Slaughter to Prevail faz estreia inesquecível em São Paulo com apresentação brutal e público amplamente enérgico
Texto: Tiago Pereira
A cidade de São Paulo hospedou, no último dia 29 de março, uma série de eventos em diversos locais. É possível, no entanto, dizer que nenhum deles contou com tamanha intensidade e energia de público e bandas quanto ao que foi presenciado na estreia da banda de Deathcore russa Slaughter to Prevail na capital paulista, cujo evento aconteceu na VIP Station, casa de eventos localizada na Zona Sul, e contou com abertura da banda de Metalcore brasileira Axty, sob produção e organização da Xaninho Discos.
A apresentação marcou também o encerramento da turnê de estreia do STP pela América Latina. Além do show de São Paulo, a banda anteriormente passou pela Cidade do México (14), Bogotá, na Colômbia (16), Lima, no Peru (19), Santiago, no Chile (22), Buenos Aires, na Argentina (25) e por Curitiba, Paraná (27).
O VIP Station contou com a casa cheia, ocupando quase toda a pista em uma hora desde a abertura dos portões, às 19h. Tal situação foi impressionante e impactou até mesmo no show de abertura, com o quarteto do Axty inspirado musicalmente dentro dos 30 minutos de apresentação e com poucas pausas, sem discursos, a destacar a técnica dos instrumentistas e o poderio vocal de Felipe Hervoso, que usou de suas técnicas variadas e aplicou os guturais até mesmo em trechos de voz mais limpa – isso, claro, dentro do ritmo da faixa e de modo impressionante. Os presentes aclamaram a banda, com direito a bate-cabeças e até um “esquenta” de Wall of Death na faixa final.
Porém, a explosão enérgica do público se deu por completo na apresentação principal, a partir do momento em que os membros do Slaughter to Prevail pisaram no palco até o último minuto, contribuindo com moshes intensos, bate-cabeças brutais e coros poderosos em momentos pontuais das faixas tocadas. Tudo isso não somente fez o clima do local esquentar durante e após a apresentação, como botou o evento no rol dos possíveis melhores shows de 2025.
A banda, no palco, retribuiu com toda a brutalidade possível dentro da sonoridade das 13 músicas tocadas, a destacar seu vocalista, Alex Terrible, que trouxe o poderio de sua voz durante todas as quase uma hora e trinta minutos de show, somadas a pedidos por circle pits, organização de pulos dos fãs e o clássico momento de silêncio para o grito sem microfone do final de “VIKING”. Junto a isso, o frontman, em nome da banda por um todo, agradeceu frequentemente ao público e para todo o conjunto da turnê pela América Latina, buscando demonstrar esses agradecimentos de todos os modos, mas principalmente pela entrega musical e performática durante a noite.
Axty
O quarteto paulistano fez um show extremamente enérgico e qualitativo em meio a dois desafios gerados antes e durante o evento: o primeiro envolve as críticas de parte dos fãs da banda, que não gostaram do anúncio de que o Axty abriria para o Slaughter to Prevail devido às polêmicas que envolvem Alex Terrible – fator que, muito provavelmente e junto com a questão do tempo de apresentação, levou o grupo a fazer o mínimo de discursos possíveis -; já o segundo era a responsabilidade de aquecer um público que lotou completamente o VIP Station e que, apesar da ansiedade pelo show principal, não deixou de aclamar a banda de abertura do começo ao fim, respondendo aos pedidos por moshes e até de um wall of death.
A apresentação foi uma sequência da agenda no retorno ao Brasil após uma turnê com 22 shows realizados nos Estados Unidos, entre janeiro e fevereiro deste ano, somados com uma receptividade positiva e calorosa ocorrida no New Core Fest, seis dias antes, no Cine Jóia, em que o Axty foi headliner.
Felipe Hervoso (vocal), Felipi Grivol (guitarra), Gabriel Vacari (bateria) e Jonathas Peschiera (baixo) entraram no palco pontualmente, às 20h. O foco do setlist da banda, com nove faixas, foi o terceiro e mais recente álbum de estúdio, “Hannya”, de junho de 2024, além de dois singles lançados entre o ano passado e o atual. No telão, uma imagem contínua com a logo da banda e o vai e vem de ondas do mar em preto e branco.
Sem muitas saudações, o grupo começou com “Take Me Down”, trazendo muitas das características que o Axty abordou no novo trabalho, a destacar as linhas “quebradas” da guitarra de Felipi e um Felipe Hervoso inspirado que, assim como em parte das músicas seguintes, manteve seus guturais até mesmo em partes que seriam de voz limpa nas versões de estúdio – e claro, de modo que não comprometeu em nada a faixa. Desde o começo, um núcleo de bate-cabeça surgiu no meio da pista, o que poderia ser apelidado de “epicentro do caos” para o que ainda viria durante toda a noite.
O single mais recente do Axty, “fragile”, veio emendado no final da faixa anterior, com o elevar da energia dos músicos no palco e, claro, do público na pista. Felipe Hervoso, inclusive, surpreendeu a todos com seus guturais e até mesmo um trecho de pig squeal na reta final da faixa. Em seguida, “Fade Away” foi tocada após o pequeno trecho da faixa que imitava, com voz humana, as linhas do riff que viria na sequência. Um primor sonoro para os presentes.
Assim como no álbum “Hannya”, a faixa “Fall Again” veio na sequência de “Fade Away”. Nesta, houve outro início diferenciado, com um trecho phonk que se encerra com o grito editado de uma cabra, de um meme clássico, antes de iniciar mais um instrumental pesado da banda, com o riff e outras linhas inspirados no djent, um baixo mais destacado e mais técnicas poderosas de Hervoso ao longo da faixa, com direito a um “arf arf” durante o breakdown da faixa.
Em um breve discurso, o vocalista do Axty apresentou a banda, esperando que o público estivesse curtindo. E a resposta veio justamente em “dismay”, single lançado pela banda em dezembro de 2024 e que também contou com o trecho introdutório “pissed”. Nela, o peso e a qualidade sonora dos integrantes se manteve em altíssima qualidade, assim como era possível ouvir uma parcela do público cantar junto a um Felipe Hervoso que abusou positivamente dos guturais ao longo da faixa. Mas o ponto áureo da faixa veio no breakdown, onde o grito melódico do meme “Oh My God”, viralizado pelo ex-Viner Joe’L (no Instagram, identificado como @omgkvngape), foi amplamente entoado pelo público presente, uma demonstração clara de que parte acompanha a banda e curtiu a faixa, assim como outra parte teria feito a lição de casa para conhecer o grupo e suas faixas – a contar por essa, a mais recente -. O que veio na sequência deste “pré-breakdown” foi uma das sequências mais poderosas e técnicas de gritos de Hervoso, em meio a uma sonoridade fortemente obscura e que levou a mais um mosh insano na pista. A sequência vocal e instrumental poderosa da banda seguiu com “Flowers and Butterflies Lullaby”, a destacar as linhas de bateria de Gabriel Vacari e as técnicas de Hervoso que, no breakdown da faixa, trouxe gritos brutais à tona, novamente.
A reta final do show de abertura se deu com a curta “You’ll Find Me” e “Six Feet Under”. A primeira, além de quase ser um interlúdio para a seguinte, seguiu como preparo para um “Wall of Death de aquecimento” para a apresentação seguinte – tal feito surgiu a partir do momento em que Felipe Hervoso disse “Eu preciso disso aqui dividido ao meio” e grande parte da pista foi para cada bloco, se chocando na sequência, com uma sonoridade poderosa da banda -; Para a segunda faixa, Felipe Hervoso apostou no foco mais lírico nos trechos de refrão, além de manter os poderosos guturais nas demais partes – principalmente durante o brutal e talvez mais grave breakdown de toda a noite, do final da faixa.
Ao todo, o Axty superou qualquer possível barreira imposta, entregando um show que agradou a todo o público presente na VIP Station. Quem já conhecia a banda com certeza se impressionou com o que viu ao vivo, assim como quem não conhecia, teve o melhor cartão de visitas possível em um show que superou qualquer possível barreira imposta antes ou durante a apresentação.
Momentos antes do show principal
A ansiedade e expectativa do público cresceu após o poderoso show do Axty. Isso, claro, se converteu energicamente durante esse tempo de espera.
Os preparativos no palco eram rápidos e precisos dentro dos 30 minutos previstos antes do Slaughter to Prevail entrar oficialmente no palco. Fãs gritavam para qualquer coisa de diferente que acontecesse, a exemplo da aparição relâmpago do logo da banda, os testes do kit de bateria de Evgeny Novikov por um roadie e até gritos esporádicos por Alex Terrible em alguns dos minutos finais. Outras das “descargas de ansiedade” mais interessantes desse pré-show se deram justamente nos dois momentos em que Novikov subiu ao palco para ele mesmo testar sua bateria e o retorno, respectivamente, e ajustar o que fosse preciso.
Faltando pouco mais de dez minutos para o início do show, o público voltou a gritar o nome de Alex a plenos pulmões e vibrou quando a música de espera começou a tocar nas caixas de som da VIP Station: era uma longa, repetitiva e boa batida de música eletrônica que surgiu junto com luzes azuis que foram a iluminação do palco nesse tempo. Magicamente, alguém apareceu com um globo de isopor e purpurina prateada nesses minutos finais, na pista, girando ele como se aquilo fosse um decreto de “balada momentânea”, tamanha a lotação em toda a casa de eventos.
Os gritos pelo frontman do STP voltaram no ritmo de “olê, olê, olê, olê”, no minuto final, convertidos por ovações poderosas ao final do instrumental eletrônico e o apagar das luzes. Chegava, então, o início dos 90 minutos mais intensos de toda a São Paulo naquele dia. Quem sabe, do mês de março e, apostaria previamente, do ano de 2025.
Slaughter to Prevail
As luzes vermelhas surgiram no palco da VIP Station às 21h, com uma pequena introdução que serviu para a entrada dos integrantes do STP. Evgeny Novikov (bateria), Mikhail “Mike” Petrov (baixo), Dmitry “Dima” Mamedov (guitarra) e Jack Simmons (guitarra) subiram ao palco com suas máscaras típicas, para o delírio de um público mais que preparado para o cenário caótico que o local se tornaria naquele momento.
Aleksandr “Alex Terrible” Shikolai (vocal) foi o último a entrar, sem camisa e de modo que toda a expectativa dos fãs finalmente se convertesse em gritos mais altos, pulos, coros e a volta de um mosh insano no núcleo da pista citado anteriormente – dessa vez, até mesmo mais amplo. Essa soma deu um verdadeiro gás e descreve bem o que foi “Bonebreaker”, faixa que abriu o setlist de 13 músicas para aquela noite e que também abre o segundo álbum de estúdio do grupo, “Kostolom” (2019). E para dar mais uma sensação “trêmula” para esta e as demais faixas, houve o incremento da volta da logo da banda no telão, desta vez com “tremidas” momentâneas toda vez que esteve à mostra, e da transição frenética de luzes e cores. Ainda é possível destacar a insanidade do bate-cabeça gerado na parte final desta música, após o grito de “Run, sucka, run” no verso final.
O público não hesitou e continuou com a sessão de insanidade em “Baba Yaga”, a começar pelo coro gerado nos primeiros versos antes do instrumental entrar na faixa: “Blood we drunk, flesh we ate / That was a core of the innocent hate / Blood we drunl, flwsh we ate / Love through the pain, nothing but fate”. Alex Terrible retirou sua máscara a partir desta faixa e sua insanidade performática e vocal ficou ainda mais evidente, somada à sonoridade brutal da banda por um todo. Quem sabia os versos em russo o acompanhava, assim como o mesmo para quem sabia inglês, mas a situação era uníssona durante os refrões. Antes do breakdown, era possível ver duas rodas próximas que, durante esta parte final da faixa, se tornaram uma só – maior e ainda mais brutal. Depois disso, ainda sobrou tempo para Alex coordenar o balançar de braços de um público eufórico.
O frontman do Slaughter to Prevail, em seu primeiro breve discurso da noite, se mostrou totalmente agradecido pela receptividade e hospitalidade que ele e a banda receberam não só no Brasil, como em toda a América Latina, durante toda a turnê. Ele, caminhando de um lado para outro em seu espaço do palco, falou mais um pouco antes de dar sequência ao show e ao caos da pista.
Chegou o momento de “Conflict”, single de 2024 que integra o EP “Behelit”, de outubro do mesmo ano. Alex pediu o primeiro circle pit da noite, que logo se tornou um “egg pit” devido ao formato oval que a roda tomou conforme mais pessoas a integravam. Cenário perfeito para a insanidade sonora da faixa, que casa com a temática dos conflitos que o eu lírico se diz preparado e desafiado para enfrentar qualquer conflito com quem tenha alguma rusga ou comportamento desprezível. Dos pequenos breakdowns ao longo da faixa, um ainda foi motivo para que algumas pessoas da pista levantassem Léo Menezes, figura que aparece em grandes shows vestido de Jesus Cristo – e não foi diferente naquela noite; e o mais insano se deu no final, após o verso “It’s only you, and me / And the fucking conflict!” que intensificou os pulos e o bate-cabeça da roda.
Os membros do Slaughter to Prevail deram espaço para uma música ainda não lançada oficialmente, mas tocada há alguns meses em apresentações da banda. Tratava-se de “Koschei”, iniciada com linhas mais graves de violão no PA e seguida de notas e gritos brutais de um Alex que, logo após este início, pulou deu um super pulo de seu pedestal para o meio do palco, dando mais incentivo para outro mosh brutal na pista e, ao longo da faixa, para balançar de cabeças por todos os cantos. Houve, ainda, momentos em que a bateria ia para um ritmo de marcha militar e, no grand finale da música em questão, Alex soltou os únicos versos em inglês: “You can’t kill me, I don’t care / Hell exists, see you there”, gerando assim mais um breakdown insano na noite.
Houve outra pequena pausa para mais um discurso de agradecimento de Alex Terrible. Nesse meio tempo, no meio da pista, a roda voltou a se abrir e algumas pessoas arriscaram flexões enquanto a música seguinte não começava. Veio então o início de “VIKING”, faixa de 2023 que também entrou para o EP mais recente da banda e que é marca registrada em todos os shows do grupo desde seu lançamento, com versos em russo repetidos pelo público – sabendo falar ou não – como se fossem soldados prontos para a guerra. E essa guerra veio com um circle pit que logo virou uma enorme roda de bate-cabeça, somado a um público eufórico de todas as formas, a incluir o coro absurdo no refrão em inglês. O vocalista e frontman do Slaughter to Prevail, em meio às impressões positivas do público, foi altamente performático, fazendo muques que muito lembravam a comemoração do jogador de futebol do Cruzeiro Gabriel Barbosa, além de ter pedido o já icônico “momento de silêncio absoluto” ao público para, sem o microfone, gritar a plenos pulmões o verso “Unsatisfied primal fear”, que foi muito bem ouvido por quem estava na frente, mas aparentemente dificultoso, mesmo em com o quase total silêncio do público, para quem estava ao fundo da pista ou no mezanino, sendo o segundo caso devido ao barulho do ar condicionado do local. De todo modo, uma performance brutal por parte de Alex, assim como de toda a banda.
Todo o grupo saiu durante o instrumental inicial de “Bratva”, mas rapidamente voltou a tempo de Alex organizar outra marca registrada dos shows do Slaughter to Prevail: o Wall of Death. Praticamente toda a pista da VIP Station se dividiu ao meio, com a exceção da concentração de fãs mais próximos do palco e de algumas pessoas ao fundo da pista que, de todo modo, não conseguiriam fazer sem se atrapalhar com o tanto de pessoas presentes. De todo modo, houve espaço para a divisão ocorrer e para para que, depois do anúncio inicial da faixa, que foi amplamente repetido pelo público – “Ladies and gentlemen, You’re listening to Alex the Terrible” -, o choque entre os dois “paredões” de fãs fosse intenso, com pessoas que pularam durante o choque, queimaram a largada ou que fossem com tudo no encontro com o grupo do outro lado. Rapidamente, dentro do ritmo inicial poderoso da faixa, liderado pelas guitarras de Mamedov e Simmons e pelo berro poderoso de Alex, o Wall of death se converteu em um amplo bate-cabeça que “agregou” até mesmo uma parte daqueles que não participaram do momento anterior. A entrega da banda por um todo era visível e retribuída com a intensidade geral do público, cuja maioria ainda teve energia para formar um circle pit no meio da pista, na reta final.
Alex explicou a importância da oportunidade que a turnê latinoamericana tinha para que a faixa seguinte fosse especial o suficiente para ser tocada naquela turnê. E foi assim que ele introduziu “Grizzly”, segunda faixa da noite que ainda não foi lançada oficialmente e que, assim como “Koschei”, também tem frequência de aparição nos últimos shows do Slaughter to Prevail. Foi um momento único e áureo naquela noite pois, em todos os espaços possíveis da pista da VIP Station e até no mezanino, havia pessoas pulando freneticamente em meio ao riff da faixa, gritando “hey” e sendo coordenados pelo vocalista que, em seguida, soltou mais guturais absurdos como alguém que se recusasse a se cansar. Esta música também contou com trechos de batidas “militares”, apesar de serem menos que na outra faixa ainda não lançada. Porém, o diferencial de “Grizzly” se deu com uma musiquinha que transitava o bruto da faixa para um poderoso breakdown, com notas de todos em intervalos maiores, porém brutais o suficiente para acompanhar os gritos de Alex, momentaneamente parecidos com alguns alcances que Hervoso atingiu na abertura, e com trechos em que o vocalista russo simplesmente “incorporou um urso nervoso”, com uma técnica inacreditável e amplamente ovacionada pelo público ao final.
A banda “voltou no tempo” com “Hell”, faixa que representou o primeiro EP lançado pelo Slaughter to Prevail, “Chapters of Misery” (2015, com relançamento em 2016). Nesta faixa, vale destacar completamente a variação rítmica ditada por Evgeny Novikov, com doses precisas de viradas, blast beats, velocidade e precisão nos pedais duplos e total poderio nos momentos mais “lentos da faixa”. Soma-se isso às linhas poderosas dos guitarristas, a incluir dois pequenos trechos de notas agudas de Jack Simmons no meio e perto da parte final da música. Alex, como de costume, seguiu brutal ao cantar, com constância em seus guturais e, na parte final citada, ainda contou com a “genki dama” de um fã vestido de Goku, que foi levantado e ovacionado pelo público no meio da pista durante o último breakdown da faixa.
“1984”, apesar de manter a brutalidade sonora da banda, se deu como um momento de amplo descanso físico do público, que em grande parte apostou em acompanhar Alex nos refrões. Ainda assim, um grupo de fãs não deixou com que a roda e os bate-cabeças morressem nesta faixa. Apesar do clima mais “morno”, o banging amplo foi inevitável na parte final.
Alex puxou mais um momento de discursos, desta vez pautados em responsabilidade e respeito ao próximo. Não foi um prenúncio, mas antecedeu e bem a faixa “I Killed a Man”, também do disco “Kostolom”, cuja letra pode variar entre um ato brutal ou a morte de uma parte da própria pessoa da letra. De todo modo, os fãs presentes fizeram outra demonstração totalmente enérgica ao pular no início da faixa, com parte voltando ao mosh central da pista. Os músicos voltaram a se destacar, a incluir Novikov e sua constante técnica com rápidas batidas e linhas de pedal duplo. Antes do trecho final da faixa, o público acompanhou a banda com palmas e ovacionou o grito de “I Killed a man” final de Alex antes da intensidade instrumental final.
Chegou, então, o momento de “Behelit”, faixa que leva o nome do último EP da banda e que foi amplamente comemorada durante sua introdução. Além da constante entrega dos músicos, Alex fez boas alternâncias entre gritos mais líricos e guturais impressionantes, principalmente nos momentos de refrão. Na reta final, o vocalista ainda pediu um bate-cabeça que, amplamente respondido, acabou por se tornar uma “onda abarrotada” que foi de um lado para outro na pista. Em determinado momento da faixa, inclusive Alex ganhou uma camiseta de algum fã da parte frontal, cuja estampa pareceu personalizada e acabou por ser um presente, já que ele usou durante o restante do show e coube perfeitamente.
Após o final da faixa, veio ainda uma espécie de carta ou cartaz que Alex leu e riu da mensagem escrita – claro, em tom de impressão positiva, sem debochar do conteúdo. Apesar de não ter entendido o que ele falou na sequência dos risos, creio que tenha sido um agradecimento e a emenda para a faixa seguinte.
Eis que toca o início de “Kid of Darkness”, música que marcou outro ponto áureo da noite: os fãs da pista e parte dos que estavam no mezanino, após aguardar o sinal de Alex, pularam e cantaram freneticamente na parte inicial da faixa em questão, em ritmo rápido. O frontman do Slaughter to Prevail volta a atingir notas poderosas ao longo da execução da música, com destaque para o pré-breakdown, onde ele deu guturais mais graves. Na pista, esse momento se converteu em outro Wall of death que, apesar de menor, foi intenso o suficiente para derrubar algumas pessoas na pista. Estas foram ajudadas pelos que estavam em pé.
A situação da pista era como se não tivesse passado mais de uma hora de show. Apesar disso, o momento da última música da noite chegou a partir do último discurso de agradecimento de Alex e da breve saída da banda para o Encore. Nesse momento, os coros de “Olê olê” cresceram e se misturaram com pedidos pela música “Demolisher” que, para eles, não poderia ficar de fora do setlist. Jack Simmons ainda teve um belo momento de interação com o público ao voltar um pouco antes dos parceiros de banda e ditar o volume dos gritos de hey com as mãos, indicando quando era pra aumentar o tom e quando era para parar. Eis uma demonstração do quão feliz ele estava e que, com certeza, era a mesma sensação dos demais membros do grupo.
“Demolisher” virou o gran finale da noite, com a banda por um todo se dedicando na performance no palco e na execução da faixa. A velocidade dos blast beats e pedais duplos de Evgeny Novikov, no começo da faixa, foi um exemplo claro, uma vez que essa sequência sobrepôs momentaneamente a percepção da voz de Alex e dos instrumentos de corda. Nada que tenha atrapalhado a experiência final da noite. A penúltima estrofe da música veio com as sequências rápidas e alternadas do instrumental que causavam o ambiente caótico perfeito para o grito de “Demolisher” feito pela galera e que antecedeu o breakdown da faixa. Jack Simmons, inclusive, se jogou na galera neste momento, sendo carregado momentaneamente e conseguindo tocar mesmo em meio ao ambiente caótico da pista. O último grande bate-cabeça ainda se deu nessa parte final, mais ao meio, gastando as últimas energias dos envolvidos.
Não havia jeito melhor de terminar aquela noite se não com uma demonstração clara de agradecimento. E foi isso que Alex encabeçou, gesticulando em cada canto do palco, assim como os demais membros ao se aproximarem do vão para jogar palhetas, baquetas ou setlists.
Ainda houve tempo para a foto pós-show, cujo destaque não foi o registro feito pelos fotógrafos, e sim a inversão das reações àquela mesma pessoa vestida de Goku: se na primeira vez, durante a apresentação, ele foi ovacionado, desta vez – em tom de brincadeira, claro -, puxaram um coro de “Ei, Goku, vai tomar no…” por ele ter sido novamente levantado e, assim, pessoas mais ao fundo não terem chance de aparecer no registro final.
O ambiente apocalíptico pós-show
É a primeira vez que vejo a necessidade de criar um subcapítulo pós-show em uma resenha. Isso porque houve uma diferença muito evidente do que foi o ambiente mais calmo do mezanino e o cenário da pista.
Ao descer as escadas, já ficava claro o quão quente o ar ficou, devido a lotação, uma possível não eficácia dos ares condicionados para tanta gente e, principalmente, pelo mormaço causado pelo suor de centenas de fãs frenéticos naquela hora e meia de show, seja por apenas pularem, seja por participarem constantemente do mosh pit ou por simplesmente serem parte da densidade de pessoas presentes. Ao mesmo tempo, grupos de pessoas conversavam e saíam lentamente do local, tal qual outras ainda demonstraram sinais da mistura do cansaço físico com o semblante do inacreditável, de terem presenciado dois shows intensos e de fazerem parte de uma das estreias mais enérgicas de uma banda em solo paulistano.
A minha percepção era a de que toda a energia física liberada pelo público no show do Slaughter to Prevail compensou a falta dela em quaisquer outros eventos, grandes ou pequenos, que ocorreram na capital paulista naquele dia. Posso não ter visto todos os shows de estreia de bandas possíveis, em São Paulo, para dizer se a apresentação do STP foi a mais enérgica de todas, mas posso afirmar, sem dúvidas, que foi a maior que vi. Ponto positivo para o que a banda entregou no palco e ponto positivo para o que o público mostrou na pista, numa demonstração clara que as novas gerações podem ser intensas em shows de Metal. Só precisam, claro, ter a cautela necessária para não machucar o próximo.
Fotos: Priscila Melo
Confira os setlists abaixo:
Axty
- Take Me Down
- Fragile
- Relaxing Nature Sounds
- Fade Away
- Fall Again
- pissed / dismay
- Flowers and Butterflies Lullaby
- You’ll Find Me
- Six Feet Under
Slaughter to Prevail
- Bonebreaker
- Baba Yaga
- Conflict
- Koschei
- Viking
- Bratva
- Grizzly
- Hell
- 1984
- I Killed a Man
- Behelit
- Kid of Darkness
Encore
- Demolisher