Symphony X passa por São Paulo pelo terceiro ano seguido, com instrumental e vocal impecáveis e aula de carisma de integrantes

Texo: Tiago Pereira
Foto: Thammy Sartori

O quinteto de Metal Progressivo e Power Metal Symphony X realizou o terceiro show em anos seguidos em São Paulo, no Tokio Marine Hall, na Zona Sul da capital paulista, no último dia 27 de julho. O show, que fez parte da “Latin American Tour 2024”, foi o segundo realizado no Brasil neste ano, sendo que houve passagens por Belo Horizonte, no Mister Rock Bar (26/07) e por Curitiba, no Tork n’ Roll (28/04). A apresentação paulistana contou com a abertura do guitarrista Luiz Toffoli e banda, e a realização do evento foi da Top Link Music.

Apesar de poucas pessoas entrarem no início da noite, para o show de abertura, a casa contou com uma boa lotação durante a apresentação principal, reforçando assim a afirmativa de uma fan base apaixonada pela banda e que sempre é retribuída pelo carisma e pelas ótimas apresentações do quinteto, tanto em termos de interação com o público, quanto pelo instrumental e voz impecáveis. Além disso, a presença massiva de pessoas mostrou que, apesar de ser a terceira passagem por São Paulo, os fãs não se cansam da presença da banda em terras paulistanas. Anteriormente, o Symphony X se apresentou no mesmo local, em 2022, em meio à celebração dos 25 anos da banda e, em 2023, foi uma das atrações do Monsters of Rock, festival realizado no Allianz Parque.

A pontualidade e a qualidade sonora do Tokio Marine Hall também foram destaque para a noite. Não houve falhas bruscas de som, o que permitiu com que o público ouvisse claramente as vozes dos vocalistas de ambos os shows e os instrumentais – principalmente as guitarras de Luiz Toffoli e Michael Romeo.

Luiz Toffoli

O guitarrista, letrista e compositor curitibano abriu a noite com um setlist baseado em faixas de seu primeiro álbum, intitulado “Enigma Garden” (2023). Junto ao guitarrista estavam Pedro Tinello (bateria), Marcos Janowitz (baixo), Léo Carvalho (teclado) e Cássio Marcos (vocal).

O início da apresentação, às 20:43, contou com os integrantes, aos poucos, entrando sob uma forte iluminação em verde e amarelo. Desde o início, todos mostraram grande potencial e habilidades dentro das faixas, todas pautadas em Metal Progressivo, animando e muito aqueles que chegaram mais cedo no Tokio Marine Hall.

Dos grandes destaques da apresentação, vale citar o toque a mais de sinergia entre Luiz Toffoli e Pedro Tinello. Os dois músicos, em ao menos duas situações, fizeram uma espécie de “malabarismo” ao jogar baqueta e palheta para o ar ao mesmo tempo – ou um após o outro -, sem perder o tempo da faixa ou deixar de tocar alguma nota importante. Individualmente, eles também se destacaram seja pelas linhas musicais solo e pedais duplos – como no encerramento da apresentação, com “Frenetic Freak”, seja pelos solos de guitarra que também hipnotizaram o público.

Outro grande destaque da noite foi o cover de “As I Am”, da banda de Metal Progressivo Dream Theater, que foi muito comemorada pelo público. Grande parte dos presentes acompanhou o canto de Cássio Marcos, assim como comemorou cada momento da faixa tocado por toda a banda. Uma apresentação de alta qualidade e performance de Toffoli e banda, com um público que apoiou e ovacionou de ponta a ponta e que, claro, merecia mais pessoas para acompanhar a apresentação.

Momentos antes de Symphony X 

A desmontagem de palco da banda de abertura e a da principal foram rápidas, uma vez que havia poucos equipamentos a se trocar e o kit de bateria, já montado, só teve que ir um pouco mais à frente após o transporte do kit de Pedro Tinello, por meio de uma tarima móvel.

O maior destaque, uma vez que as cortinas não se fecharam, foi a troca dos banners das bandas. O de Luiz Toffoli subiu e, rapidamente, o da banda Symphony X desceu, arrancando aplausos dos que chegavam ao local do show. Além do logo da banda, havia duas máscaras com um estilo semelhante ao da capa do último álbum da banda, intitulado “Underworld” (2015).

O baixista da banda, Mike LePond, apareceu no fundo do palco, minutos antes da apresentação iniciar, observando a grande quantidade de pessoas presentes em todos os cantos do Tokio Marine Hall.

O início pontual levou os fãs ao delírio, principalmente na aparição dos membros, que ocorria aos poucos. Na ordem, entraram Michael Romeo (guitarra), Mike LePond (baixo), Jason Rullo (bateria) e Michael Pinnella (teclados). A rápida introdução, já em base para “Iconoclast”, foi o “vácuo” até a entrada de Russell Allen (vocal), com um chamativo par de óculos escuros, que logo esbanjou toda a sua alegria em se apresentar novamente na capital paulista.

Em “Iconoclast”, não somente as interações de Russell fizeram a diferença no início, como seu vocal impecável, somado logo depois aos bons solos de Romeo e Pinnella com guitarra e teclado, respectivamente. Esta, inclusive, foi a única faixa do álbum de mesmo nome, lançado em 2011, tocado na noite.

Russell Allen, agora sem seus óculos, se apoiou no tripé do microfone para o começo de “Nevermore”, primeira faixa das quatro que representaram o último álbum lançado pelo Symphony X, o já citado “Underworld”. Além de suas danças em círculos, o vocalista da banda viu Romeo e LePond interagirem em alguns momentos da faixa. Já em “Inferno (Unleash the Fire)”, faixa de abertura e única do álbum “Odyssey” (2002) a ser tocada, a pegada mais Progressiva levou o público ao delírio e manteve a energia dos membros no palco. Michael Romeo, com seus cabelos a esvoaçar por conta do vento de um dos ventiladores, fez ótimas linhas de riffs e solos – uma delas com Pinnella o acompanhando musicalmente -, assim como Russell mostrou mais do potencial de sua voz e de suas formas de interagir com os fãs, a exemplo dos balançares de mãos em certo momento de um dos refrões.

“Serpent’s Kiss”, faixa do álbum “Paradise Lost” (2007), trouxe ao setlist uma pegada enérgica, esbanjada também pelos rápidos solos de Michael Romeo e com o frontman do Symphony X a levantar o público, por meio dos pedidos de pulos. Esta faixa finalizou o “primeiro bloco” do show, uma vez que Russel, após tirar o retorno para ouvir os calorosos aplausos e gritos dos presentes, fez um pequeno discurso de agradecimento, citando passagens pelo Brasil como a última, em 2023, quando fizeram um show único no Monsters of Rock, no Allianz Parque, também em São Paulo.

A faixa “Without You” trouxe             uma pegada um pouco mais lenta ao show. Russell Allen seguiu com a voz em dia, recebendo aplausos e ovações após o primeiro refrão da música e na finalização, em um falsete que beirou a perfeição. Da mesma forma, Michael Romeo se mostrou inspirado com mais um solo de guitarra impecável que também foi alvo de reações positivas.

Já a música “To Hell and Back” teve um momento curioso, visto que o contato da banda com seus fãs ficou ainda mais evidente e além do vocalista. Russell foi o primeiro, quando foi perguntado por um fã, que estava na grade, se tinha uma máscara para usar na apresentação. Quando ele respondeu que não, viu outro fã próximo jogar um chapéu, que foi momentaneamente usado, mas logo devolvido por, segundo o frontman, ser “pequeno demais para a cabeça”. Foi nesse momento, também, que era possível ver a calma dos seguranças, que com um público menos enérgico, puderam trocar uma ideia momentaneamente com os fãs a respeito daquele momento.  Michael Romeo fez outro solo praticamente dedicado, por meio de seu olhar, a um dos fãs também da grade, pois manteve o contato visual com ele como se perguntasse se este fã tinha gostado da performance.

O show prosseguiu com “Evolution (The Grand Design)”, única faixa na noite a representar o quinto álbum de estúdio da banda, “V: The New Mythology Suite” (2000). Todos os membros da banda tiveram seus momentos de solo, mas foi Jason Rullo que se destacou pelo início, condução e pelas ótimas viradas da faixa. Um verdadeiro show na pegada Power Metal da faixa em questão.

Mas é em “Run With the Devil” que os membros são apresentados um a um. Antes, Mike LePond, até aquele momento um dos mais “tímidos” no palco, teve destaque com suas linhas de baixo, que foram mais groovadas na citação ao seu nome. Russell Allen fez questão de dar as maiores considerações para Michael Romeo, chamando o guitarrista de “o cara” e o denominando como “um amigo e irmão”. O frontman do Symphony X fez outra dinâmica interessante com o público, ao pedir gritos coordenados de “hey”, os últimos ainda mais extensos e altos, numa contagem de 1 a 4. Na última parte, um grito que logo foi convertido em pedidos de pulos, atendidos pelos fãs mais enérgicos do palco.

 

A “segunda parte” do show terminou com “Set the World on Fire (The Lie of Lies)”, também do álbum “Paradise Lost”. Uma parte daqueles que estavam na pista premium do Tokio Marine Hall não hesitaram em fazer bangings em meio a uma faixa rápida e com notas poderosas de guitarra, baixo e bateria. Russell e Romeo mostraram que, em suas funções, ainda não tinham perdido a energia e fizeram uma boa combinação de notas vocais e um solo de guitarra poderoso e rápido, a ponto de ganhar muitos aplausos no final da faixa.

O encore chegou a partir da saída momentânea dos integrantes do Symphony X. O público, ainda eufórico e sentindo o “gosto de quero mais”, bateu palmas e gritou pelo nome da banda durante a maior parte dos quase cinco minutos de pausa. Mike LePond e Michael Pinnella voltaram para dar continuidade ao show com uma pequena introdução.

Então, o show prossegue com “Paradise Lost” e a volta dos demais membros da banda. Um início mais lento e uma condução de faixa idem, além de um refrão liricamente confortante a partir das linhas de teclado de Pinnella e a doce voz de Russell. Além disso, as luzes em vermelho e verde deram um toque a mais para a faixa, que também contou com o balançar das mãos do público, a pedido do vocalista, a partir da metade da faixa. A finalização não poderia ser melhor, se não com mais uma combinação poderosa da voz de Allen com o solo de guitarra de Romeo.

“Out of the Ashes” e “Of Sins and Shadows” formaram a dobradinha do álbum “The Divine Wings of Tragedy” (1997), sendo elas as duas últimas faixas da apresentação. Na primeira, a combinação do riff de Romeo com as linhas de teclado de Pinnella, seguidas do pedal duplo de Jason Rullo, o baixo veloz de LePond e a voz em alta qualidade de Russel Allen fizeram a combinação perfeita para a faixa. Já na segunda, o peso da faixa deu mais destaque para os instrumentistas, que não deixaram a desejar nas linhas mais rápidas e até nas mais lentas de uma faixa Power Metal combinada com elementos sutis de um Metal Neoclássico, como é a pegada da banda em boa parte da carreira.

Com o fim do show, muitos aplausos e ovações à banda, com direito a Jason Rullo jogando seu par de baquetas para o público – e uma disputa ferrenha nas duas situações – e o lançamento de palhetas de Romeo. Tanto esta parte, quanto as fotos da banda, ao som de “The Imperial March”, instrumental temático para o personagem Darth Vader composto por John Williams e pela Skywalker Symphony para a trilha sonora do segundo filme lançado pela Franquia Star Wars, intitulado “Star Wars: The Empire Strikes Back” – “Star Wars: o Império Contra-Ataca” – (1980). Na área de entrada do Tokio Marine Hall, a banda Mofo Jam voltou a tocar no palco Novos Talentos, como uma forma de divulgação da banda e para entreter aqueles que ficaram no local por mais tempo. Ao todo, uma noite incrível tanto para os fãs mais assíduos, quanto para aqueles que viram o Symphony X pela primeira vez, assim como aqueles que se surpreenderam com a apresentação de abertura da noite.

Setlist Symphony X:

  1. Iconoclast
  2. Nevermore
  3. Inferno (Unleash the Fire)
  4. Serpent’s Kiss
  5. Without You
  6. To Hall and Back
  7. Evolution (The Grand Design)
  8. Run With the Devil (versão estendida para a apresentação dos membros da banda)
  9. Set the World on Fire

Encore

  1. Paradise Lost
  2. Out of the Ashes
  3. Of Sins and Shadows

Encerramento: The Imperial March (composição instrumental de John Williams e The Skywalker Symphony)

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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