X encerra sua longa carreira de forma vibrante com o excelente “Smoke & Fiction”

Sempre que a gente lê a notícia de que uma boa banda está prestes a pendurar as chuteiras, não tem como não ficar chateado.

Formado em 1977 quando Exene Cervenka (vocais) e John Doe (baixo, vocais) eram jovens punks namorados (depois se casaram, então separaram), o X estava no epicentro da cena punk da sua diversas vezes declamada cidade natal Los Angeles, onde acabaram se tornando um símbolo seu, assim como a calçada da fama, o letreiro Hollywood, os estúdios de cinema e afins.

Agora em 2024, quando completou 47 anos de estrada (com uma e outra pausa, umas saídas, outras chegadas…), o X antes de encerrar suas atividades lançou com a mesma formação original Cervenka, Doe, o guitarrista Billy Zoom e o baterista DJ Bonebrake, o ótimo “Smoke & Fiction” (2024) através da Fat Possum Records que até então segue sem previsão de lançamento no Brasil.

Os veteranos não amaciaram na pegada rock, como fizeram outrora nos anos 80, o que lhes custou uma debandada de fãs fiéis e posterior saída de Doe. Mais do que um disco punk, garage rock, classic punk ou o rótulo que for, “Smoke & Fiction” (2024) é um disco de rock, simples assim. Simples, mas extremamente bem-feito graças aos macios vocais de Cervenka, da cozinha discreta, porém muito eficiente da dupla Zoom/Bonebraker e dos ótimos timbres de guitarra com muitos reverbs e toques de rockabilly do talentoso Doe.

“Smoke & Fiction” (2024) é um disco direto ao ponto. São apenas 10 faixas que mal passam dos três minutos de duração cada. Suas letras poéticas continuam falando de relacionamentos, cotidiano e claro, de Los Angeles, que hoje não deve ser nada parecida com aquela Los Angeles do final dos anos 70. Só espero que a cidade tenha envelhecido bem da mesma forma como o X.

Um disco gostoso de se ouvir, desses que você dá play e deixa correr sozinho. Boas músicas distribuídas no todo, mas eu destacaria a cheia de reverbs “Ruby Church”; “The Way It Is”, uma balada rock com um solo bem sacado (seria uma letra biográfica do ex-casal?); “Big Black X” um poema musicado sobre LA que caiu muito bem na voz de Exene; o punk rock da faixa título e de “Surreal” e “Face In The Moon”, outra letra sobre LA embalada com algumas distorções na guitarra.

Produzido por Rob Schnapf (Beck, Guided By Voices, Elliott Smith, Foo Fighters, The Vines e do anterior “Alphabetland”, de 2020), o derradeiro álbum foi gravado e produzido em…isso, nessa cidade mesmo que você pensou.

Você vai se pegar ouvindo “Smoke & Fiction” (2024) em looping, como eu. Ouvi tanto em pouco tempo que meu acesso a ele no Bandcamp foi travado, o jeito foi partir para outras plataformas.

Aparentemente o X vai fazer sua turnê final só pelos EUA, o que é uma pena para seus fãs de longa data ou mesmo quem não seja tão fã assim do grupo, mas que gosta de um rock vibrante, bem-acabado e que queria ter a chance de vê-los ao vivo, nem que fosse uma única vez (me incluo nessa).

X – Smoke & Fiction (Full Album) 2024

Formação:

Exene Cervenka: vocais

John Doe: baixo, vocais

Billy Zoom: guitarra, vocais

DJ Bonebrake: bateria, percussão

Faixas:

01 Ruby Church

02 Sweet Til The Bitter End

03 The Way It Is

04 Flipside

05 Big Black X

06 Smoke & Fiction

07 Surreal

08 Winding Up The Time

09 Face In The Moon

10 Baby & All

NOTA: 9

Mario Pescada

Mineiro, leitor compulsivo, ouvinte de todas as vertentes do rock - do blues ao grindcore. Valoriza mais a honestidade e entrega em cima do palco do que a técnica. Guarda os flyers dos shows que vai como se fossem relíquias. Autor do livro "Distorções do Submundo: Dissecando álbuns matadores do underground brasileiro" lançado pela Editora Denfire.

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