Tarja e Marko Hietala emocionam fãs da era de ouro do Nightwish em SP

Texto: Dani Kiedis
Fotos: André Tedim

Tarja Turunen é uma cantora lírica finlandesa que dispensa introdução entre os ouvintes de metal. Sendo casada com um argentino e tendo escolhido esse país para morar, tem um carinho especial pela sua base de fãs na América Latina, e tão logo terminou sua turnê solo em setembro do ano passado, com diversos shows lotados, anunciou novas datas para 2024 com ninguém mais, ninguém menos que seu ex-companheiro de Nightwish, Marko Hietala, outro músico muito querido do público, e que não só não excursionava com ela há quase duas décadas, como também havia passado um bom tempo afastado da música em geral após algumas decepções e frustrações pessoais. Portanto, é de se imaginar a expectativa dos fãs com relação à Living the Dream – The Hits Tour.

São Paulo foi a primeira cidade brasileira a receber a dupla, na última sexta-feira, 8 de março, na casa já conhecida de Tarja, Tokio Marine Hall. A abertura da noite, às 20:15h, ficou a cargo da banda paulistana Allen Key, composta pela talentosa Karina Menascé nos vocais e violão, Willian Moura no baixo, Pedro Fornari e Victor Anselmo nas guitarras e Felipe Bonomo na bateria. Formado em 2018, o grupo vem conquistando seu espaço na cena com uma sonoridade moderna e cativante. Apesar da pista ainda estar um pouco vazia devido à chuva e ao trânsito típico de SP, a recepção foi boa e a banda pôde apresentar várias músicas de seu album “The Last Rhino”, de 2021, e também os singles lançados no ano passado – “Sleepless” e “Apathy”. Certamente a performance e a presença de palco de Karina são o destaque e arrancaram aplausos do público. Durante a última música, foram lançados grandes balões na pista VIP para que o público interagisse, jogando-os de um lado pro outro e até em direção aos músicos, que brincavam chutando de volta enquanto tocavam. Houve ainda um grande agradecimento/homenagem ao roadie Rona, com direito a receber um bolo das mãos de Karina e um coro de “Parabéns pra você” cantado pela plateia.

Após os 30 minutos de show, os instrumentos da Allen Key são retirados e o palco recebe apenas duas cadeiras bem ao centro, dois violões e um baixolão; e sem cerimônia, às 21h entram Marko Hietala e seu parceiro compositor Tuomas Wäinölä. O público vai a delírio só de avistar os longos e esvoaçantes cabelos platinados daquele homem que chegou a dizer que não pisaria num palco nunca mais.

Para abrir esse set acústico, uma versão da autoral Stones, que todos cantaram juntos e acompanharam com palmas no refrão. Marko, sempre comunicativo e simpático, diz que a próxima música é de um homem muito, muito velho do heavy metal e que provavelmente todos devem conhecer, e assim inicia Crazy Train, clássico de Ozzy Osbourne. Tuomas impressiona fazendo o famoso solo de Randy Rhoads em versão acústica. Na sequência, Marko anuncia que a próxima música é parte do vindouro segundo album solo, que provavelmente sairá só ano que vem, 5 anos após o primeiro (Pyre of the Black Heart), mas que já vem sendo executada ao vivo desde 2023, quando ele excursionou com a cantora Anneke van Giersbergen: a belíssima “Two Soldiers”, faixa em que ele apenas canta, em harmonia com Tuomas.


Dando continuidade, Marko brinca dizendo que a primeira cover foi um de um homem velho, mas que a próxima seria de um homem que atingiu o ponto máximo da velhice, ou seja, que agora é mais velho do que a própria existência em plano terreno; seguindo na mesma pegada dos clássicos, inicia-se “Holy Diver”, do Dio, que a plateia canta quase em uníssono junto aos dois finlandeses. Ambos agradecem a participação do público e em seguida vem uma das mais esperadas, “The Islander”, do Nightwish, e Marko mostra sua potência e extensão vocal com uma excelente performance. Ao término, ele olha emocionado para o público, que aplaude e grita seu nome. Para encerrar, mais um clássico, que mostra seu respeito às origens do metal: “Children of the Grave”, do Black Sabbath. Ovacionados, os músicos saem do palco, para que o mesmo seja preparado para receber Tarja.

Às 22:05h então, as luzes se apagam e as notas inspiradas em tango da introdução de “Eye of the Storm” preenchem o espaço, agora completamente lotado, da Tokio Marine, e a cantora aparece com o primeiro figurino da noite, um longo vestido preto de couro. A faixa é a única música original do album de hits que dá nome à turnê. Tarja, muito empolgada, cumprimenta o público e diz que está feliz em voltar mais uma vez a São Paulo, que sempre a recebe muito bem; ela pergunta ao público se eles sabem quantas vezes ela já se apresentou na cidade e é supreendida por um silêncio generalizado, ao qual reage com um espontâneo “What the fuc*! I thought you knew!” (Car@lho! Eu pensei que vocês soubessem!) e agradece a presença de todos [nota da autora: se não pulei nenhuma, foram 9 turnês de sua carreira solo desde 2008, sendo a maior parte desses shows na mesma casa, que mudou de nome três vezes no período].

Em seguida, o guitarrista Alex Scholpp e o baixista Pit Barret já puxam os riffs da intro de “Demons in You”, canção bem cadenciada, com momentos de peso alternando com um refrão bem radiofônico e terminando com os vocais operísticos característicos de Tarja. Na sequência, quem puxa a próxima música é o tecladista Guillermo de Medio, com o riff de Die Alive. Tarja e seus companheiros de banda fazem questão de incentivar que a plateia acompanhe os breaks da música com palmas. Dando continuidade, o público descansa um pouco com a balada sombria e autobiográfica “Diva” e a longa “Shadow Play”, canção que encerra o segundo disco da coletânea e que contém uma passagem onde a cantora faz apenas voz e teclado. Ao final, os músicos ficam sozinhos no palco e cada um tem seu momento de brilhar, principalmente o guitarrista Julian Barret e o baterista Alex Menichini.

Após uma breve pausa para retirada do teclado de Tarja, ela retorna ao palco, com um figurino de camisa e calça brilhantes, e dessa vez acompanhada. Enfim, o sonhado reencontro com Marko. Sem falar uma palavra, ambos, de braços dados, apenas contemplam o público por um minuto, tomam suas posições e então mandam um dos melhores duetos que já gravaram, “Dead to the World”, do album da estreia de Marko no NightwishCentury Child, de 2002. Não houve uma só pessoa parada na pista nesse momento, todos pulavam e/ou batiam cabeça enquanto exclamavam palavrões como uma maneira de extravasar aquela emoção. É nítida a alegria de ambos ao performar essa música, e Marko agradece o público.

Em seguida, ambos fazem uma música da carreira solo de Tarja, “Dark Star”, que em sua gravação original conta com Phil Labonte (ALL THAT REMAINS). No telão, o lyric video ajuda a plateia a cantar junto. Na sequência, Marko anuncia que, enquanto compunha com seus colegas de banda, pensou em convidar Tarja para um dueto, mesmo depois de tantos anos separados, e que felizmente, ela topou; então ele promete que fará qualquer dueto que ela queira gravar com ele futuramente. Assim, ele anuncia “Left on Mars”, até então ainda não lançada oficialmente. Antes de iniciar, uma falha é detectada na guitarra de Tuomas, quel Tarja diz ser culpa sua (possivelmente ela tenha pisado em um dos cabos) e Marko, com seu visual meio bruxo, brinca gesticulando como se fizesse um passe de mágica para fazer o instrumento voltar a funcionar. Enquanto a equipe técnica resolve o problema, os fãs puxam um coro de “Ole, ole, ole, ola, Tarja, Tarja”, ao qual ela responde dizendo que os ama muito e Marko completa com “e vocês merecem isso”.

A guitarra volta a funcionar e a performance é bastante animada e emotiva, com ambos se olhando enquanto cantam a música que fala sobre “procurar um lar” – algo que pode ser interpretado como o sentimento de alcançar a paz de espírito – e ao final ambos se abraçam. Em seguida, Marko participa novamente em uma música da carreira solo de Tarja, “Dead Promises”, que em sua versão de estúdio contou com Björn Strid (SOILWORK).

Chegando agora à metade do show, vem um dos pontos mais altos, a dobradinha de hits do album de 2004 do Nightwish, Once: a porrada “Planet Hell”, e a power ballad “I Wish I had an Angel”, que fizeram muitos dos presentes se teletransportarem de volta à sua adolescência. Marko mais uma vez agradece o público e se retira do palco.

Tarja continua com mais dois hits, “I Walk Alone” – talvez uma das mais conhecidas de sua carreira solo, tendo sido regravada até pelo Jorn – e “Victim of Ritual”, que funciona muito bem ao vivo e encerra esse bloco. Os músicos se retiram e após alguns minutos, o primeiro a retornar é o tecladista Guillermo, que faz uma introdução antes dos colegas chegarem para iniciar “Innocence”. Tarja volta com um novo figurino brilhante, dessa vez um vestido de manga curta. Na sequência, fazem ainda “Until my Last Breath”.

Tarja dá mais uma saidinha do palco e o público começa a pedir “Phantom! Phantom! Phantom!”, se referindo à clássica “Phantom of the Opera”. Ela retorna vestindo uma camiseta amarela da seleção brasileira por cima de seu figurino e traz consigo Marko e Tuomas para o número final, o cover de Gary MooreOver the Hills and Far Away”, lançada nos primórdios do Nightwish, em um EP de 2001.

O público ainda segue clamando por “Phantom of the Opera” vários minutos após o fim do show, o que Tarja percebe e reage com uma carinha de tristeza por ficar devendo. Possivelmente a cantora visava poupar um pouco sua voz (considerando que essa é realmente uma canção lírica que exige muito) já que teria mais dois shows naquele mesmo final de semana.
Mesmo sem Phantom, os fãs paulistanos não têm do quê reclamar – o show foi impecável por parte de todos os músicos, e sem dúvidas, foi a realização de um sonho ouvir esses duetos – para alguns, inéditos – depois de tantos anos e tantos eventos na carreira de ambos. Certamente, reacendeu-se a chama de querer ver novos trabalhos da dupla sendo lançados em um futuro não muito distante.

Setlist Allenkey
Granted
Straw House
Illusionism
Sleepless
Goodbye
Apathy
Mr. Whiny
The Last Rhino

Setlist Marko & Tuomas (acústico)
Stones
Crazy Train (Ozzy Osbourne)
Two Soldiers
Holy Diver (Dio)
The Islander (Nightwish)
Children of the Grave (Black Sabbath)

Setlist Tarja
Eye of the Storm
Demons in You
Die Alive
Diva
Shadow Play
Dead to the World (Nightwish)
Dark Star (com Marko)
Left on Mars (com Marko)
Dead Promises (com Marko)
Planet Hell (Nightwish) (com Marko)
Wish I Had an Angel (Nightwish) (com Marko)
I Walk Alone
Victim of Ritual
Bis:
Innocence
Until My Last Breath
Over the Hills and Far Away (Nightwish/Gary Moore) (com Marko)

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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