Uriah Heep faz grande apresentação em comemoração cinquentenária no Tokio Marine Hall, em São Paulo
Texto por: Tiago Pereira
Foto: André Tedim
A banda inglesa de heavy metal, hard rock e rock progressivo, Uriah Heep, fez uma apresentação multigeracional de suas obras no Tokio Marine Hall, na Zona Sul de São Paulo, no dia 11 de dezembro, em meio a turnê sul-americana – South America Tour 2023 -, que passou por Chile e Peru e, um dia antes, passou por Curitiba, capital do Paraná.
O setlist de 15 faixas trouxe um forte encanto aos presentes que, apesar dos desníveis entre baixo e guitarra, não deixaram de cantar grandes sucessos da carreira de mais de 50 anos da banda. No entanto, a possível percepção daqueles que ficaram próximos do palco, na pista premium, era de uma guitarra mais baixa que os demais instrumentos dos integrantes, o que atrapalhou diretamente nos solos de Mick Box. Ainda assim, era um Uriah Heep totalmente à vontade e que soube cadenciar cada momento de cada instrumentista, com ótimas linhas de baixo, solos de teclado e viradas de bateria insanas, além da marcante voz de Bernie Shaw e as boas linhas de guitarra de Mick.
A pré-apresentação deu nuances de uma quantidade de pessoas considerável e que surpreendeu, apesar de os dois palcos não terem lotado por completo. Do lado de fora, havia um movimento fora do comum para horas e minutos antes do show, com muitas pessoas nos carrinhos de lanches e em rodas de conversa no entorno do local, além da fila consideravelmente grande. Dentro do local, no hall, mais rodas de conversa, pessoas que observavam o merchan da banda e apreciavam, com ou sem bebida, a primeira parte do pocket show da banda Mofo Jam, dentro do programa “Novos Talentos” e que cativou parte dos que esperavam pela atração principal. E na pista, da mesma forma, um público considerável que, nas duas pistas, estava o mais próximo possível das grades e, no mezanino, se assentava para aguardar o show.
Os primeiros testes dos instrumentos musicais ficaram evidentes a partir das 19h40. Não houve gritos do público, mas já havia uma aproximação daqueles que chegavam há poucos minutos do show.
O tradicional terceiro sinal do Tokio Marine Hall tocou às 20h08, num momento de pequeno atraso para o início da apresentação, que aconteceu dois minutos depois. Após uma breve introdução surge e os integrantes aparecem aos poucos. Em ordem, vieram Russell Gilbrook (bateria), Phil Lanzon (teclado e backing vocal), Bernie Shaw (vocal principal) e, juntos, Dave Rimmer (baixo e backing vocal) e Mick Box (guitarra e backing vocal).
“Grazed by Heaven” abriu o setlist, num momento em que a pista premium foi tomada de celulares para o alto e os primeiros sinais da guitarra baixa de Mick Box apareciam, comparado ao baixo alto e destacado de Dave Rimmer.
O que parecia algo passageiro se repetiu na faixa seguinte, “Take Away My Soul”. Antes disso, era possível ver o semblante feliz de Bernie Shaw, que deu um sonoro “obrigado” à plateia e fez o sinal de joinha com a mão, além de uma boa interação no apagar das luzes, em determinado momento da música. Na mesma segunda faixa, a interação dos presentes foi mais aguçada, com palmas rítmicas em alguns momentos da música e com ovações após a faixa. Foi em “Take Away My Soul”, também, que Russell Gilbrook começou a mostrar suas habilidades com mais destaque, em viradas potentes.
Foi a vez de Dave Rimmer se manifestar no microfone e agradecer a presença dos fãs. Já Mick Box completou, afirmando que era muito bom ver os brasileiros novamente – esta foi a quinta passagem da banda no Brasil.
Após os agradecimentos, foi a vez da banda tocar “Traveller in the Time”, como uma boa viagem no tempo dentro da faixa que compõe o álbum “Demons and Wizards”, de 1972. As linhas de baixo, apesar de ainda sobreporem à guitarra até mesmo no solo, foram destaque da música junto ao teclado de Phil Lanzon. “Between Two Words”, faixa de abertura do álbum “Sonic Origami” (1998), deu sequência com batidas de mãos do público e as últimas quatro batidas em um dos pratos a todo potencial.
Bernie Shaw quis e teve a confirmação da plateia sobre tudo estar bem. respondendo com um entonado “Fantástico”, em inglês. O frontman demonstrou uma opinião positiva sobre a turnê na América do Sul e deu sequência ao show com “Stealin’”, cujo riff do contrabaixo teve acompanhamento do público com novas palmas e a primeira grande demonstração vocal de conhecimento da faixa. Shaw também chamou os presentes para gritar “Screaming” dentro dos momentos adequados.
Em “Too Scared to Run”, Dave Rimmer se aproximou mais do público na pista premium e, da mesma forma que em outros momentos do show, sua sonoridade sobrepôs à guitarra de Mick Box, dessa vez com o acompanhamento da bateria. Era visível que alguns fãs da pista premium estranharam esta sobreposição e, além disso, cheguei a observar dois amigos tentando falar a mesma coisa no ouvido de cada um.
Já “Rainbow Demon” fez a banda retornar para 1972 e para o álbum “Demons and Wizards”. O início icônico de Phil Lanzon com seu kit de teclados deu o tom para o início da faixa, que teve acompanhamento ferrenho dos fãs no refrão. Em seguida, veio “Sweet Lorraine”, do álbum “The Magician’s Birthday, lançado no mesmo ano do anteriormente citado e com total destaque de Lanzon com um tom mais sintético e psicodélico, dentro de um contexto de rock progressivo. Esta foi, também, a faixa que puxou um tom mais dançante para quem estava nas pistas.
A banda puxou um momento heavy metal após o prenúncio dos integrantes. Desta forma, Mick Box trouxe um riff pesado para introduzir “Free ‘n’ Easy”, música que compõe o álbum “Innocent Victim”. Com o pouco uso do baixo no início do solo, Mick Box conseguiu um momento mais destacado para quem estava na parte frontal da pista, recebendo assim boa recepção do público.
“Gypsy” trouxe a banda para 1970, mais precisamente para o primeiro álbum da banda, “…Very ‘Eavy …Very ‘Umble”. A plateia voltou a cantar junto ao público, assim como o tecladista do Uriah Heep fez solos mais divertidos e encenações com as mãos, como se simulasse um concerto musical.
Em seguida, os músicos tocaram “Look at Yourself”, faixa que ficou mais longa por conta de um momento de jam misturado com a apresentação dos membros e nuances de solos bem executados por cada instrumentista. Bernie Shaw, em especial, citou Mick Box como seu amigo e que “sem ele, o Uriah Heep não existiria”.
Já em “July Morning”, faixa de “Look at Yourself” (1971), a introdução do tecladista deu o tom da faixa e o público veio junto aos vocais da banda, numa nova demonstração de acompanhamento. As diferenças de volume entre o baixo e a guitarra seguiram evidentes, mas com menos interferência nos momentos mais pontuais da música. O pré-descanso veio com “Lady in Black”, do álbum “Sailsbury”, do mesmo ano: o início acústico de Mick Box deu espaço para a banda sair rapidamente e voltar para dar sequência à faixa, novamente acompanhada pelos presentes no Tokio Marine Hall. Bernie Shaw brincou com o público, numa dinâmica de pedir para que os lados esquerdo, direito e o meio da plateia gritassem“Yeah” ao seu comando e no ritmo da faixa.
O encore, assim como em outros shows de bandas diversas em São Paulo, neste ano, foi um momento de descanso apenas para a banda, pois os fãs do grupo não pararam de ovacionar, assobiar ou aplaudir nos poucos minutos de pausa. Com a volta, Russell Gilbrook simulou batidas de coração com o pedal de seu kit, introduzindo assim a clássica “Sunrise” e recebendo o acompanhamento da banda e do público.
Para finalizar a noite, o Uriah Heep chamou a cantora Kátia Pardini, que ficou ao lado de Bernie, e o guitarrista Marcelo Frisoni, que entrou de forma mais discreta e tocou ao lado de Mick Box, para tocar “Easy Livin’”, em um ótimo dueto dos vocalistas e uma boa condução das guitarras.
Ao final do show, novamente a banda agradeceu a presença do público e demonstrou a felicidade e a reação positiva de uma noite que, por pouco, não foi de casa totalmente cheia – apesar de parecer muito, ao menos na pista premium. Na saída, o Mofo Jam seguiu a tocar no hall e entreteve aqueles que saíram de um grande show que, apesar das pequenas diferenças sonoras – talvez só percebidas para quem estava mais próximo, e não quem estava na pista comum ou mezanino -, marcou os fãs da banda e o próprio quinteto, numa noite impactante em pleno domingo.