Jerry Cantrell traz noite grunge a São Paulo com vigor, energia e uma pitada do osbcuro
Jerry Cantrell é uma das figuras mais emblemáticas da cena grunge dos anos 90, sendo um de seus principais referenciadores, junto ao Alice in Chains. Mas assim como todo gênio lidando com a sua arte, Cantrell tinha mais cartas nas mangas em suas composições, e iniciou ainda na década noventista, sua carreira solo.
De lá para cá, já foram quatro discos de estúdio, sendo o mais recente, “I Want Blood“, e foi com a turnê desse álbum que ele veio ao Brasil pela primeira vez sob a bandeira de seu próprio nome, colocando a Audio, em plena terça-feira em uma verdadeira confraria de blusas xadrez.
Como aperitivo, a banda E A Terra Nunca me Pareceu Tão Distante foi responsável por abrir a noite, com seu som experimental, somente instrumental, que acabou se destoando um pouco da proposta do artista principal, mas conseguiu cativar parte do público ali presente.
Então, pouco antes das 21hrs, o som que já havia tocado “Walk” do Pantera, “Heaven & Hell” do Sabbath, entre outras pérolas, ficou mudo e luzes roxas foram acesas, e os músicos que compõe a banda, Lola Colette, voz, teclados e violão, Eliot Lorango, voz e baixo, Zach Throne, guitarra e voz, Roy Mayorga na bateria, sobem ao palco, até que a estrela principal surge de óculos escuros e vestes simples, assim como o manual grunge indica. Jerry Cantrell está no palco e logo manda os primeiros acordes de “Psychotic Break“, de “Degradation Trip“, são ouvidos em um som extremamente alto, que abafa um pouco a voz de Cantrell, o que a recepção extremamente calorosa do público também ajuda. Na sequência, a afinação baixa de “Them Bones” junto aos gritos da plateia, quase derruba a Audio, e a clássica faixa do disco “Dirt” é entoada a plenos pulmões por todos ali presentes. “Vilified”, a primeira executada de “I Want Blood“, mostra que já tem força e presença com os fãs, com seus riffs cadenciados, arrancando vários “bate cabeça” e aí a voz de Cantrell já se faz ouvir melhor e mostra o poder do amadurecimento que ela traz. “Off the Rails“, também do novo registro, traz melodias pegajogas no refrão e um trabalho de guitarra impecável. O baixo de Eliot aqui se faz de uma baita presença.
O faroeste dark de “Atone” é recebido com ovação e o trabalho de caixa que Mayorga faz dita o tom da faixa que soa ainda melhor ao vivo do que em estúdio. “Angel Eyes” é uma das fortes baladas que Cantrell escreveu em sua trajetória e mostra que é querida e muito bem aplaudida em seus primeiros acordes. “Siren Song” e “Had To Know“, ambas do disco “Brighten” cumprem seus papéis de gancho, e principalmente a segunda, dá um clima lá em cima no show, que quase em sua metade, mostra um acerto incrível nas escolhas de Jerry em quem o estaria acompanhando nesta turnê. “Afterglow”, também single do disco mais recente, é climática, sombria e a banda a reproduz com tanta maestria que pareceu estarmos ouvindo o registro original. “I Want Blood” é cheia de presença, pesada e dona de um refrão que poderia muito bem tocar nos rádios, isso, marca característica do “riff god”. Na sequência, o momento estrondoso surge.
O grande hit do Alice in Chains, “Man in the Box” é entoada por todos, com seu refrão cravado na voz de Layne Staley e agora com Zach Throne sendo o responsável por jogar as altissímas notas pertecentes ao registro. Um momento emblemático que com certeza vai ficar na memória de todos ali presentes, com um público pulante e se esgoelando em cada verso. “Cut You In” vem para dar um respiro, que a plateia não parece querer se preocupar e em seguida, após alguns problemas de afinação de suas Les Paul’s, “My Song“, que finaliza com Cantrell, Lorango e Throne entoando o refrão a capela.
Seguindo para o final, “Held Your Tongue” segura as pontas de abrir alas para a poderosa “Would?”, mais uma vez, com seu refrão gritando de cada garganta ali presente, e não seria diferente, visto a força e impacto que a faixa traz. “It Comes” fecha o set com clima tenso, e direito a Colette com o violão junto aos demais músicos na frente do palco. A banda retorna para o Bis com “Brighten”, mais uma vez ovacionada e que música grandiosa de se ouvir ser executada bem diante de seus olhos. Os primeiros acordes de “Sea of Sorrow” não passam despercebidos do público e ver Cantrell solando essa faixa não é nada menos do que esplendoroso. O set então finaliza de forma apoteótica com “Rooster”, antes tendo os versos cantados por Layne, agora a cargo do próprio Cantrell, dando mais peso ao conjunto, devido a história da música e a ligação com o pai do guitarrista.
Algumas surpresas que nossos hermanos da Argentina ganharam, como “No Excuses” e a grandiosa “Down in a Hole“, infelizmente não foram trazidas ao Brasil e fizeram falta, mas, não há como se lamentar de uma noite de tanto vigor, energia, e claro, uma pitada do obscuro que Jerry Cantrell nos entregou. A chuva ao final do show foi só a cereja no bolo para sentirmos o ar do grunge de Seattle…
*Foto destaque: Marcio Machado
*Fotos: Luana Gatti
*Fotos tiradas com celular de modo a ilustrar o texto
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