Rise of The Northstar, no dia internacional do Mangá, são os vencedores da noite concorrida em São Paulo
Texto: Metalphysicist
Fotos: Bel Santos
Sexta-feira à noite em São Paulo, sempre tem agito para tudo que é gosto. Neste fim de semana, particularmente, o cenário do rock estava pegado, com destaque para a banda do momento, Maneskin (resenha aqui), que se apresentou no Unimed, além do show de lançamento do novo álbum do Angra, “Cycles of Pain”, no Tokio Marine Hall, pra quem vai de Melodic Metal.
Minha tarefa foi cobrir o primeiro show da sensação do Nu Metal no Brasil, os franceses do The Rise of the Northstar (ROTNS), cuja principal sacada é tematizar o estilo musical, tipicamente norte-americano, com personagens consagrados do mangá/anime – que é uma HQ de origem japonesa, a movimentar algo em torno de 10 bilhões de dólares anualmente.
Curiosamente, no dia 03 de novembro comemora-se o dia internacional do mangá, data convidativa para reviver estes heróis da cultura oriental – como, por exemplo, o mangá Fist of the North Star, do qual a banda tirou seu nome. Kenshiro é o herói desta série, que se passa num contexto pós-apocalíptico, sendo sua maior habilidade destruir o inimigo com um golpe certeiro – Nani?… Você já está morto!
O Fabrique estava abarrotado por um público abaixo dos 35 anos, que cresceu assistindo a animes e lendo mangás do universo Shonen – quadrinhos comercializados para público adolescente, na vibe de Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, etc. Por sinal, nunca vi uma banda vendendo tanto merch em um show de proporções underground na minha vida. Parece que o ROTNS sabe muito bem o que está fazendo.
Bayside Kings e Paura
O Bayside Kings, do litoral paulista, abre a noite, com o estilo que eles mesmos definem como Hardcore/Metalcore, na linha Comeback Kid, Casey Jones, Evergreen Terrace e Stick to Your Guns, como uma pitada de Charlie Brown Jr. Por sinal, capitaneada por Milton Aguiar, nos vocais – contando com Emanuel Figueira (baixo), Matheus Santacruz (guitarra) e David Gonzales (bateria) – a banda quebrou a barreira que os separaria do público e já colocou logo todos os presentes para girar e abrirem os primeiros moshpits da noite.Com clamores de desobediência civil e discurso verdadeiramente inclusivos, atitude estampada principalmente em suas letras em português, tais como “(des)Obedecer” e “Existência”. Se você ainda não os assistiu ao vivo, vai atrás.
Com a transição de bandas realizada muito bem pela equipe local e dos roadies do coletivo, não houve atraso algum na programação do evento. Sim, show underground, mas limpinho.
Verdade seja dita, talvez terem “sanduichado” o Paura, caiçaras das antiga, entre duas bandas mais “da molecada” não tenha sido a melhor opção. Digo isso por ter imenso respeito à banda, cuja história remonta aos anos 90 – na linha mais Thrash Bay Area e Hardcore nova-iorquino, contando com o remanescente da formação original, Rogério (guitarra), fortalecido por Henrique (bateria), Rafael (baixo) e Fábio (vocal) – que lançaram neste ano o irrepreensível “Karmic Punishiment”, com destaque à faixa título que quebrou tudo ao vivo, juntamente com clássicos como “NWA” e “History Bleeds”.
De todo modo, o grito inclusivo permaneceu um só, com a banda prestando homenagem para “os gringo”, que eram os donos da noite; e segue o show.
The Rise of the Northstar
Eu confesso que sou mais da idade da rapaziada que cresceu ouvindo Paura e Thrash Bay Area 80, para que fique claro.
Agora, tive que viver meia-década para presenciar diante de meus olhos a devoção absurda dos fãs do ROTNS!
A molecada participou do show de maneira intensa, entrega total, sabiam todas as músicas – desde a estrondosa faixa-título do mais recente álbum, “Showdown”, (leia resenha aqui) que abriu a noite, acompanhando todos os refrãos e gritos de guerra vociferados pelo vocalista Vithia e por Eva B e Air One (guitarras), Yoru (baixo) e Phamtom (bateria) – todos trajados com seus devidos quimonos, enquanto o led atrás do palco exibe imagens típicas de anime, Bruce Lee e outras alusões à cultura oriental.
Pode falar o que quiserem, mas este estilo Nu Metal com riffs simples e refrão chiclete grudado no universo mangá/anime, que povoa o imaginário de seus fãs, funciona muito bem ao vivo e deixa claro para coroas marrentos (feito eu e mais umas dúzias presentes) que, para não se sentirem deslocados dos shows daqui pra frente, melhor respeitar e aderir a este fenômeno de audiência que é o ROTNS.
O vocalista, Vithia, que, de início, parece pouco carismático, na verdade incorpora a postura dos heróis Shonen e ganha a galera, que não hesita em responder prontamente aos comandos de “Jump / Jump”, naquela vibe Rap Metal – improvável para uma banda francesa – mas que, funciona impressionantemente bem!
O som do ROTNS também dialoga com bandas mais orientadas para o rap japonês – tipo Wu-Tang Clan que, por sua vez, soa bem similar aos Beastie Boys, ‘do Bronx’. Então, está tudo em casa.
Ao longo do set, a banda desfila hits como “Third Strike”, “Bosozoku”, “Samurai Spirit”, encerrando a noite com “Rise” e “Again and Again” no encore, em pouco mais de uma hora de moshpit incessante.
O som da casa estava em ótimas mãos, um pouco de ruído devido ao excesso de ‘distorção’ na voz do Vithia, no entanto, nada que comprometesse o espetáculo de um modo geral.
Da próxima vez, certamente o ROTNS terá que deslocar sua apresentação para uma casa de maiores proporções (acho que colocam 1.000 fãs pra dentro de um show deles, fácil); ou, quem sabe, não nos deparemos com eles nos festivais que aguardam o Brasil na temporada 2024/2025. Bala na agulha para isso, a banda mostrou que tem.
Agradecimentos a Confere Rock, que me deu a oportunidade de cobrir este evento e à Powerline, e a Tedesco Comunicação, que estão chegando para movimentar ainda mais as opções de rock para todos os gostos (e bolsos) no Brasil.