro disco, lançado no Brasil pela parceria Nuclear Blast/Shinigami Records. Embora o título sugira uma possível mudança de direção sonora e lírica, não se engane: a intensidade e o peso que marcaram sua jornada até aqui permanecem inalterados e até mais poderosos do que nunca.

A abertura do álbum, *Parasite*, com pouco menos de dois minutos, serve tanto como uma introdução quanto como um golpe inicial de energia bruta. As guitarras de Timo Rotten e Patrick Zarske iniciam com uma textura abafada, escondidas atrás de uma onda de vocais e falas antes que Rotten comece a cantar com sua voz soturna, que gradualmente se transforma em um grito estridente. A banda, então, explode em uma tempestade sonora de caos e agressividade, com o baterista Jakob Grill marcando seu território com batidas implacáveis. A transição para “Spit” é uma sequência natural, com a música começando de forma mais lenta, mas logo desabando em riffs de death metal velozes e percussões explosivas. Nesse momento, já fica claro que Oceans não está mais retendo nada. Eles abriram as comportas de sua sonoridade e deixaram tudo sair em “Happy”.

Embora a banda continue explorando temas relacionados à saúde mental em suas letras, o álbum revela uma mudança significativa na abordagem. Ao invés de se limitar a discussões introspectivas, Oceans agora mergulha em questões sociais com a ferocidade de um touro em uma loja de porcelanas. Ouça atentamente e perceberá que a banda encontrou seu verdadeiro som. Embora as influências nu-metal ainda estejam presentes, há uma transição clara para a agressividade do death metal, que impulsiona as músicas com ainda mais força. Grill, com seus blast beats, aparece de maneira proeminente, tornando-se uma das peças-chave no novo fluxo da banda. Os membros do grupo funcionam como uma máquina perfeitamente sincronizada: precisos, implacáveis, e com um ritmo que raramente desacelera. Nos momentos de quebra, os grooves mais lentos levantam a cabeça brevemente, antes de serem rapidamente engolidos pela camada atmosférica de post-rock que permeia o disco.

Uma das faixas mais provocativas do álbum, “Click Like Share*” inclui uma amostra do “sprite challenge”, com arrotos e tudo, uma crítica sarcástica à forma como as redes sociais moldam o comportamento da sociedade, especialmente entre as gerações mais jovens, que buscam notoriedade a qualquer custo, muitas vezes através de ações embaraçosas. Oceans, no entanto, não se limita a fazer apenas uma crítica. Eles encerram a música com uma carga emocional sincera, como se a desilusão com a superficialidade da fama digital fosse transformada em uma poderosa declaração artística.

A experiência de ouvir “Happy” não é apenas uma questão de apreciar faixas isoladas. O álbum é um bloco coeso de caos sonoro e fusão de estilos, que se encaixa de maneira orgânica e impressionante. Não há nada semelhante por aí – Oceans traçou seu próprio caminho e, como sempre, não pede desculpas por isso.

A banda não se esquiva de tocar em temas sensíveis, e ao longo das 11 faixas, eles desafiam o ouvinte a não apenas ouvir as letras, mas a sentir a tensão crua e desconfortável que emana de suas performances vocais. Rotten, em certos momentos, soa como uma bruxa selvagem, com um grito que não encontra paralelo em qualquer outro subgênero do metal. Sua versatilidade é notável: entre gritos imperturbáveis e momentos mais melódicos, ele flui de uma forma única, mas sempre com a mesma intensidade. A química entre os membros da banda é palpável, e cada um deles tem um papel vital na dinâmica intensa de “Happy”. Se você procura um álbum para extravasar, para se purificar, ou simplesmente para canalizar a raiva, “Happy” é o que você precisa. Mas um aviso: como a própria banda afirma, este é “um álbum para pessoas deprimidas”, então se decidir embarcar nessa viagem, faça-o por sua conta e risco. Afinal, Oceans não se responsabiliza pelo que seu pescoço será capaz de suportar.

NOTA:8

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *