Resenha: Threshold – “Extinct Instinct” (relançamento)

Threshold sempre foi uma das bandas que, apesar de suas mudanças de formação, conseguiu se destacar no cenário do metal progressivo. Com “Extinct Instinct“, seu terceiro álbum com o vocalista original Damian Wilson, e relançado pela parceria Nuclear Blast/Shinigami Records, a banda nos leva a uma jornada sonora que reflete tanto a evolução musical quanto a complexidade emocional típica do gênero.

Desde o início, “Extinct Instinct” se revela como uma obra mais ousada e progressiva em comparação com seus antecessores. Após a saída de Glynn Morgan, que trouxe uma nova dimensão ao som da banda com o álbum “Psychedelicatessen”, Wilson retorna em um momento crucial, trazendo sua voz inconfundível e uma interpretação única que se entrelaça perfeitamente com a instrumentação rica e elaborada.

A faixa de abertura, “Eat the Unicorn“, é uma das mais emblemáticas do disco. A combinação de riffs intricados e a entrega vocal dramática de Wilson cria um clima cativante que só aumenta com os solos de guitarra de Karl Groom. O uso de sintetizadores vintage aqui é um toque que dá uma profundidade quase nostálgica à faixa, enquanto os preenchimentos de bateria de Mike Heaney elevam a intensidade, resultando em uma peça que é tanto técnica quanto emocional.

Em “Part of the Chaos“, a banda retoma a exploração de estruturas musicais não convencionais, utilizando guitarras acústicas em um começo sombrio antes de se lançarem em riffs pesados e atmosferas grandiosas. O crescendo da música é uma verdadeira demonstração da habilidade da banda em criar dinâmicas que mantêm o ouvinte atento e envolvido. A capacidade de Wilson de alternar entre momentos suaves e explosões vocais é um dos pontos altos da faixa, tornando-a uma das melhores do álbum.

Outra peça notável é “The Whispering“, que serve como um elo entre os álbuns anteriores e o presente. Com referências sutis a “Consume to Live”, a música destaca o canto menos exuberante de Wilson, que, em vez de se mostrar chamativo, traz uma nuance melódica fascinante. O refrão com vocais coletivos é um exemplo perfeito de como a banda consegue criar um som coeso, onde cada membro contribui para a grandeza da obra.

A balada “Forever” é uma reflexão sobre o passado, trazendo à tona uma fragilidade emocional que contrasta com as faixas mais pesadas. Embora não alcance a mesma intensidade que “Devoted”, ainda é uma demonstração do talento de Wilson como intérprete. Sua entrega vocal, sutil e introspectiva, vale a pena ser apreciada, mesmo que a canção em si não seja a mais memorável do disco.

Virtual Isolation” evoca uma sensação de nostalgia, enquanto “Lake of Despond” mergulha nas profundezas do som sombrio. Aqui, os riffs mais pesados e o baixo afundado criam um ambiente quase opressivo, que revela uma faceta pouco explorada da banda. Essa abordagem intensa é um testemunho do potencial da formação de Wilson e Groom, que, apesar das idas e vindas, sempre conseguiram capturar a essência do metal progressivo.

Extinct Instinct” se destaca não apenas por sua musicalidade refinada, mas também por sua habilidade de manter a identidade da banda em um momento em que muitas estavam tentando se moldar ao som bandas como Dream Theater. Threshold conseguiu não apenas se manter relevante, mas também se consolidar como uma referência respeitável no gênero, abrindo caminho para uma discografia que continuaria a crescer e evoluir.

Extinct Instinct” é um álbum que merece um lugar especial na história do metal progressivo dos anos 90. Com uma formação que, apesar das mudanças, sempre entregou qualidade e inovação, Threshold prova, mais uma vez, que sua música é atemporal e que sua jornada ainda está longe de terminar. A edição especial, com faixas bônus como “Mansion”, é um deleite adicional para os fãs e uma maneira perfeita de revisitar essa obra-prima.

NOTA: 7

Marcio Machado

Formado em História pela Universidade Estadual de Minas Gerais. Fundador e editor do Confere Só, que começou como um perfil do instagram em 2020, para em 2022 se expandir para um site. Ouvinte de rock/metal desde os 15 anos, nunca foi suficiente só ouvir aquela música, mas era preciso debater sobre, destrinchar a obra, daí surgiu a vontade de escrever que foi crescendo e chegando a lugares como o Whiplash, Headbangers Brasil, Headbangers News, 80 Minutos, Gaveta de Bagunças e outros, até ter sua própria casa!

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