Marc Martel: em show de fã para fãs, cantor emociona gerações com clássicos do Queen
Texto: Daniela Reigas
Foto: André Tedim
Assim como outras bandas icônicas do rock, o Queen tem inúmeras bandas cover e tributo ao redor do mundo, com propostas ligeiramente diferentes em relação ao que desejam despertar no público. No entanto, quando se trata de uma das vozes mais marcantes e reconhecidas globalmente mesmo por quem não é da bolha do rock ‘n’ roll, certamente o nível de responsabilidade da missão não é para qualquer um. Mas não é de qualquer um que estamos falando, e sim de um dos seletos intérpretes de Freddie Mercury que foram aprovados pelo próprio membro fundador Roger Taylor, tendo excursionado com seu “Queen Extravaganza” de 2012 a 2016.
O cantor canadense esteve de volta ao Brasil após dois anos de sua última passagem (2023, festival Summer Breeze), com o “One Vision of Queen”, banda que traz Mike Cohen no baixo, Tristan Avakian na guitarra, Brandon Coker na bateria e Brandon Ethridge nos teclados. Novamente com uma apresentação única em São Paulo, desta vez no Terra SP, no último domingo (30) de março.
Com a casa já bem cheia, às 20h em ponto, o telão que até então exibia o flyer da turnê se apaga, o jogo de luzes começa a bailar por sobre o palco e o piano, e “Baba O’Riley” do The Who começa a tocar… até ser abruptamente interrompida pelo riff explosivo de “One Vision”, é claro, não haveria escolha melhor para abrir a noite. Todos os músicos são aplaudidos ao entrarem, mas certamente o frenesi é maior quando entra o protagonista, trajado todo de preto, num estilo bem rockeiro moderno. Foi feito um medley junto às também enérgicas “Keep Yourself Alive” e “Bicycle Race”. Marc passeia saltitante de um lado ao outro do palco, e canta próximo a seus companheiros de banda de vez em quando.
Na sequência, duas canções não tão óbvias em meio a tantos hits emplacados pela banda britânica – “Hammer to Fall” e “You’re My Best Friend”. “Let’s have fun!” (“vamos nos divertir!”), exclama o cantor, sempre sorridente, enquanto se dirige ao piano.
Nessa hora, vem uma daquelas canções que já reconhecemos nas primeiras notas – “Killer Queen”, notavelmente difícil de tocar e cantar, mas que o músico tira de letra. No último verso de “wanna try?” (“quer provar?”) que antecede o solo de guitarra, Marc levanta-se do piano e provoca o público: “How about you, crazy brazilians, wanna try?!” (“E vocês, brasileiros doidos, querem provar?!”), arrancando gritos da plateia. Encerrando a performance com uma pose de bailarino clássico, Marc interage bastante com os fãs, perguntando quem está vendo pela primeira vez, e comentando que, ao contrário do que muitos possam estar acostumados, nessa noite não haveria jaqueta amarela, shortinho minúsculo, nem outros itens cenográficos – apenas música, sendo tocada entre amigos que curtem Queen, tanto quanto o público. E sendo assim, pede a participação de todos para a próxima faixa – “Under Pressure”, dueto mega famoso originalmente gravado com David Bowie, parte que aqui cabe a Tristan. É um pouco estranho que não seja o baterista cantando, como normalmente teria sido com Roger Taylor presente, mas o guitarrista prova que também manda muito bem nos vocais e assim abrilhanta a execução da faixa. Marc também não decepciona nem mesmo na altíssima nota aguda imortalizada por Freddie, que frustra muitos cantores iniciantes ao tentarem alcançá-la.
Tristan segue literalmente em destaque, super iluminado por holofotes para a intro cheia de efeitos especiais de “Kind of Magic”. Com os backing vocals da banda um tanto quanto baixos, cabe ao público complementar e cantar junto. Dando continuidade, “I Want to Break Free” é executada em sua versão “radio edit”, sem o interlúdio após o solo de guitarra. Ao término da faixa, a banda continua tocando um ‘som ambiente’ de fundo enquanto Marc divaga sobre o quão insano é pensar que mais de 50 anos após o surgimento da banda, tanta gente estava reunida ali aquela noite para ver o “não-Queen” tocando para ela. Sempre muito humilde e se colocando em posição de fã, o cantor comenta que as músicas deles realmente têm algo de mágico que mudou a história da música, e atribui parte disso ao guitarrista e compositor Brian May, que também é astrofísico, e “transcreve os mistérios do universo para suas músicas”, como em “Who Wants to Live Forever”, que é uma de suas preferidas. Puxando a próxima faixa, os músicos então entoam o coro inicial de “Fat Bottomed Girls”, com uma pausa dramática antes da entrada dos vocais de Marc.
Enquanto a banda se retira brevemente, o cantor segue contando um pouco sobre sua trajetória e menciona que, ao contrário do que muitos possam crer, ele não cresceu ouvindo Queen, mas que sua vida nunca mais foi a mesma depois dele perceber que realmente, “aquele homem realmente soava parecido comigo”, diz ele, ironicamente, arrancando risos da plateia; e que, de maneira geral, todo mundo conhece umas duas músicas de Freddie, mas nem todos conhecem a favorita do próprio compositor lendário: “Take my Breath Away”. E assim, Marc volta ao piano para um momento solo, e literalmente tira o fôlego da plateia com a belíssima balada. Após calorosos aplausos, os músicos vão retomando seus lugares e é chegada a hora do hino: nada mais, nada menos do que “Bohemian Rhapsody”, que dispensa qualquer introdução e é cantada em uníssono pelo público.
Após breve pausa, o telão se acende em luzes multicoloridas e a banda retorna com um medley de “Flash” e “Death on Two Legs”, para então engatar mais vários hits da carreira do Queen: “I want it all”, na qual Marc pega o violão, já aproveitando a deixa para “Crazy little thing called Love”, levando o público a acompanhar com palmas e alguns casais a dançarem juntos estilo “rockabilly”. A versão contou ainda com um solo de teclado de Brandon no final. Em “Another one bites the Dust”, Marc puxa a participação da plateia com o clássico “Ê Ô” – “Are you having fun?” (“Estão se divertindo?”), e após a brincadeira, deixa o palco para uma performance solo de Tristan que não poupa distorções, efeitos especiais, harmonização em oitavas e até mesmo toca com a guitarra por cima da cabeça, com trechos de “Who Wants To Live Forever” e “God Save The Queen”, o hino da Inglaterra. Terminando de joelhos, o músico é ovacionado, e para surpresa de todos, na faixa seguinte – a divertida “Seaside Rendezvous”, abandona um pouco seu instrumento principal para tocar kazoo enquanto Marc se arrisca no sapateado. O ritmo segue dançante com “Don’t Stop me Now”, onde o público acompanha com palmas as batidas do pandeiro meia-lua de Marc. E para retomar o fôlego, somos presenteados com uma linda performance de “Love of my Life” ao piano. Marc se impressiona com o fato dos brasileiros saberem a letra completa, dizendo que nunca viu tanta gente cantando a segunda estrofe. Muitos fãs se emocionam e abraçam seus familiares e parceiros, e após secarem as lágrimas, todos estão prontos para “Radio GaGa” e o teste de palmas sincronizadas.
Antes do bloco final, Marc agradece e enaltece sua banda, contando que vive um sonho em estar ali performando com caras que aprenderam com o próprio Queen; também arranca gritos da plateia ao dizer que adora excursionar pela América Latina e que os brasileiros são os melhores fãs. E então, anunciando a próxima faixa como a única música gospel que Freddie escreveu – algo muito significativo para ele, que também cresceu nesse ambiente – Marc divide o público do mezanino e da plateia em dois grupos de corais para a execução de “Somebody to Love”. “Do you want more songs?” (“Vocês querem mais músicas?”), pergunta ele, enquanto retoma o fôlego; pergunta retórica que obviamente encaminha o show para o encerramento com “We will Rock You” e “We Are the Champions”.
Sem dúvida uma homenagem respeitosa e à altura de uma banda com tanta história, que deixa claro que o Queen atravessou e ainda atravessará muitas gerações. Segundo relatos de fãs na saída do Terra SP, alguns dos músicos se dispuseram ainda a tirar fotos e dar autógrafos para deixar uma lembrança ainda mais especial do show no coração de cada um.
Setlist:
One Vision / Keep Yourself Alive / Bicycle Race
Hammer to Fall
You’re My Best Friend
Killer Queen
Under Pressure
A Kind of Magic
I Want to Break Free
Fat Bottomed Girls
You Take My Breath Away
Bohemian Rhapsody
Flash / Death on Two Legs
I Want It All
Crazy Little Thing Called Love
Another One Bites the Dust
Guitar Solo (Who Wants To Live Forever / Brighton Rock / God Save The Queen)
Seaside Rendezvous
Don’t Stop Me Now
Love of My Life
Radio Ga Ga
Somebody to Love
We Will Rock You
We Are the Champions