Nevermore: 19 anos do lançamento de “This Godless Endeavor”

Em 2005 o Metal vivia um bom momento: novas bandas dando as caras e fazendo bons trabalhos, as antigas se redescobriram e voltaram a fazer bons discos. Os grandes festivais do verão no hemisfério norte dando espaço e voz para todos. E em 26 de julho, há 19 anos, o Nevermore lançava “This Godless Endeavor“, o sexto álbum da discografia dessa saudosa banda e que é tema do bate-papo desta sexta-feira.

E se em “Enemies of Reality”, um disco muito subestimado, a banda não obteve o sucesso esperado, depois do respaldo que “Dead Heart in a Dead World” proporcionou, a banda resolveu usar novamente a mesma fórmula utilizada. Saem as músicas extremamente agressivas de “Enemies” e volta o virtuosismo de “Dead Heart”.

Após a péssima experiência com o produtor Kelly Gray, os caras apostaram na “bola de segurança”, trazendo o competentíssimo Andy Sneap para produzir “This Godless Endeavor”. E que conhece a banda já sabe, a combinação Nevermore + Andy Sneap nunca deu errado. O cara já havia sido chamado para consertar os erros cometidos no disco anterior, com muito sucesso, então era a aposta mais que acertada para este play.

Em entrevista à época, o guitarrista Jeff Loomis afirmou que “This Godless Endeavor” não é exatamente um álbum conceitual e sim um disco “tópico a tópico”, com letras que tratam de problemas da vida real, que podem se referir a perda de identidade, o sistema em que vivemos, o significado da vida, a denúncia de Deus como solução para todos os problemas causados pelos conflitos que as religiões travaram ao longo dos tempos.

Loomis tinha novamente um companheiro na guitarra, após gravar sozinho todas as suas partes em “Enemies of Reality”; Steve Smuth assumiria a segunda guitarra e ficaria na banda até ser disgnosticado com insuficiência renal, um ano depois. Então todos foram até a cidade de Derbyshire, mais precisamente no “Backstage Recording Studios”, de propriedade de Andy Sneap e que fica no Reino Unido, onde permaneceram por lá entre os meses de fevereiro e abril de 2005. E saíram com esta pérola.

Ai o ouvinte dá play e toma um susto nos primeiros segundos da música “Born“. E você pensa que é a trilha sonora do fim do mundo. Aquela bateria descaradamente Death Metal de Van Williams, junto com os riffs da nova dupla de guitarristas, Jeff Loomis e Steve Smyth, provavelmente os melhores riffs que Loomis compôs frente ao Nevermore. Lembro-me quando cheguei na loja para comprar o disco e pedi para que o vendedor colocasse o CD para rolar um pouco, só para saciar a minha curiosidade. Ai na hora eu imaginei que a “Century Media” tivesse cometido o erro de colocar um outro disco na capa errada. Mas logo Warrel Dane entra com sua voz e me mostra um Nevermore tão raivoso quanto em seu álbum anterior. Mesmo que o refrão dê uma quebrada nessa raiva, mas esta é uma ótima faixa de abertura. Uma das melhores da banda em minha opinião.

Final Product” foi a primeira faixa que eu conheci deste play, os caras fizeram um videoclipe oficial e enquanto a bolacha não saía, eu a escutava até não querer mais. E ela é uma faixa típica do Nevermore: Moderna, pesada, com bons riffs e muita influência do Prog Metal. Excelente.

My Acid Words” é uma música que te engana. Ela começa com uns riffs mais cadenciados, e você pensa que vai ser uma música arrastada até o final, só que não. Ela logo ganha velocidade e aqui quem dita o ritmo é Van Williams e sua bateria rápida. No final, a música volta a ser mais cadenciada como na intro. Muito boa também.

Bittersweet Feast” dá uma quebrada no disco, com seu clima denso e nem tão rápido quanto as faixas anteriores, mas isso não quer dizer que ela seja uma música ruim, ao contrário, ela é pesada e aqui quem brilha é Warrel Dane com sua belíssima voz. Destaque também para Van Williams, que sempre considerei um grande baterista, mas o ápice de sua performance foi aqui em “This Godless Endeavor”.
Sentient 6″ é uma espécie de continuação da “The Learning”, lançada 9 anos antes, lá o “The Politics of Ecstasy”. E isso era dito pelo próprio Warrel Dane em entrevistas da época. E as músicas se parecem mesmo, se conectam. É uma música sombria, pesada, linda. O final épico, arrepia qualquer ouvinte. E era presença obrigatória nos shows.

Medicated Nation” foi outra que me agradou de cara, com seu peso, aliada aos vocais incomparáveis de Warrel Dane. E a letra inteligentíssima, crítica, ácida. “The Hollocaust of Thought” é uma faixa instrumental, que conta com a participação do guitarrista James Murphy fazendo um solo, que ficou interessante. E ela é uma ponte para a faixa que vem a seguir…

… “Sell My Heart for Stones” é uma espécie de balada. E o fã de Nevermore já sabe como a banda encarava suas baladas. Com muito peso. E aqui temos uma música pesada, densa, sombria, tudo dosado de forma cirúrgica. O solo é mágico. E o clima desta música lembra bastante o de “Insignificant”, lançado em “Dead Heart in a Dead World”. Destaque também para o trampo de Jim Sheppard no baixo. Pesadíssimo.

The Psalm of Lydia”, que é uma música excelente, mesmo que ela fuja um pouco do som característico do Nevermore. Ela é pura e simplesmente Heavy Metal, pesada, podemos dizer que há flertes com o Hard Rock, mas somente breves flertes. Os riffs da introdução são maravilhosos, bem como os arpeggios de Loomis que antecedem a entrada do vocal.

Os acordes de violão e a voz de Dane, bem calmos, na primeira estrofe de “A Future Uncertain” nos fazem pensar que estamos escutando uma música mais folk. Ledo engano, logo logo as guitarras tomam conta de tudo novamente, e um Van Williams possuído com suas viradas espetaculares dão um brilho incomum a esta música. Destaque também para o baixo de Jim Sheppard, sempre competente.
E a faixa título, que encerra de forma brilhante o disco homenageado de hoje, tem um início bem semelhante à música anterior: violãozinho bem calmo e a voz de Dane, mas logo Jeff Loomis pede licença e é ele quem brilha com suas bases e seus solos arrebatadores, na música mais épica da carreira da banda. Não é a toa que esta era a faixa de fechamento dos shows.

E assim se dá essa obra maravilhosa, que em 57 minutos deixa o ouvinte bastante satisfeito. Mesmo que esse disco não seja perfeito como “Dead Heart in a Dead World” nem tão raivoso quanto “Enemies of Realitu”, ele é importante na discografia do Nevermore e indispensável na coleção de quem admira o Heavy Metal moderno, E “This Godless Endeavor” marca uma época em que a banda esteve entre as mais importantes e em mais evidência na cena.

O aniversariante de hoje foi bem recebido pela crítica, inclusive o site alemão “Hard Rock” o elegeu como o melhor e mais intenso álbum de Heavy Metal da década. E garantiu boas colocações em alguns charts mundo afora: 11º na categoria “US Top Heatseekers” e 23º no “US Independent Albums”, ambos da “Billboard”; 26º na Alemanha; 73º na Holanda e 134º na França. Além disso, o clipe de “Born” foi bem divulgado, sobretudo no programa Headbangers Ball.

A banda realizou uma extensão turnê, que incluiu aparições em grandes festivais, como o icônico Wacken Open Air e culminou com uma apresentação histórica em Bochum, Alemanha, onde 666 felizardos puderam testemunhar uma apresentação que foi gravada e se tornou o CD/ DVD ao vivo “The Year of the Voyager“, lançado somente no ano de 2009. Nesta oportunidade, Steve Smyth havia deixado a banda em virtude de problemas de saúde e em seu lugar estava o competente Chris Broderick, que já havia partido para o Megadeth quando este play ao vivo foi lançado.

Foi também durante a turnê do aniversariante do dia que o Nevermore passou pela segunda e última vez pelo Brasil, em 2006. A banda já havia desembarcado por aqui cinco anos antes, divulgando o seu álbum “Dead Heart in a Dead World“, quando se apresentou em São Paulo e Curitiba, acompanhado do Krisiun e do Necromancia. Agora a apresentação era pelo festival Live N’ Louder, em São Paulo. A triste curiosidade foi o fato de a mãe de Warrel ter falecido na véspera da apresentação e ainda assim, ele subiu ao palco e honrou o compromisso com os fãs brasileiros que ali aguardavam pela banda.

Uma pena que os conflitos internos dentro da banda tenham forçado a separação dos integrantes e com a morte da Warrel Dane, nós nunca mais teremos a oportunidade de vê-los ao vivo. Para um fã que nunca viu a banda ao vivo, como este que vos escreve, é um tormento que levarei comigo ao túmulo. Mas me faço por satisfeito por poder ter espaço aqui neste site onde eu posso expressar a importância não só deste disco, mas de toda a obra Dane e seus companheiros realizaram. Por isso este disco se faz digno desta homenagem no dia de hoje.

This Godless Endeavor – Nevermore
Data de lançamento – 25/07/2005
Gravadora – Century Media

Faixas:
01 – Born
02 – Final Product
03 – My Acid Words
04 – Bittersweet Feast
05 – Sentient 6
06 – Medicated Nation
07 – The Hollocaust of Thought
08 – Sell My Heart for Stones
09 – The Psalm of Lydia
10 – A Future Uncertain
11 – This Godless Endeavor

Formação:
Warrel Dane – vocal
Jeff loomis – guitarra
Steve Smyth – guitarra
Jim Sheppard – baixo
Van Williams – bateria

Participação especial:
James Murphy – guitarra em “The Hollocaust of Thought”

Flávio Farias

Fã de Rock desde a infância, cresceu escutando Rock nacional nos anos 1980, depois passou pelo Grunge e Punk Rock na adolescência até descobrir o Heavy Metal já na idade adulta e mergulhar de cabeça na invenção de Tony Iommi. Escreve para sites de Rock desde o ano de 2018 e desde então coleciona uma série de experiências inenarráveis.

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