Titãs: Õ Blésq Blom completa 34 anos

Há 34 anos, o Titãs lançava “Õ Blésq Blom“, o quinto álbum desta banda que é uma das mais importantes do Rock nacional e hoje nós vamos trazer um pouco da história deste play.

A banda vinha em seu momento mágico, que durou entre os álbuns “Cabeça Dinossauro” (1986) e “Titanomaquia” (1993). O álbum anterior, “Jesus não tem Dentes no País dos Banguelas” foi bem recebido pela crítica e público e a banda havia lançado o primeiro álbum ao vivo, “Go Back“, onde os rapazes registraram a histórica apresentação no Festival de Montreux, na França, sendo a primeira aparição internacional do octeto.

É bem verdade que o aniversariante do dia não é um álbum que tem momentos de peso como “Cabeça Dinossauro” e “Jesus não tem Dentes“…, pelo contrário, há coisas experimentais, que inclusive, veio a influenciar uma galera de Recife que viria a ser conhecida como uma nova vertente, que misturava o Rock com ritmos regionais, como o baião, por exemplo: estamos falando do Manguebeat.

Neste álbum, a banda resolveu incluir a participação de um casal folclórico de Recife. Trata- se de Mauro e Quitéria, que eles descobriram em uma de suas passagens pela capital Capibaribe. Mauro, um ex-estivador, que trabalhava no Porto, deficiente visual, e cantava em um idioma próprio, daí nasceu o título do álbum, uma frase que Mauro repetia sempre. Paulo Miklos e Tony Bellotto encontraram os dois na porta do hotel e gravaram as frases que escutamos nas vinhetas que iniciam e encerram o álbum, além de alguns trechos da música “Miséria”.

O casal recebeu NCz$ 6.000 (na época, nossa moeda era o Cruzado Novo) pela participação no álbum. Hoje em dia, esse valor corresponde a pouco mais de R$76.500, corrigidos pelo IPCA. A banda cogitou em levar o casal para a turnê, o que acabou sendo inviabilizado em decorrência da logística. Mas a amizade foi criada e sempre que a banda estava em Pernambuco, o casal estava junto. Abaixo, o leitor pode ver um vídeo onde Mauro exibe seus dotes. O cara tinha um carisma muito grande, além de ser engraçado.

De posse com a gravação do idioma “estranho” do casal, a banda se reuniu no estúdio “Nas Nuvens”, no Rio de Janeiro, entre julho e setembro de 1989, na companhia do produtor Liminha, para gravar o play. Nando Reis enfrentou uma barra, pois sua mãe havia falecido pouco tempo antes do início das gravações, mas ele próprio considera que o fato de ter ocupado sua mente com a gravação ajudou a enfrentar o período de luto. A capa é de autoria de Arnaldo Antunes e foi escolhida entre outras cinco gravuras apresentadas por Arnaldo, através de votação, como tudo que decidia os rumos da banda.

“Õ Blesq Blom“, segundo Mauro, significa terra que foi habitada pelos primeiros homens, de acordo com esse idioma que ele criou, do qual somente ele compreendia. A grafia foi sugerida por Nando Reis. Mauro, juntamente com Quitéria, chegou a participar de alguns shows com a banda. Ele faleceu em 1992, vítima de pneumonia. Não temos notícias de Quitéria, mas é bem provável que também já tenha falecido.

O álbum tem 13 faixas, dez músicas de fato, pois três são as vinhetas, duas delas gravadas pelo casal Mauro e Quitéria. Se não é 100% Rock N’ Roll, o álbum tem grandes momentos como nas faixas “Miséria“, “Flores“, “Medo”, “32 Dentes“, além da clássica “O Pulso“, eternizada na voz de Arnaldo Antunes. O play tem a sua importância no cenário nacional. Paulo Miklos deu uma entrevista à revista Bizz onde afirmava que Chico Sceince havia lhe confidenciado que os futuros nomes do Manguebeat estavam na primeira fileira dos shows da banda, em Recife, o que deixa mais que explícito a influência que o disco teve sobre o movimento que emergiu anos depois, que inclusive foi valorizado pelo selo criado por integrantes do Titãs, a Banguela, que revelou nomes do Rock e também da cena que estava emergindo no Recife, como o o Mundo Livre S/A.

Õ Blésq Blom” vendeu cem mil cópias nas duas primeiras semanas de lançamento, o que fez com que a banda fosse certificada com Disco de Ouro. No ano de 2007, a revista “Rolling Stone Brasil” elegeu o álbum o 74° melhor álbum da música brasileira. Caetano Veloso foi o responsável por escrever o press release do álbum. O vocalista e tecladista Sérgio Britto considera esse como sendo um dos melhores trabalhos de toda a carreira dos Titãs e recentemente ele defendeu o uso excessivo dos teclados e samplers, em detrimento das guitarras, alegando que em tantos outros álbuns ele não gravou sequer uma nota de teclado e que havia chegado a sua vez de fazer acontecer.

Enfim, temos um álbum que fez muita história e merece a posição que ocupa, entre os melhores produzidos pelo Rock nacional. Atualmente o Titãs está em turnê, os remanescentes celebram os 40 anos de existência e hoje é dia de celebrarmos os 34 anos desta pérola lançada por esta banda. E o pulso ainda pulsa…

 

Õ Blésq Blom – Titãs

Data de lançamento – 16/10/1989

Gravadora – Warner

 

Faixas:

01 – Introdução por Mauro e Quitéria

02 – Miséria

03 – Racio Símio

04 – O Camelo e o Dromedário

05 – Palavras

06 – Medo

07 – Natureza Morta

08 – Flores

09 – O Pulso

10 – 32 Dentes

11 – Faculdade

12 – Deus e o Diabo

13 – Vinheta Final por Mauro e Quitéria

Formação:

Arnaldo Antunes – vocal

Branco Mello – vocal Sergio Britto – vocal/teclado

Nando Reis – vocal/ baixo

Paulo Miklos – vocal/ saxofone

Marcello Fromer – guitarra

Tony Bellotto – guitarra Charles Gavin – baixo

Participações especiais:

Liminha – bateria eletrônica e programação de teclados

Mauro e Quitéria – vozes

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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